O essencial e desvalorizado papel do dentista nas UTIs

Em 24 de fevereiro de 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução no Diário Oficial da União que estabelecia os serviços que devem ser oferecidos numa unidade de terapia intensiva (UTI). No documento, foram definidos os tipos de assistência que devem ser disponibilizados aos pacientes internados. E constatou-se, na seção IV,  que a odontológica também fazia parte do rol.

Entretanto, quase oito anos depois, a maior parte dos hospitais públicos, privados e filantrópicos ainda não conseguiram se adequar à resolução. Essa adaptação deveria ter acontecido até 2013. Teoricamente, todas as UTIs deveriam ter em seu corpo assistencial pelo menos um profissional de cada especialidade citada – inclusive um dentista.

Propostas que tratam sobre a presença de cirurgiões-dentistas nas UTIs tramitam na Câmara há pelo menos 10 anos

Em 2008, surgiu um projeto de lei que pretendia estabelecer a obrigatoriedade de um profissional da odontologia nas UTIs. Ao passar pela Comissão de Seguridade Social e Família, foi incrementado: pretendia tornar obrigatória a assistência odontológica não apenas aos pacientes das UTIs, mas também, para quem se encontrar em algum regime de internação. Dessa forma, pacientes internados em hospitais ou em suas residências, receberiam auxílio odontológico.

Em 2015, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) publicou sua resolução de número 162, que reconhecia o exercício da Odontologia Hospitalar e a transformava em uma nova área de atuação e especialização. Com a medida, o órgão reconhecia que a atuação odontológica na área hospitalar possui como objetivos a “promoção da saúde [bucal], prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças orofaciais, de manifestações bucais de doenças sistêmicas ou de consequências de seus respectivos tratamentos”.

Currículos dos cursos de graduação dão pouca atenção ao tema

A criação de cursos de especialização em Odontologia Hospitalar é uma tentativa de compensar a pouca atenção que a área recebe dentro da graduação. De modo geral, os currículos  de Odontologia não dão ênfase ao atendimento de pacientes com problemas de saúde generalizados. E, como resultado, não oferecem o devido aporte científico em clínica médica.

Dentro dos hospitais, nota-se que a falta desses profissionais resulta em protocolos errôneos ou mesmo na ausência deles. Um estudo realizado em nove hospitais do Sul do Brasil revelou que, em geral, as equipes das UTIs dessas instituições tinham dificuldade em realizar a higiene bucal dos pacientes. Isso se de dá “por conta da ausência de treinamento e de protocolos adequados”. Em alguns casos, o procedimento sequer era realizado diariamente em todos os doentes.

“A boca é capaz de disseminar infecções e complicações para todo o organismo, e não apenas para si mesma. Um problema bucal pode resultar na complicação da diabetes, no agravamento de doenças cardiovasculares e no parto prematuro em gestantes”, lembrou o Dr. Rodrigo Bueno de Moraes, cirurgião-dentista e membro da Associação Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB) em entrevista à TV Brasil.

Segundo estimativa, hospitais economizariam com dentistas nas UTIs

Atualmente, o desafio ainda é a conscientização sobre a importância da Odontologia dentro das UTIs. Estima-se que os hospitais gastem mais com os agravamentos de quadros clínicos originários de problemas bucais, do que gastariam com a contratação de dentistas. Por isso, trata-se de um modus operandi pouco inteligente para as instituições e muito prejudicial aos pacientes.

Dr. Jayro Guimarães Junior, em entrevista ao blog Biossegurança, citou: “para que a Odontologia se afirme no ambiente hospitalar e entre os colegas das demais profissões de saúde, os cirurgiões-dentistas devem estar científica e pragmaticamente aptos para atender às requisições da área.”

Na prática, a interdisciplinaridade deve direcionar sua atuação nas UTIs de modo que a prevenção seja tão relevante quanto a cura. Sobretudo em relação ao trabalho do cirurgião-dentista nesses ambientes. Mais do que isso, é necessário que os hospitais estejam estruturados e que os dentistas desenvolvam a formação adequada. Além disso, é importante a consciência importante papel que possuem e de como desempenhá-lo com excelência.

Fontes: Agência Câmara Notícias, Câmara dos Deputados, TV Brasil, Blog Biossegurança, Revista Brasileira de Terapia Intensiva.

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