O sucesso e saúde de um dente tratado endodonticamente depende de muitos fatores como um correto diagnóstico, uma instrumentação completa de todo o sistema de canais radiculares, uma desinfecção e medicação intracanal, da obturação hermética correta e finalizando de uma blindagem e restauração dos dentes que foram concluídos.
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A maior parte das causas que levam a extração dos dentes com tratamentos endodônticos são dentes com falhas restauradoras, onde existiu recontaminação do sistema de canais radiculares e a endodontia falhou. Por isso, essa etapa não deve ser negligenciada e é de suma importância. A qualidade da restauração definitiva e as orientações para que o paciente sempre retorne para consultas de acompanhamento são superimportantes para a longevidade dos dentes em que fazemos os tratamentos endodônticos.
Após a conclusão de um tratamento endodôntico, o dente precisa retornar as suas funções mastigatórias e estéticas o mais rápido possível, desta forma, o conhecimento de como blindar e restaurar um dente é de suma importância para o endodontista ou o profissional que trabalhe com endodontia. O endodontista deve ao menos conhecer e estudar sobre adesão e materiais restauradores, para poder indicar o que poderá ser feito nos dentes de seus pacientes.
O objetivo deste artigo não é falar sobre restaurações de dentes em curativos entre sessões (que com certeza devem ser resistentes e feitas também com resinas compostas) mas sim, discutiremos aqui os procedimentos restauradores finais em uma endodontia que não necessite de um retentor intra-radicular.
Fraturas das restaurações se forem feitas de forma provisórias, com materiais pouco resistentes, podem comprometer as endodontias, ocorrendo a recontaminação dos canais e dependendo do tempo decorrido necessitar de uma reintervenção devido a contaminação ocasionada.
O que é blindagem?
São procedimentos que visam o preparo da dentina para receber os procedimentos restauradores pós endodontia. Dentre estes procedimentos estão a limpeza dos resíduos de cimentos endodônticos e guta-percha usados na endodontia, regularização das paredes com polimento das paredes internas ou também em caso de necessidade, uso brocas de baixa rotação de forma suave ou insertos ultrassônicos para qualificar a dentina (ter uma dentina de qualidade) para poder receber os materiais restauradores adesivos.
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Em seguida, podemos fazer o condicionamento ácido (com ácido fosfórico 37%), enxaguamos com água destilada de nossa seringa tríplice, então, fazemos o uso de um sistema adesivo universal autocondicionante ou adesivo com primer ácido e adesivo, para depois usar as resinas compostas de nossa eleição e que iremos discutir neste artigo. A limpeza da câmara pulpar também previne um possível escurecimento da coroa dental, contribuindo para a estética dental.
Os limites de atuação do endodontista
Cabe ao endodontista, proteger o dente em que fez o tratamento endodôntico. A endodontia termina quando protegemos com algum procedimento restaurador, os canais que já realizamos a obturação final. O endodontista não precisa ser o responsável pela restauração estética final do paciente, mas, deve entender de adesão e de quais medidas pode tomar para que o dente em que fez a endodontia tenha uma maior longevidade.
Dentro de diversas filosofias restauradoras que incluem restaurações, uso de retentores em fibra de vidro ou metálicos e da biomimética dental, o cirurgião deve escolher a conduta que irá tomar e conversar com o paciente sobre todas as possibilidades de tratamentos fazendo um planejamento integrado. A quantidade de remanescente dental é que irá determinar o tratamento a ser realizado.
Devemos entender os limites entre o início e o término do tratamento endodôntico e conhecendo estes limites podemos aumentar a taxa de sobrevivência de um dente fazendo a blindagem dos mesmos após a conclusão da endodontia. O endodontista possui amplo conhecimento anatômico do dente em que tratou, manterá a cadeia asséptica, fará um melhor selamento e evitará desgastes desnecessários.
O que não usar para blindagem e restauração após o tratamento endodôntico
Materiais temporários apresentam uma série de limitações como:
- pouca habilidade de impedir infiltração;
- não apresentam potencial de suportar cargas mastigatórias e nem ao desgaste;
- não protegem o remanescente dental contra fraturas.
Isto faz com que o dente fique suscetível a fratura por falta de proteção tecidual e de infiltração por deterioramento dos bordos do material temporário. Devemos escolher materiais adesivos e evitar materiais temporários.
O IRM, por exemplo, deve ser evitado, pois é usado com o eugenol que interfere e inibe a reação de polimerização da resina composta, não sendo indicado como base cavitária.
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O coltosol provisórios precisa da ação da saliva para o seu endurecimento, desta forma, não podemos ter saliva no interior de um dente tratado endodonticamente. Ele também não possui estabilidade dimensional, podendo penetrar nos túbulos dentinários atrapalhando a adesão futura, é permeável e se expande, podendo causar fratura da estrutura dental, não sendo ideal para restaurações pós endodontia.
Da mesma forma restauradores provisórios como Villevie, Cimpat, Lysanda, Maquira, Allplan, Fill temp e similares não possuem estabilidade dimensional e resistência para serem deixados após a conclusão de nossas endodontias. Os materiais restauradores provisórios fotopolimerizáveis também não são indicados pois de acordo com as recomendações de seus fabricantes, são usados sem condicionamento ácido e adesivos, não tendo efetiva adesão desta maneira.
A proteção feita pelo endodontista
Para diminuir estas possibilidades de micro infiltração devido as limitações de selamento dos restauradores temporários, tem sido preconizada a utilização de materiais na entrada dos canais para que funcionem como um adicional de selamento para compensar as limitações dos cimentos obturadores e guta percha. A utilização de materiais pós-obturação do canal para fazer um núcleo de preenchimento desde a entrada dos canais com materiais restauradores adesivos é a melhor recomendação.
Este procedimento pode ser realizado com materiais convencionais que os profissionais têm disponíveis para procedimentos restauradores. Uma resina flow, inicialmente, é uma ótima opção, porém devemos conhecer a parte mais crítica que é o manuseio técnico obedecendo as características destes materiais.
Resina Flow
A resina flow (figura 1) apresenta um índice de contração superior as resinas convencionais com carga, geralmente 2 vezes mais. Para contornar esta situação, camadas extremamente finas devem ser utilizadas na entrada dos canais. Também deve ser observado que, em uma necessidade futura de se utilizar os canais para retenção de pinos, uma resina de cor clara ou pigmentada (figura 2) seria previsível para criar um contraste com a dentina e evitar desgastes desnecessários e comprometer estruturalmente o dente quando de uma nova reintervenção.
Figura 1
Figura 2
Modo de uso
- A aplicação de ácido fosfórico e adesivo dental deverá seguir o protocolo dos respectivos produtos utilizados.
- Aplicação com a própria agulha ou ponta aplicadora diretamente na região das embocaduras dos canais já limpos e qualificados e fotopolimerização de acordo com a recomendação do produto utilizado.
- Após a aplicação da resina flow, aplicar a resina composta de escolha convencional com a técnica incremental para controlar o grau de contração (Fator “C”).
Resina Bulk Fill
Outro material que pode ser muito utilizado são as resinas chamadas Bulk Fill que se apresentam com a possibilidade de serem usadas em incrementos maiores de 5mm de espessura e estão disponíveis no mercado em duas viscosidades: Pasta ou fluida. Esta resina admite a fotopolimerização efetiva de camadas de até 6 milímetros, sem qualquer implicação na contração de polimerização.
Para as embocaduras dos canais podemos usar as resinas Bulk Fill de consistência fluidas (figura 3) que podem ser levadas com pontas aplicadoras de bicos finos (SDR Denstply) e depois podemos complementar a cavidade, em caso de necessidade com a Bulk Fill em forma de pasta (figura 4) ou alguma resina composta convencional.
Figura 3
Figura 4
Modo de uso
- A aplicação de ácido fosfórico e adesivo dental deverá seguir o protocolo dos respectivos produtos utilizados.
- Aplicação com a própria agulha ou ponta aplicadora diretamente na região das embocaduras dos canais já limpos e qualificados e fotopolimerização de acordo com a recomendação resina bulk fill flow.
- Após a aplicação da resina bulk fill flow, aplicar a resina composta bulk fill pasta ou a resina de escolha convencional com a técnica incremental para controlar o grau de contração (Fator “C”).
Resinas duais de preenchimento
Existem algumas resinas especificas para núcleos de preenchimento denominadas resina core (figura 5). Podem ser usadas e, devido as suas boas propriedades de escoamento, resistência a compressão e de apresentarem cura dual, tornam-se práticas. Estas resinas foram introduzidas para se confeccionar núcleo de preenchimento coronário.
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Geralmente apresentam-se em seringas de corpo duplo, pontas auto misturadoras e pontas aplicadoras finas e longas que permitem leva-las em regiões de acesso difícil, como a entrada dos canais, justapondo-as a guta percha da obturação. O ideal que antes de sua aplicação se use um adesivo próprio para serem usados com estas resinas duais.
Figura 5
Outra possibilidade é utilizar cimento de ionômero de vidro (figura 6), levando-o com pontas centrix de maneira semelhante as resinas. Para isso se torna indispensável que seja um material de boa qualidade. Após o uso em camadas mais profundas, o endodontista pode esperar a presa ou fotopolimerizar (no caso se ele for fotopolimerizável) e realizar os procedimentos adesivos e restauradores de forma convencional.
Figura 6
A blindagem e selamento coronário não significa que o endodontista irá fazer uma restauração final definitiva. O endodontista pode fazer um reforço coronário e blindagem e vedamento das embocaduras e soalho de câmara pulpar. Quando o indicador ou especialista em dentística for executar o procedimento restaurador, basta somente remover em torno de 3mm do material restaurador que colocamos e refazer o procedimento com toda a anatomia e habilidade que lhe é peculiar, cabendo ao endodontista o preenchimento com materiais de excelente qualidade e conhecimento em adesão.
Sobre a autora:
Milena Perraro | @milenaperraro
Doutora em endodontia USP Bauru;
Mestre e Especialista em endodontia;
Especialista em Implantodontia e Saúde Coletiva e da Família;
Professora de pós graduação Instituto Cemo (Balneário Camboriú – SC).
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