Câncer bucal provocou 4 mil mortes por falta de higiene oral

Os números de óbitos causados pela endocardite bacteriana e o câncer de cavidade oral são alarmantes. Somente em 2017, o câncer bucal teve 14 mil novos casos e 4 mil mortes. O presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, Claudio Yukio Miyake, afirma que “a maior dificuldade de tratar esse câncer é a falta de informação”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o maior agente causador da doença é o fumo, mais de 90% dos casos de câncer bucal estão relacionados ao tabagismo, principalmente para os homens. “É aquela história de hábito. No Brasil, as pessoas fumam mais no intervalo do trabalho – o almoço e o cafezinho”, esclarece o vereador santista e diretor do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, Braz Antunes Mattos Neto (PSD). O Brasil está na terceira posição em câncer bucal, após Índia e República Tcheca.

Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), aliado ao álcool, o cigarro provoca dez vezes mais chance de câncer de cavidade oral. Antunes ainda relaciona que também contribuem para a enfermidade a exposição desgastante ao sol, responsável pelo câncer de lábio, próteses dentárias mal afixadas e, até, refluxo gastresofágico.

Claudio, presidente do CRO-SP, alerta sobre este assunto tão importante: “As pessoas acham que é só uma feridinha, que não deveriam dar atenção e, quando procuram o especialista, o caso já está em estágio avançado”. E menciona que o crescimento no registro de casos é sinal de que a detecção está eficaz, o objetivo maior, agora, é reduzir mortes.

Nove em cada dez pacientes com câncer podem se curar, se detectado nas fases iniciais.

Estatísticas do INCA até 2019 

A informação do INCA é que somados os números de 2018 e 2019, serão 23 mil novos casos de câncer da cavidade oral expostos em homens e 7 mil em mulheres; 45% das doenças cardíacas provém de descuido na saúde bucal. “É preciso esclarecer que o crescimento de casos, em um primeiro momento, não é um mau sinal. Pelo contrário quer dizer que estamos detectando e encaminhando para tratamento. Por enquanto, é bom ver esse número crescer”, comenta Miyake. “O que temos de combater é o índice de óbitos. Aumentando as detecções, tratamos e prevenimos as mortes. Depois, em mais alguns anos, lutamos para reduzir o número de casos também”.

Fique atento aos Perigos e Cuidados:

– Sem escovação adequada, bactérias proliferam na boca;

– Através de qualquer machucado, podem atingir a corrente sanguínea;

– Chegando ao coração, se instalam no endocárdico comprometendo o funcionamento das válvulas cardíacas;

– O problema se agrava em pacientes cardíacos e pode matar.

Procedimentos de Risco:

– Extração dentária;

– Implante;

– Rasgagem periodontal;

– Endodontia (canal);

– Ortodontia.

Prevenção:

Ir ao dentista regularmente;

– Utilizar o fio dental;

– Escovação diária e correta.

Atendimento e prevenção pelo SUS têm importância

Contra as doenças bucais, é fundamental a participação das autoridades em políticas para melhorar o serviço odontológico à população. Em Santos, segundo o vereador Braz Antunes, tem ocorrido ações para oferecer atendimento pelo SUS. “Já temos os Centros de Especialidades Odontológicas, o CEOs, onde todos podem se tratar gratuitamente”. O próximo passo é um projeto lei apresentado pelo vereador, no qual sugere atendimento odontológico obrigatório em unidades de terapia intensiva (UTIs). “É um momento em que o paciente está fragilizado, a boca é um chamariz para vírus e bactérias. Com uma escovação ruim e a saúde descuidada, potencializam-se as chances de pegar uma infecção”, explica.

Ação federal

A preocupação do Conselho Regional de Odontologia é que a mudança na regra de repasse federal ao SUS, feita em 2017, prejudique a parcela destinada à Odontologia. “Até então, a verba do Ministério da Saúde vinha carimbada, estipulando a porcentagem para cada especialidade. Agora, quem decide são as prefeituras. Podem acabar priorizando outras áreas e investindo menos nessa”, observa Claudio Miyake. O conselho também defende ação federal quanto à higiene bucal e à distribuição de escovas e pastas. “É tão necessário quanto fornecer preservativos e remédios, porque, nas famílias mais carentes, há uso coletivo de escovas de dentes, o que não é saudável, pela troca de germes”.

HPV também pode causar moléstia

O índice entre jovens e idosos que apresentam o Papiloma Vírus Humano (conhecido pela sigla HPV) é alto, e está entre um dos responsáveis pelos casos de câncer bucal no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD), o motivo é a mudança de comportamento nas relações sexuais. “O HPV é um vírus altamente transmissível e não necessariamente precisa da prática do sexo em si. A contaminação pode acontecer apenas com o contato bucal sem preservativos nas regiões infectadas”, afirma o presidente do ABCD, Silvio Cecchetto.

Um dos dados que está preocupando os médicos é, que, além dos jovens, o número de idosos com HPV está crescendo. “Até por não ter mais condições fisiológicas de gerar filhos, os idosos em termos de (utilizar) preservativos podem não achar mais necessário e, por isso, passaram a fazer parte dos dados de contaminação”. Na cavidade oral, o vírus atua criando verrugas na região do palato (céu da boca) e na garganta. Essas infecções podem se transformar em câncer. “Não existe apenas uma causa de câncer bucal. O HPV é uma delas. Somando a uma higiene pobre, alimentos gordurosos, açucarados demais, as chances aumentam. Em caso de ferida que não tenha curado em 10 ou 15 dias, é recomendável procurar um especialista”, Silvio adverte.

Endocardite bacteriana, difícil de tratar

A endocardite bacteriana é outra doença grave derivada de maus hábitos de higiene bucal. Ela acontece quando as bactérias na boca atingem o sistema circulatório, prevalecendo-se das aberturas de feridas na gengiva. “Os micro-organismos seguem na corrente sanguínea até o coração e comprometem a ação das válvulas cardíacas, responsáveis por controlar o fluxo de sangue na parte interna do coração e para o resto do corpo”, explica o presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), José Francisco Kerr Saraiva.

Essa doença é difícil de ser tratada com injetáveis e nem sempre tem bons resultados, “por serem pouco vascularizadas, as válvulas necessitam de muitas aplicações para qualquer chance de cura. Geralmente, o tempo de tratamento é acima de oito semanas”. O especialista conta que, apesar dos números de morte serem grandes devido à endocardite, não são em todos os casos que a doença é evidenciada como fator principal. “Os índices de óbitos são vagos e acabam sendo mascarados por outros motivos”, finaliza.

Kerr lembra de fatores básicos e importantes na prevenção de doenças cardíacas: a escovação e o acompanhamento de um profissional. “Por isso, são fundamentais as campanhas públicas. Do contrário, a gente só se lembra de ir ao dentista quando começa a doer”.

Fonte: www.atribuna.com.br – Isabel Franson.

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