Caso clínico: tratamento de necrose labial

A face humana é um sistema complexo que deve ser entendido plenamente na profissão odontológica. Cabe a nós, profissionais, ter conhecimento de pontos anatômicos dentro do campo orofacial e relacioná-los não só com o viés estético. Ao passo em que a harmonização facial se torna uma nova especialidade do cirurgião-dentista, a odontologia ganha um grande avanço. A prática clínica inspira cuidados fundamentais na prevenção e manutenção de intercorrências que podem resultar em sérias complicações. Entre essas complicações, a mais temida é a embolia de um vaso ou artéria. Nesse caso, se não for tratado com urgência pode resultar em uma necrose.

Portanto, o conhecimento da anatomia, técnicas seguras e planejamento do procedimento tornarão a prática clínica efetiva e segura.

Descrição do relato de caso

Paciente, gênero feminino, 35 anos chegou ao consultório com queixa de dor, hiperemia e volume na região de lábio inferior. Essa situação ocorreu uma semana após ser submetida ao procedimento de preenchimento com ácido hialurônico na região labial. A paciente estava sem amparo profissional e achou que se tratava apenas de um hematoma e que iria melhorar com os dias.

A mesma não era diabética e não tinha alergia. Após o exame físico realizado no sétimo dia em que o lábio da paciente estava endurecido, foi observado pequenas vesículas esbranquiçadas, edema e coloração alterada. Notou-se a falta de circulação sanguínea na região e a dor não cessava com analgésicos.

Análise do caso

Após anamnese, foi constatado que o produto aplicado havia atingido a artéria labial inferior que origina-se próximo do ângulo da boca, corre medialmente no lábio inferior e anastomosa-se com a mesma artéria no lado oposto. A artéria foi atingida pelo fato do produto ter sido aplicado com uma agulha. E, pela falta de aspiração e técnica não tão aprimorada, acabou resultando na embolia arterial. Sinais comuns quando se trata de necrose após o preenchimento labial.

Vale ressaltar que a intercorrência poderia ter sido evitada caso o profissional tivesse realizado o procedimento com cânula. Além disso, a paciente deveria ser supervisionada nas 24 horas seguintes ao preenchimento. Assim sendo, a negligência do atendimento também resultou na intercorrência.

Conduta Imediata para a necrose labial

Imediatamente após anamnese e constatada a intercorrência, foi aplicado Hialuronidase 2.000 UTR em toda extensão do lábio inferior. Na ocasião iniciou- se a medicação com Cefalexina 500mg, 12 em 12 horas por 10 dias, associada a Dexametasona 4mg de 6 em 6 horas por 5 dias. Além disso, a AAS atuando como anticoagulante e analgésico por via oral. Pomada Dersani 3 vezes ao dia.

Conduta de acompanhamento.

Devido ao tratamento tardio, a embolia resultou em necrose dos tecidos. Por isso, a paciente foi instruída a manter higiene rigorosa, bem como o uso de máscara para evitar contaminação. Os medicamentos foram mantidos, e o tratamento foi acrescido por pomada Kollagenase para regeneração tecidual na fase de formação de crosta. Por fim, foi dada a sequência com laserterapia de baixa potência, vermelho e infravermelho de 2 a 4J por 20 dias.

Conclusão do caso

Apesar de alguns autores ressaltarem a raridade das complicações com preenchedores, isso não exime o profissional de estar adequadamente treinado e munido de alternativas e conhecimento de como tratar esses casos. Contudo, a paciente ficou com poucas sequelas devido a boa regeneração labial e tratamento adequado. O tratamento e condutas vão muito além de medicamentos, e sim amparo e acompanhamento do começo ao fim do caso.

Caso a paciente houvesse entrado em contato em até 24 horas, as chances do caso ser revertido com a aplicação da enzima e protocolo anticoagulante seriam maiores. Deve-se ressaltar que o profissional deve ter boa prática e manejo no uso da enzima para degradação do ácido hialurônico, uma vez que não existe consenso sobre o uso da hialuronidase.

Assim sendo, o profissional responsável pelo caso antes de fazer qualquer procedimento de harmonização facial deve estar capacitado e tratar suas possíveis intercorrências.

 

Referências:

NERI S.R.N.G. et al. Uso de hialuronidase em complicações causadas por ácido hialurônico para a volumização da face:relato de caso. Rede de revistas científficas da américa latina São Paulo v.4,n.1,p.100,2006.
TAMURA B. M. Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica – Parte 1 e 2. Surg Cosmet Dermatology.Londrina .v.2, n.4, p.291- 303,2010.

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Comentários

1 comentário
  1. Aconteceu comigo também minhas fotos são assustadora fui fazer um prenchimento e a profissional pegou a artéria com agulha desceu produto p boca e necrosou boca e nariz a profissional não está me ajudando e está cicatrizando c sequela muito feia

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