Classificação Vertucci seu Guia Definitivo!

O conhecimento detalhado da anatomia do sistema de canais radiculares é a base para o sucesso do tratamento endodôntico.

A complexidade da anatomia interna do canal radicular exige do dentista não somente a habilidade técnica, mas também domínio sobre as classificações morfológicas.

Para o sucesso dos caso clínico, é fundamental identificar as variações anatômicas, pois em um mesmo grupo dentário podem ocorrer diferenças, como por exemplo bifurcações e canais acessórios, impactando no resultado final do tratamento.

Por isso, o uso de imagens 3D, como a tomografia computadorizada de feixe cônico, auxiliam o profissional a realizar o atendimento clínico com segurança e previsibilidade.

Neste artigo, vamos abordar os sistemas de classificação da anatomia do canal radicular, com ênfase na Classificação de Vertucci (considerada como referência) e a importância dos exames de imagem no diagnóstico e tratamento odontológico.

Classificação do canal radicular

O canal radicular é preenchido por nervo, vasos sanguíneos e tecido conjuntivo, desde a câmara pulpar até o ápice radicular.

Compreender a morfologia do sistema de canais radiculares é fundamental para o planejamento, preparo químico e mecânico, evitar intercorrências durante a instrumentação (como fratura da lima endodôntica e perfuração da raiz) e promover a longevidade do tratamento endodôntico.

As principais variações do canal radicular

  • Número de canais (um, dois, três ou mais);
  • Curvaturas e dilacerações;
  • Calcificação;
  • Canal atrésico;
  • Ramificações;
  • Fusão radicular.

Conhecer as classificações permite que o dentista compreenda as variações anatômicas para realizar o planejamento de acordo com as características do elemento dental.

Veja como esse conhecimento se reflete na prática clínica:

1. Planejamento e diagnóstico

  • Identificar a morfologia antes do tratamento;
  • Considerar a presença de canais adicionais;
  • Facilitar a comunicação entre dentistas;
  • Evitar perfurações durante o acesso coronário;
  • Identificar variações anatômicas que influenciam a instrumentação e obturação.

O conhecimento anatômico evita intercorrências durante o tratamento odontológico, além de ser a base para o planejamento das técnicas de instrumentação e obturação.

2. Instrumentação endodôntica e irrigação do canal radicular

  • Orientar a escolha de instrumentos;
  • Facilitar a localização todos os canais;
  • Evitar perfurações e desvios durante a instrumentação;
  • Minimizar risco de instrumentação incompleta;
  • Escolha da técnica de irrigação;

É importante lembrar que a curvatura e a confluência dos canais influenciam diretamente a escolha do sistema rotatório, do tipo de lima e das soluções irrigadoras.

3. Obturação do canal radicular

  • Escolha da técnica de obturação;
  • Prevenção de complicações durante a obturação;
  • Evitar falhas técnicas.

Canais que se unem, dividem ou apresentam ramificações exigem técnicas específicas de obturação, como por exemplo o uso de termoplastificação da guta-percha ou sistemas de condensação vertical.

4. Retratamento endodôntico

  • Identificar canais não localizados;
  • Uso de tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC).

O conhecimento sobre anatomia do conduto radicular é fundamental para mapear a possibilidade de istmos e canais acessórios, promovendo a longevidade do tratamento endodôntico.

Imagem ilustrativa que mostra os diferentes tipos de dentes. A imagem apresenta várias categorias, cada uma com diferentes formas de dentes, numeradas e identificadas. Ideal para quem busca informações sobre tipos de dentes ou odontologia.
Imagem adaptada de https://www.researchgate.net/figure/Diagrammatic-representations-of-Vertuccis-classification-for-root-canal-morphology_fig1_351812388

Importância clínica da classificação dos canais radiculares

A anatomia do sistema de canais radiculares é extremamente variável. A partir da análise morfológica interna, é possível classificá-la segundo diferentes critérios, incluindo a distribuição por terços radiculares, as ramificações secundárias e a morfologia anatômica geral.

Conheça os principais sistemas de classificação:

1. Classificação por terços do canal

Esta é uma classificação didática que divide o canal radicular em três porções distintas:

  • Terço cervical: Porção mais coronal, próxima à câmara pulpar;
  • Terço médio: Porção intermediária do canal. Apresenta as maiores variações anatômicas, incluindo bifurcações, fusões e canais laterais;
  • Terço apical: Porção mais apical do canal, próxima ao ápice da raiz. Pode apresentar istmos, forames acessórios ou múltiplos.

Essa segmentação é fundamental para orientar o planejamento da instrumentação, uma vez que a anatomia pode variar significativamente em cada terço.

2. Classificação quanto à morfologia e ramificações

  • Canal principal: canal principal do dente;
  • Canal colateral: corre paralelamente ao canal principal;
  • Canal lateral: sai lateralmente do canal principal;
  • Canal secundário: pequeno canal na região apical;
  • Canal acessório: sai de um canal secundário;
  • Canal interconduto: liga o canal principal ao colateral;
  • Canal recorrente: sai do canal principal e retorna ao principal;
  • Canais reticulares: entrelaçamento de três ou mais canais;
  • Delta apical: quando múltiplos canais saem na região apical.

3. Classificação quanto a anatomia do sistema de canais radiculares

Descreve a morfologia e anatomia interna dos dentes. Há diversos sistemas de classificação anatômica, sendo a Classificação de Vertucci a mais utilizada.

Os sistemas de classificação da anatomia do canal radicular registrados na literatura são:

  • Weine;
  • Pineda e Kuttler;
  • Green;
  • Vertucci;
  • Kulid e Peters;
  • Gulabivala;
  • Alavi;
  • Sert e Bayirli;
  • Ahmed.

Conheça as principais classificações quanto a anatomia do conduto:

Imagem com tabela comparativa com as principais características da classificação de Vertucci e seus autores.

A classificação de Weine, proposta em 1969, descreve quatro tipos básicos de configuração de canais radiculares, considerando a presença e a confluência de canais ao longo da raiz.

Imagem explicando os tipos de canais no corpo humano, incluindo canal único, dois canais que se unem, separados, e um canal que se divide próximo ao ápice.

A seguir, vamos detalhar a Classificação de Vertucci, por ser uma das técnicas mais utilizadas e abordar as classificações criadas por Sert & Bayirli e Ahmed, que são uma extensão da classificação criada por Vertucci.

Classificação de Vertucci

A classificação criada por Frank J. Vertucci em 1984, chamada de Classificação de Vertucci, identifica oito tipos principais de características anatômicas dos canais radiculares, classificados de acordo com o número de canais e a forma como se unem ou se separam ao longo da raiz.

A incidência varia de acordo com a população estudada, porém é possível descrever as características de cada tipo e mencionar em quais dentes a incidência é maior.

Saiba mais sobre os tipos da classificação de Vertucci

É uma variação encontrada em dentes com três canais na mesma raiz.

Tabela explicativa sobre os tipos do canal radicular, incluindo descrição anatômica e incidência clínica, importante para tratamentos odontológicos.

A contribuição de Vertucci para a Odontologia foi de extrema importância por facilitar a compreensão das ramificações, fusões e divisões que podem ocorrer nos canais radiculares.

Para compreender a classificação, também sugerimos esse vídeo:

Quais as aplicações clínicas da Classificação de Vertucci?

Ao identificar o tipo de canal radicular, o dentista pode adaptar sua abordagem para maximizar a eficácia do tratamento:

  • Escolha do tipo de lima endodôntica;
  • Escolha da técnica de preparo químico e mecânico;
  • Evitar perfurações ou desvios ao antecipar possíveis curvaturas e fusões;
  • Escolha da técnica de irrigação, adaptando o volume e o método de ativação para atingir ramificações;
  • Escolha da técnica de obturação, garantindo o selamento adequado para as características do caso clínico.

É importante lembrar que o sucesso do tratamento endodôntico depende da qualidade da instrumentação, irrigação e obturação do sistema de canais, sendo fundamental a compreensão das características da anatomia interna do elemento dental.

Quais as limitações da classificação de Vertucci?

Apesar de ser uma das classificações anatômicas mais utilizadas, apresenta alguns desafios e limitações:

  • Não contempla variações tridimensionais complexas, como por exemplo canais com múltiplas ramificações apicais;
  • Não considera canais adicionais detectados apenas por tomografia de alta resolução;
  • Não considera todas as possíveis variações anatômicas que podem ocorrer;
  • Aplicação da classificação em dentes com múltiplas raízes, onde cada raiz pode apresentar uma configuração de canal diferente;
  • Não diferencia canais em forma de “C”.

Apesar das limitações, a classificação criada por Vertucci é utilizada como base para diversos estudos posteriores e para as adaptações mais recentes, inclusive utilizando tecnologias de imagem tridimensional.

Classificações complementares à Vertucci

Classificação de Sert & Bayirli (2004)

Os autores expandiram a classificação de Vertucci, descrevendo mais 15 variações anatômicas, totalizando 23 tipos de classificação..

Essa ampliação reflete a complexidade observada em estudos morfológicos, especialmente em dentes multirradiculares.

Apesar de sua precisão científica, a aplicação clínica dessa classificação é mais restrita, sendo mais utilizada em pesquisas.

Classificação de Ahmed et al. (2017)

Essa classificação indica um código único para o número de dentes, número de raízes (considerando qualquer divisão de raízes como duas ou mais raízes) e a configuração do canal

Um ponto importante é que dentes com a mesma configuração de canal com raízes separadas são descritos como um código único, descrevendo sua anatomia com precisão.

Para saber mais sobre as classificações criadas por Sert & Bayirli e Ahmed et al, leia o artigo

Exames de imagem na Endodontia

Os exames de imagem, principalmente a radiografia odontológica, são parte do dia a dia do dentista, pois fornecem informações importantes e que reforçam o conhecimento sobre anatomia do conduto, como por exemplo:

  • Confirmação do comprimento real de trabalho (CRT);
  • Presença de curvaturas;
  • Reabsorção radicular externa;
  • Reabsorção radicular interna.
  • Proximidadede de estruturas anatômicas importantes;
  • Qualidade da obturação endodôntica.

Porém, a radiografia é uma imagem bidimensional de uma estrutura tridimensional, limitando os detalhes anatômicos se comparado à exames de imagem tridimensionais, como por exemplo a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC).

Além disso, as sobreposições anatômicas podem mascarar canais adicionais, fraturas, trincas e lesões apicais.

Tomografia computadorizada de feixe cônico na Endodontia

Com o avanço da tecnologia, a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) tornou-se uma ferramenta de destaque no diagnóstico endodôntico, pois oferece uma imagem tridimensional, além de eliminar as sobreposições anatômicas.

A TCFC é indicada em situações em que a radiografia bidimensional não fornece informações suficientes, como:

  • Identificação de canais adicionais;
  • Determinação precisa da extensão de lesões periapicais;
  • Diagnóstico de reabsorções internas e externas;
  • Detecção de trincas e fraturas radiculares;
  • Avaliação da relação entre dentes e estruturas anatômicas adjacentes;
  • Localizar canais não tratados, principal causa de insucesso endodôntico;
  • Monitorar a reparação periapical após o tratamento de canal;
  • Detectar precocemente algumas complicações, como por exemplo o extravasamento de material obturador;
  • Avaliar canais acessórios e deltas apicais;
  • Analisar curvaturas tridimensionais;
  • Avaliação da curvatura radicular em três planos.

O grande diferencial da TCFC é a capacidade de analisar cortes axiais, coronais e sagitais, permitindo ao profissional visualizar a anatomia do conduto, reforçando a importância da aplicação dos tipos de Vertucci no diagnóstico e tratamento endodôntico.

Essa visão tridimensional oferece um entendimento real da morfologia radicular, o que reduz falhas e aumenta o sucesso clínico, além de ser uma ferramenta importante no planejamento do retratamento endodôntico, bem como quando há necessidade de localizar instrumentos fraturados, calcificações, áreas não obturadas ou com obturação insuficiente.

É importante lembrar que a TCFC emite menos radiação que tomografia computadorizada convencional, mas pode emitir mais radiação que a radiografia odontológica, dependendo do campo de visão (FOV) e dos parâmetros do exame.

Portanto, o seu uso deve ser criterioso e baseado em justificativa clínica, conforme as diretrizes do Conselho Federal de Odontologia (CFO).

Além da TCFC, ferramentas como a radiografia digital odontológica, localizador apical, o uso de inteligência artificial (IA) na interpretação de imagens e a integração com softwares odontológicos tornam o diagnóstico ainda mais preciso.

O conhecimento das classificações tradicionais, somado ao uso dessas tecnologias, proporciona uma visão mais completa da anatomia dental, promovendo a o sucesso e longevidade do caso clínico.

Conclusão

A classificação dos canais radiculares é uma das bases da Endodontia, sendo essencial para compreender as variações anatômicas dos canais radiculares e seu impacto no tratamento odontológico.

De Weine a Ahmed, destacando a importância de Vertucci como base nas classificações que possuem a anatomia e morfologia como base, cada sistema possui beneficios e limitações.

Por isso, é fundamental o dentista conhecer as características anatômicas do canal radicular para garantir o sucesso de cada etapa do tratamento endodôntico e promover a longevidade do caso clínico.

 

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