Adesivos Odontológicos
É impossível não falar de sistemas adesivos sem destacar a grande importância desta etapa, que revolucionou a forma de pensar na Odontologia atual.
A adesão entre os tecidos dentários e os materiais restauradores, sempre se fez presente no dia a dia dos cirurgiões dentistas.
A adesão na Odontologia, abriu caminhos como preparos mais conservadores e fixação dos materiais dentários mesmo na ausência de retenções macromecânicas, permitindo avanços em restaurações diretas com resinas compostas e nas restaurações indiretas, como por exemplo a cimentação com cerâmicas odontológicas, cimentação de retentores intrarradiculares (como pinos de fibra de vidro), e muitas outras indicações.
Para melhor compreensão das interações adesivas com os substratos dentário é necessário revisar algumas bases fundamentais, como a capacidade de molhamento e energia livre de superfície.
- Um bom molhamento depende do ângulo de contato entre os tecidos dentários e o adesivo, pois quanto menor o ângulo de contato entre eles, melhor a capacidade de molhamento, e assim maior a adesão.
- Já a energia livre de superfície dos substratos dentários, está diretamente relacionada a sua capacidade de interagir com o adesivo dental. Estruturas com alta energia livre de superfície tem melhor molhamento do adesivo.
- Para aumentar a capacidade dessa interação, é necessária uma superfície limpa, e obtida através de profilaxia, sem pastas a base de óleos, e condicionamento ácido da superfície dental.
- Outro fator fundamental, é o controle da umidade. Os adesivos dentários em geral são muito sensíveis a ela, uma solução para isso é o uso de isolamento absoluto do campo operatório.
Em relação aos tipos de sistemas adesivos, temos os sistemas adesivos odontológicos convencionais e sistemas adesivos odontológicos autocondicionantes.
Adesivos odontológicos convencionais
Os sistemas adesivos convencionais podem ser classificados como adesivo odontológico convencional de 3 passos e adesivo odontológico convencional de 2 passos. Em ambos, faz- se necessário o condicionamento ácido de esmalte e dentina, com ácido fosfórico a 37%, porém nos sistemas de 3 passos o primer é aplicado separadamente do adesivo (Bond), em frascos individuais.
Já nos de sistemas de 2 passos, o primer e o adesivo são apresentados em frasco único, com o intuito de reduzir o tempo operatório. A seguir, vamos especificar as etapas para executar com sucesso os sistemas adesivos convencionais.
- Condicionamento ácido no sistema adesivo:
O condicionamento ácido em esmalte irá promover uma desmineralização superficial do tecido, resultando em microrretenções, aumentando a energia livre de superfície e o molhamento, assim o adesivo odontológico terá uma maior área de contato com o esmalte.
- É realizado com ácido fosfórico a 37%, devendo permanecer por 30 segundos;
- Após, lavar abundantemente com água pelo mesmo tempo;
- Remover o excesso de água com suaves jatos de ar, mantendo a superfície seca. Neste momento ter cuidado para não atingir a dentina com os jatos de ar, para não a desidratar.
Na dentina, a principal função do condicionamento ácido é a remoção da lama dentinária (Smear-Layer), acompanhada da dissolução superficial da dentina e exposição dos túbulos dentinários e fibras colágenas.
- O condicionamento também é realizado com ácido fosfórico a 37%, porém pelo tempo de 15 segundos. Um tempo de exposição maior pode ocasionar um sobrecondicionamento ácido, neste caso, a profundidade de desmineralização na dentina pelo ácido será maior do que a infiltração do adesivo.
- Desta forma, as regiões mais profundas dos túbulos dentinários não serão preenchidas com adesivo dental, e sim com fluidos dentinários, comprometendo a adesão e causando sensibilidade pós-operatória em dentes vitais.
- Em seguida, lavar abundantemente com água pelo dobro do tempo;
- A remoção do excesso de água na dentina é diferente do esmalte, deve ser realizado com bolinhas de papel absorvente, pois as fibras colágenas necessitam de uma certa umidade para preservar sua configuração espacial, caso seja seca com jatos de ar, poderá desidratar, colapsando a rede de fibras colágenas, e assim impedindo a infiltração do adesivo pelos túbulos dentinários.
Primer para o sistema adesivo dental
A dentina pós condicionada apresenta umidade, além de maior teor orgânico, resultando em baixa energia livre de superfície, o oposto do esmalte, o que representa um desafio para a adesão. A solução deste problema, está com a aplicação do PRIMER na dentina, um agente composto por monômeros bifuncionais hidrofílicos e hidrófobos (afinidade química pelo adesivo), promovendo um controle no excesso de umidade dentinária, estabilizando as fibras colágenas, com aumento da energia livre de superfície e do molhamento, concluindo, melhora a interação entre o adesivo e a dentina.
- Nos SISTEMAS ADESIVOS CONVENCIONAIS DE 3 PASSOS, o primer (frasco individual), deve ser aplicado com fricção na dentina, utilizando um Microbrush, por 30 segundos, sem excessos; não há necessidade de fotopolimerização e de aplicação do primer no esmalte, já que o mesmo possui alta energia livre de superfície, mas caso contrário, não interfere na adesão do mesmo.
- Já nos SISTEMAS ADESIVOS CONVENCIONAIS DE 2 PASSOS, como o primer é apresentado em solução única com o adesivo (2 em 1), ao invés de frascos separados, pode ter seu efeito reduzido, comparado a sua aplicação individual, desta forma, com intuito de contornar este problema e aumentar sua eficácia, aplica-se o Microbrush uma primeira camada da solução 2 em 1, com fricção por 30 segundos, suaves jatos de ar auxiliam na evaporação do solvente, sem deixar excessos e SEM fotopolimerização.
Adesivos (Bond):
O adesivo, também chamado de Bond, atua como agente de união entre os substratos dentários (esmalte e dentina) e diversos materiais restauradores odontológicos.
No esmalte, preenche irregularidades e porosidades oriundas do condicionamento ácido, proporcionado uma excelente adesão.
Na dentina condicionada e com primer, o bond irá se infiltrar pela rede de fibras colágenas e preencher os túbulos dentinários, formando a CAMADA HÍBRIDA, com prolongamentos resinosos chamados de TAGS;
Sua aplicação deve ser sem excessos, caso contrário, acúmulos grosseiros, podem alterar as dimensões da superfície, criando interferências durante o tratamento restaurador, após a fotopolimerização. Uma solução é o uso de bolinhas de papel absorvente para remover os excessos do adesivo;
A aplicação nos SISTEMAS ADESIVOS DENTAIS CONVENCIONAIS DE 3 PASSOS, também deve ser realizada com auxílio de um Microbrush, e com fricção, após, o uso de suaves jatos de ar uniformizam a camada hibrida, e por último, deve ser fotopolimerizar por aproximadamente 20 segundos;
Em SISTEMAS ADESIVOS DENTAIS CONVENCIONAIS DE 2 PASSOS, o adesivo é aplicado juntamente com o primer, adesivo 2 em 1, como visto anteriormente, e após a aplicação da primeira camada (descrita no tópico referente ao primer) deve-se aplicar uma segunda camada com fricção através de um Microbrush, por aproximadamente 30 segundos, fazendo uso de suaves jatos de ar para uniformizar a camada hibrida e auxiliar na evaporação do solvente, conferir se ficou com excessos, e fotopolimerizar por 20 segundos.
Adesivos odontológicos autocondicionantes
Os sistemas adesivos autocondicionantes, também conhecidos como sistemas Self-etch, são encontrados em dois formatos: adesivos autocondicionantes de dois passos e adesivo autocondicionante de passo único.
Diferente dos sistemas convencionais, apresentam um Primer contendo monômeros ácidos, com menor agressividade comparados ao condicionamento com ácido fosfórico, desmineralizando parcialmente a superfície dentária, e quando em dentina, modificam o Smear Layer, impedindo sua remoção total, tornando-se parte constituinte da camada híbrida após a infiltração do adesivo, responsável por uma camada mais homogênea.
É importante relembrar que o esmalte é o tecido mais mineralizado, constituído de aproximadamente 97% de hidroxiapatita, por este motivo, o primer ácido não é capaz de desmineralizar o suficiente de sua superfície, podendo-se realizar previamente, tanto para o sistema de dois passos quanto para o de passo único, o condicionamento seletivo no esmalte com ácido fosfórico a 37% (por 30 segundos e após, lavar abundantemente), resultando em maiores microporosidades e melhorando a interação com o adesivo.
Algumas vantagens dos adesivos odontológicos autocondicionantes podem ser observadas em relação aos adesivos odontológicos convencionais, como:
- Eliminação do condicionamento ácido prévio na superfície dentária;
- Facilita o controle da umidade da dentina;
- Técnica operatória menos sensível;
- Vantajosos nas restaurações envolvendo esmalte e dentina.
Os adesivos autocondicionantes estão disponíveis no mercado em duas apresentações:
Sistemas adesivos autocondicionante de dois passos:
São dispostos em dois frascos, um contendo o primer ácido, e outro com o adesivo/bond propriamente dito.
O primeiro passo é a aplicação do primer ácido, constituído de monômeros ácidos, promovendo a desmineralização do substrato dentário, monômeros hidrofílicos, para a melhor infiltração do adesivo na dentina, e os solventes.
Antes de sua aplicação deve-se agitar o frasco e com auxílio de um Microbrush aplicar com fricção por aproximadamente 20 segundos. Utiliza-se suaves jatos de ar para auxiliar na evaporação dos solventes, favorecendo sua ação, modificando o Smear Layer (quando na dentina), e infiltração na estrutura dentária.
Atenção: Não se deve remover o primer ácido! Em seguida é aplicado o adesivo, com um novo Microbrush, também com fricção, e fotopolimerizar por 20 segundos (ou de acordo com o fabricante), promovendo a formação da camada híbrida com boas propriedades mecânicas e resistência.
Sistemas adesivos autocondicionante de passo único:
Também conhecidos como all-in-one ou adesivos odontológicos autocondicionantes de 1 passo, que agrega todos os componentes do primer ácido e do adesivo em uma única solução, com o objetivo de reduzir o tempo clínico e a sensibilidade técnica operatória. Essa mesma solução realizará o condicionamento simultaneamente a infiltração do adesivo pelo substrato dentário.
Na dentina, forma a camada hibrida juntamente com o Smear Layer modificado. Para melhor resultado no esmalte, pode-se realizar o condicionamento ácido seletivo.
Apresenta-se em frasco único ou em dois frascos diferentes, neste último, o conteúdo dos frascos deve ser misturado previamente a sua aplicação. Como o primer ácido é apresentado em solução única com o adesivo, pode ter seu efeito reduzido, comparado a sua aplicação individual, desta forma, com intuito de contornar este problema e aumentar sua eficácia, aplica-se com o Microbrush uma primeira camada da solução, com fricção por 20 segundos, suaves jatos de ar auxiliam na volatização do solvente, sem deixar excessos e SEM fotopolimerização, aplica-se a segunda camada da mesma maneira, porem ao final fotopolimerizar por 20 segundos (ou de acordo com o fabricante).
Com o intuito de aprimorar os sistemas adesivos e torná-los mais versáteis, alguns fabricantes desenvolveram os “adesivos odontológicos universais”, sob o mesmo conceito dos adesivos autocondicionantes de passo único, assim como o passo a passo para sua aplicação.
Essa versatilidade permite ser adaptáveis à cada situação clínica, como por exemplo, podem ser aplicados com condicionamento ácido seletivo em esmalte, ou sem condicionamento ácido prévio (autocondicionante), ou até mesmo com condicionamento ácido prévio em esmalte e em dentina, mas é importante saber que esta última possibilidade, cabe ao cirurgião-dentista de acordo com a cavidade que está sendo preparada, e com cada caso, e de qual protocolo adesivo seguir, em relação ao “adesivo universal”.
Conclusão
Em relação ao adesivos dentais convencionais, vários estudos têm demostrado superioridade dos sistemas de 3 passos, embora sua técnica seja mais sensível a erro, por ter mais etapas, há maior efetividade quando os materiais são aplicados separadamente, comparado aos sistemas adesivos de dois passos.
Sobre os adesivos dentais autocondicionantes, em termos de durabilidade, ele apresenta melhores resultados e menor índice de falhas, já que são aplicados separadamente, quando comparados ao sistema autocondicionante de passo único, este último, pode apresentar resultados variados, pois a solução única pode provocar instabilidade físico-química.
A escolha do sistema adesivo na Odontologia cabe a cada profissional, e o sucesso será obtido respeitando as características de cada material e sua relação com as estruturas dentárias, e na execução correta das técnicas.
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Muito bom..explicação bem clara e sucinta!
Ótima explicação. Excelente professor!
Ficamos felizes com o feedback. Obrigada por nos acompanhar! 💙
Boas orientações sobre os adesivos…parabéns dental cremer.