Evoluções na endodontia: o que você precisa conhecer?

A endodontia talvez seja a especialidade que mais evoluiu nos últimos tempos, principalmente quando falamos sobre o diagnóstico na endodontia. Além disso, houve mudanças na forma de trabalhar, nos materiais e nas técnicas que contribuíram muito para o dia a dia do cirurgião dentista.

Muitos dentistas com mais tempo de formados, se surpreendem com as inovações, pois muitas vezes o que se vê é algo um pouco diferente do que aprenderam em suas faculdades.

Nesse artigo iremos listar algumas das inovações que encontramos na endodontia e tenho certeza de que você irá gostar da nossa sequência lógica.

A evolução no diagnóstico na endodontia

O diagnóstico correto é fundamental quando da decisão de se optar por um tratamento de canal ou não.

No diagnóstico, inicialmente temos o exame clínico. Na endodontia os espelhos de primeiro plano (ou Front surface) são essenciais, pois a imagem não é duplicada e se projeta diretamente no espelho sem sombras. Os espelhos de primeiro plano mais usados geralmente são os de número 3 e o de número 5 para os exames clínicos.

No diagnóstico também é necessário enxergar bem aquilo que precisamos. Para isso surgiu a magnificação. A magnificação sob a forma de Lupas ou Microscópios Operatórios ajuda o endodontista, ou clínico que faça endodontia, a detectar trincas, falhas em restaurações e visualizar melhor todas as estruturas com nitidez e detalhes.

A escolha por lupas ou microscópios operatórios ajuda também na ergonomia de trabalho do profissional, visto que geralmente os dentes são muito pequenos e trabalhamos horas e horas a fio e a correta postura de trabalho vai propiciar saúde postural ao dentista.

Para o diagnóstico na endodontia, também podemos usar exames de imagens. Hoje em dia aparelhos de Radiografia portáteis para aquisição da imagem e sensores de radiografia ou placa de fósforo, otimizam o trabalho do endodontista e trazem rapidez e agilidade aos atendimentos.

As tomografias cone beam de alta resolução são ótimas para um exame mais detalhado dos dentes e hoje em dia saber manipular o arquivo Dicom das tomografias em softwares apropriados facilita demais o trabalho do profissional e ajuda o paciente também a estar ciente da condição inicial que o dente se encontra e fornece uma previsibilidade ao tratamento.

Além do teste de sensibilidade térmico a frio que já é conhecido e feito com gás refrigerante, o dentista pode lançar mão do teste de sensibilidade elétrico. Estes testes podem ajudar o profissional a complementar o diagnóstico do dente. Para fazer um teste de sensibilidade elétrico, o dentista precisa de um aparelho específico para este fim.

O uso de ultrassom como benefício para diagnóstico na endodontia

Na endodontia são múltiplos os benefícios do ultrassom na tentativa de otimizar, simplificar e aumentar a eficiência do preparo químico mecânico do sistema de canais radiculares. A frequente ocorrência de problemas na clínica como fraturas de instrumentos, perfurações radiculares, formações de zips, desgastes inadequados e não uniformes dentro dos canais radiculares, permitem que possamos utilizar os insertos ultrassônicos justamente para solucionar estes problemas.

Além disso, ele pode ser usado para:

  1. Remoção de nódulos pulpares e dentina na entrada dos canais radiculares;
  2. Remoção do selamento coronário provisório, tecidos cariados e materiais restauradores;
  3. Preparo de istmo, remoção de retentores intrarradiculares, próteses fixas e instrumentos fraturados;
  4. Ativação ultrassônica das soluções irrigadoras;
  5. Otimização na difusão de medicamentos intracanais para dentro dos túbulos dentinários;
  6. Obturação e desobturação endodôntica;
  7. Osteotomia;
  8. Resseção radicular;
  9. Retro preparo e colocação do material retro obturador na cavidade retro preparada.

Evoluções na instrumentação contribuem para o diagnóstico na endodontia

Os instrumentos usados para a modelagem dos canais avançaram muito. Antigamente somente tínhamos a nossa disposição limas de aço inox que eram usadas em técnicas de instrumentação manuais.

Hoje em dia contamos com limas rotatórias de níquel titânio, que evoluíram ainda mais recebendo tratamentos térmicos em suas ligas ou após a usinagem, dando mais resistência e flexibilidade aos instrumentos.

Além do movimento rotatório que as limas podem fazer, surgiu o movimento reciprocante em conjunto com as limas que trabalham com este movimento.

Importante que para usar limas nos movimentos rotatórios ou reciprocantes, precisamos de motores endodônticos que façam estes movimentos. O ideal é sempre você trabalhar com as limas mecanizadas conforme as recomendações dos fabricantes.

Quando vamos escolher uma lima para usar, devemos prestar atenção na sua conicidade (taper), no tamanho de sua ponta (tip), no seu comprimento e no movimento que o fabricante indica para trabalhar com ela. Não se pode fazer canal com qualquer lima! É a anatomia do dente que vai fazer optarmos com um determinado sistema de limas ou outro.

As limas endodônticas mecanizadas precisam de motores. Os motores endodônticos encontram-se em uma variedade de modelos. Existem motores acionados no pedal, acionados na mão ou portáteis acionados a mão.

Existem motores que você consegue mudar a angulação do movimento de reciprocagem e o sentido deste movimento (horário ou anti-horário) e existem motores endodônticos que já podem vir com o localizador foraminal eletrônico incluso.

O que é Odontometria?

A Odontometria é o ato de medir o comprimento do dente que será tratado ou retratado endodonticamente. Antigamente fórmulas matemáticas, métodos radiográficos ou táteis eram usados para este fim.

Hoje em dia o cirurgião-dentista tem a sua disposição o localizador foraminal eletrônico para este fim, possibilitando a medição fiel do comprimento do dente. Lembrando que a Odontometria é dinâmica e deve ser feita ao longo de todo o tratamento que você estiver fazendo.

Soluções irrigadoras

Dependendo da sua filosofia de trabalho, você irá usar a solução irrigadora Hipoclorito de sódio ou Clorexidina em conjunto com soro fisiológico em seu tratamento endodôntico. A escolha varia de escola para escola.

O importante é que esta solução irrigadora deva ser agitada com insertos ultrassônicos específicos, limas de níquel titânio tratadas (max-wire) e específicas para esta ação ou ponteiras plásticas também especificas para esta ação. Esta potencialização da solução irrigadora irá ajudar a potencializar a limpeza do sistema de canais radiculares.

Medicação intracanal 

Nem sempre a medicação intracanal é usada. Em caso de polpas vivas, quando necessitamos de uma biopulpectomia, a preferência é sempre por sessão única, visto que não temos conteúdo bacteriano.

E quando existe a necessidade de se fazer o tratamento de canal em mais sessões e usar uma medicação intracanal, o que temos de mais novo são as pastas de hidróxido de cálcio já prontas e que podem ser colocadas diretamente dentro dos canais do dente, como o Ultracal XS da Ultradent ou o BioC Temp da Angelus que é uma medicação intracanal com biocerâmico em sua composição.

Obturação do sistema de canais radiculares 

O importante na obturação é tentar promover o selamento mais hermético do espaço que era anteriormente ocupado pela polpa dental. Hoje em dia o padrão ouro do cimento usando para a obturação é o AHPlus Jet.

Os cimentos obturadores biocerâmico tem sido muito estudado e usado pelas suas propriedades antimicrobianas e de bioatividade. No mercado existem os prontos para uso (Bio C Sealer, Angelus) ou na forma de pó e líquido (BioRoot RCS, Septodont).

Com relação a técnicas de obturação, já discutimos muito bem em um artigo aqui no passado, mas o que tem de mais novo é o uso de aparelhos termo compactadores e para injeção de guta-percha.

O uso deste equipamento se constitui na técnica de Onda Contínua de Compactação, onde travamos um cone principal, usamos os compactadores aquecidos para compactar o cone de guta-percha travado apicalmente e após isso injetamos a guta-percha no canal de pequenas em pequenas porções e fazemos a compactação vertical a frio e cuidando para não ficar bolhas na obturação.

Blindagem dos dentes tratados endodonticamente  

Os dentes tratados endodonticamente necessitam de proteção para não haver recontaminação do sistema de canais radiculares.

Para isso, podemos usar sistemas adesivos com resinas compostas ou retentores em fibra de vidro.

Como uma inovação temos as resinas bioativas da Shofu chamadas Beautifil Flow Plus 00 ou Resinas Beautifil II. Estas resinas possuem a tecnologia bioativa S-PRG que são resinas que consegue liberar e recarregar flúor e de resistir à colonização bacteriana, fazendo delas um material restaurador ideal para casos de cáries secundárias.

Com relação a retentores em fibra de vidro temos os retentores da FGM com conicidade 04 e os EndoTaper da Angelus que são superinteressantes em canais onde precisamos colocar retentores, porém tem preparos mais conservadores.

A Angelus também disponibiliza o pino SAP para canais com embocaduras cervicais mais amplas, e dispensam a anatomização do pino para esta região quando bem adaptados.

Existem dentes onde não é possível a instalação de fibra de vidro, então o uso de fibras de Ribbond ou Interlig para fortalecer a estrutura coronária podem ser uma indicação.

Diante de tantos materiais diferentes e tecnologias, não podemos esquecer que precisamos de dentistas treinados para executar as técnicas. A persistência e estudo leva perfeição. Então sempre busque atingir a excelência em tudo aquilo que fizer.

Sobre a autora:

Milena Perraro | @milenaperraro

Doutora em endodontia USP Bauru;
Mestre e Especialista em endodontia;
Especialista em Implantodontia e Saúde Coletiva e da Família;
Professora de pós-graduação Instituto Cemo (Balneário Camboriú – SC).

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