Dieta branca no clareamento, mito ou verdade?

Quando alguém não dentista conversa comigo sobre clareamento dental, uma observação que geralmente vem à tona é: “não fiz clareamento porque não sei se vou conseguir ficar sem meu cafezinho”. O conceito de que é preciso adotar uma dieta branca durante o clareamento está difundido entre profissionais e pacientes.

A ideia de que o consumo de corantes interfere no resultado do clareamento foi, por um bom tempo, sustentada por estudos que apontaram redução na microdureza do esmalte em dentes expostos aos agentes clareadores.

Estudo sobre a “dieta branca” no clareamento

  O clareamento pode causar alterações transitórias na superfície do esmalte dentário, como o aumento da permeabilidade dental. Por serem levemente ácidos, favorece a retenção de corantes no esmalte. No entanto, os estudos foram realizados in vitro (sobre dentes extraídos), não utilizando saliva e fluoretação no modelo experimental. Por consequência, falhando em reproduzir aspectos da realidade clínica que podem modificar os resultados.

Contrariando esses achados, o estudo realizado em pacientes por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e publicado na respeitada revista científica Operative Dentistry, comprovou que não há necessidade da chamada “dieta branca” durante o tratamento clareador. O estudo acompanhou 40 pacientes que realizaram clareamento caseiro com peróxido de carbamida 16% durante 3 horas por dia.

  Os pacientes foram divididos em 2 grupos: Grupo Experimental e Grupo Controle. O Grupo Experimental foi formado por pacientes com hábito de ingerir café. Visto que não houve restrição de dieta, além de o consumo de alimentos com corantes continuar normalmente. Nesse caso, os participantes do grupo realizaram bochechos adicionais com café por 30 segundos 4 vezes ao dia. Já o Grupo Controle foi formado por pacientes que não consumiam café. Além disso, foram instruídos a não consumir nenhum alimento ou bebida com corante uma semana antes de iniciar e durante todo o tratamento clareador.

Resultado da pesquisa

  Os pesquisadores registraram a cor dos dentes antes, durante e após o término do tratamento. Os métodos utilizados para a avaliação foram dois: visual (subjetivo) analisando a escala de cor, e objetivo com espectrofotômetro. Como resultado, o clareamento foi efetivo nos dois grupos e os pesquisadores não encontraram diferença no clareamento entre os grupos após 3 semanas de tratamento. Uma das explicações destacadas pelo grupo, é de que compostos que acreditamos causar coloração dental, como o café e outras bebidas e alimentos com corantes, são constituídos de cadeias macromoleculares que não conseguem permear através do esmalte humano.

Estes alimentos podem causar pigmentação extrínseca da superfície dentária, e pode ser removido através da profilaxia dentária profissional. Portanto, da próxima vez que seu paciente estiver em dúvida sobre realizar o clareamento você pode ser o mensageiro dessa ótima notícia: o café está liberado durante o tratamento clareador! Ainda existem muitos mitos sobre o clareamento dental. Mas, acima de tudo, é nosso papel como dentista disseminar informações corretas para os nossos pacientes e colegas de profissão.

Até a próxima!

Sobre a autora:

Thaís Thomé

Cirurgiã-dentista. Especialista, Mestre e Doutora em Dentística. Professora de Anatomia Dental e Dentística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autora do projeto Professora Dentista.

Referência:
Rezende M, Loguercio AD, Reis A, Kossatz S (2013) Clinical Effects of Exposure to Coffee During At-home Vital Bleaching. Operative Dentistry: November/December 2013, Vol. 38, No. 6, pp. E229-E236.

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