Sou especialista em Disfunção Temporomandibular (DTM) e Dores Orofaciais há 14 anos, desde que a especialidade foi criada. Tenho muito orgulho de estar escrevendo sobre essa área que amo tanto. É um desafio tentar deixá-la menos complexa e trazer informações relevantes para o clínico que se depara com pacientes disfuncionais.
Primeiro passo para identificar a DTM no paciente
Primeiro passo ao receber um paciente com dor orofacial é questionar há quanto tempo ele sente dor. Se o seu paciente responder que começou a sentir dores há poucas semanas ou poucos meses, ele se enquadra em pacientes de dor aguda.
Esses pacientes com pouco tempo de dor apresentam um melhor prognóstico. Você deve continuar a investigação para entender se existiu algum evento traumático no passado. Como um acidente, um tombo, uma consulta mais longa no dentista, ou alguma situação que possa ter causado uma injúria articular ou muscular.
Caso seu paciente responda que sente dores há bastante tempo, muitos meses ou anos de dor, você deve acender uma luz vermelha em seu diagnóstico. Esses pacientes se enquadram em uma classificação de pacientes de dor crônica.
Eles normalmente tem um histórico longo de muitos profissionais, medicações e, infelizmente, são pacientes com prognóstico menos favorável. A literatura nos mostra que devemos ter cautela com esses pacientes e tratamentos irreversíveis não garantem redução de sintomas.
Esses pacientes apresentam alterações no Sistema Nervoso Central e são mais complexos exigindo uma equipe multidisciplinar. Dentistas, fisioterapeutas, médicos, psicólogos, fazem parte da equipe que deve abordar esse tipo de paciente de dor crônica para que o mesmo receba um tratamento adequado com redução dos sintomas.
Dicas para auxiliar no diagnóstico de DTM diferenciado:
- Qual horário o seu paciente sente dor? Dores ao acordar podem significar que seu paciente range ou aperta os dentes dormindo. Dores após mastigar, dores ao final do dia, pode ser que seu paciente está apertando os dentes diurno. Dores após a academia, seu paciente pode estar apertando durante o exercício, enquanto dirige, etc.
- Sente dificuldade para abrir a boca, mastigar, falar? Dores durante essas atividades podem ser algum sinal de atividade excessiva dos músculos da mastigação ou algum desvio articular.
- Questione sobre medicamentos que seu paciente pode estar usando: medicações como os Inibidores da Recaptação da Serotonina, que são uma modalidade de antidepressivos muito prescritos atualmente podem causar o que chamamos de Bruxismo secundário. Alguns exemplos: fluoxetina, sertralina, escitalopram.
- Seu paciente dorme bem, acorda descansado? Superimportante investigar este quesito, pois os pacientes que apresentam sono deficiente terão maior propensão a dores. Nesses pacientes temos que abordar mudanças para melhorar a qualidade do sono.
- Questione sobre mudanças de vida, stress, ansiedade…: sabemos que os aspectos psicológicos são importantes fatores desencadeantes e devem ser abordados, principalmente em pacientes crônicos.
- Questione como é a dor e locais que o seu paciente sente, peça para que ele coloque as mãos nos locais de dor: dores de origem muscular tem características diferentes do que dores de origem vascular ou de origem neural. Fique atento e caso perceba que as dores tiveram um início súbito, dores muito intensas, em choques, ao movimentar a cabeça, encaminhe a um neurologista. Dores musculares são como uma faixa apertando a cabeça, o paciente coloca as mãos na região do músculo temporal, masseter. Normalmente não são incapacitantes.
- Avalie e questione sobre ruídos ou sons articulares: deslocamentos de disco podem gerar alguns ruídos, verifique se o seu paciente apresenta uma boa abertura bucal, se a mesma exibe algum desvio.
- Verifique durante o seu exame clínico: avalie todos os dentes buscando sinais de parafunção como facetas de desgastes, lesões cervicais, trincas, linha alba, língua com marcas nas laterais, redução da quantidade de saliva. Realize a palpação dos músculos mastigatórios, principalmente os temporais, masseteres, esternocleidomastoideo, atms.
Exclua qualquer dor de origem dental! Sim, muitas vezes existe algum dente que está gerando dores que refletem na face e cabeça. Realize uma excelente investigação de TODOS os dentes, faça sondagem periodontal, peça radiografias.
Tratamentos e Condutas para a DTM
Dispositivos intraorais (placas)
Provavelmente essa é uma das condutas mais realizadas para proteção e diminuição da sintomatologia nos pacientes que chegam ao consultório. Os dispositivos intraorais devem ser confeccionados com material rígido.
É muito comum encontrar pacientes que receberam placas em silicone ou feitas com materiais flexíveis. Entendo que são de maior facilidade na execução, porém esses dispositivos geram:
- Estímulo maior ao apertamento/bruxismo;
- aumentam a sobrecarga aos músculos e articulações;
- impossibilidade de ajuste oclusal adequado.
O ideal é confeccionar uma placa rígida, com contatos bem distribuídos e que esteja bem adaptada para que o paciente não sinta desconforto ao usá-la.
Toxina Botulínica
A aplicação de Toxina Botulínica em músculos masseter e temporal pode reduzir temporariamente as dores e gerar um certo conforto em pacientes que apresentam forte contração muscular. Porém, os profissionais devem ter cautela, ainda temos que aguardar mais pesquisas que avaliam as respostas musculares dessa terapia a longo prazo. Lembrando que a aplicação de toxina gera um alívio temporário e que não é uma conduta curativa.
Laserterapia/Acupuntura
Ajudam muito no controle da dor, ação analgésica e anti-inflamatória.
>>>Leia mais: O que são as práticas Integrativas e Complementares e como utilizar na odontologia
Terapia Medicamentosa
Alguns medicamentos anti-inflamatórios, relaxantes musculares e antidepressivos tricíclicos podem agir de maneira positiva no controle da dor.
Infiltrações
Agulhamento em nódulos dentro dos músculos, chamados pontos de gatilhos, podem ajudar no controle e diminuição das dores.
Fisioterapia
O fisioterapeuta trabalha toda musculatura envolvida, correção postural.
Psicólogo
Paciente com perfil ansioso, perfeccionista, depressivo, estressado será muito beneficiado pelo tratamento e acompanhamento psicológico.
Terapias Oclusais
Tratamentos ortodônticos, reabilitações e ajustes podem ser realizados, mas com cautela, tratamentos irreversíveis não são indicados na literatura como curativos, principalmente em pacientes crônicos. Os fatores oclusais são apenas mais um dos muitos fatores causais nos pacientes com DTM e Dores Orofaciais. Diagnosticar corretamente, iniciar um tratamento para redução dos sintomas e depois avaliar as terapias oclusais quando necessárias.
O número de pacientes com Dores Orofaciais tem aumentado em nossos consultórios, e é necessário profundo conhecimento, cautela e constante acompanhamento. Alguns chegam a ponto de quase desespero para encontrar um profissional que seja capaz de identificar o que está acontecendo e, assim, instituir um tratamento mais assertivo.
Até mais!
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