Ergonomia para dentistas: confira este guia prático

A ergonomia é uma grande aliada dos dentistas, pois ajuda a melhorar a qualidade de vida no trabalho, previne doenças ocupacionais e contribui para a longevidade da carreira.

Portanto, se você ainda não adota medidas ergonômicas no seu consultório, vale a pena repensar essa prática.

Continue lendo este conteúdo para entender a importância da ergonomia, os principais riscos e doenças relacionados à má postura e aos movimentos repetitivos, além de dicas para tornar sua rotina mais ergonômica!

O que é ergonomia na odontologia?

Ergonomia é uma ciência interdisciplinar que estuda a interação entre os seres humanos e os elementos de um sistema, com o intuito de promover as melhores condições de trabalho.

Na odontologia, a ergonomia desempenha um importante papel ao melhor a saúde e bem-estar dos profissionais em suas rotinas odontológicas, reduzindo riscos de lesões e desenvolvimento de doenças ocupacionais, como LER e DORT.

Benefícios da ergonomia para o consultório odontológico

  • Em um ambiente odontológico ergonômico, dentistas e auxiliares realizam seus trabalhos com mais conforto, segurança e eficiência;
  • Equipamentos e mobiliários são projetados para reduzir o esforço físico, garantindo atendimentos odontológicos mais rápidos e precisos;
  • As dores musculares, lesões e fadiga são menos recorrentes, aumentando a longevidade da carreira profissional;
  • Os pacientes se sentem satisfeitos com a qualidade do atendimento, o que fortalece a reputação da clínica odontológica.

Riscos ergonômicos mais comuns na odontologia

São diversos os riscos ergonômicos aos quais os profissionais de odontologia estão suscetíveis ao longo de sua carreira. Os principais deles estão associados à postura inadequada e movimentos repetitivos.

É comum, por exemplo, que fiquem com a coluna e o pescoço flexionados por longos períodos, o que pode levar a dores e lesões musculoesqueléticas. Ao mesmo tempo, a realização de tarefas repetitivas com mãos e punhos pode facilitar o aparecimento de tendinites, além de outras lesões causadas pelo esforço contínuo.

Doenças ocupacionais odontológicas

A curto e a longo prazo, os riscos ergonômicos podem causar problemas ainda mais graves e prejudiciais à saúde do profissional. Isso inclui Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

As formas mais frequentes de apresentação clínica dessas patologias em dentistas incluem:

  • Tendinites: inflamação ou irritação dos tendões que realizam o movimento do punho e dos dedos;
  • Tenossinovites: inflamação na bainha sinovial tendinosa ou tendínea, revestimento protetor do tendão;
  • Síndrome do túnel do carpo: compressão do nervo mediano, localizado no punho, causando dor, dormência e formigamento;
  • Miosites: inflamação muscular que provoca o enfraquecimento dos músculos esqueléticos, responsáveis pelos movimentos;
  • Bursites: inflamação nas bursas, pequenas bolsas que reduzem o atrito entre estruturas próximas, como ossos e articulações.

Como vimos, esse grupo de doenças afeta principalmente músculos, tendões, ligamentos, articulações e outras estruturas do sistema musculoesquelético e podem apresentar uma série de manifestações clínicas.

Principais sinais da LER/DORT incluem:

  • Dores musculares persistentes;
  • Fadiga excessiva;
  • Rigidez na coluna, braços e pernas;
  • Inflamações nos tendões e articulações;
  • Espaços musculares;
  • Entre outros.

Caso perceba algum desses sinais, é importante buscar ajuda profissional. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, mais simples será o processo, evitando a evolução da doença para quadros mais graves.

Imagem de uma cadeira odontológica ergonômica em consultório odontológico para priorizar a saúde dos pacientes, promovendo conforto e melhores tratamentos.

Aplicação da ergonomia no consultório odontológico: como melhorar a prática clínica?

Nesse sentido, para evitar riscos que comprometam a saúde dos dentistas e auxiliares, causando doenças, é importante adotar algumas medidas em relação a postura, posicionamento da cadeira, organização do mobiliário, entre outros. Confira!

Postura ideal

O profissional de odontologia deve adotar uma postura adequada para minimizar os riscos ergonômicos. Confira algumas orientações:

  1. Sente-se ao mocho mantendo as coxas paralelas ao chão, formando um ângulo de 90° com as pernas, e os pés bem apoiados.
  2. Apoie as costas no encosto do mocho, mantendo-as retas, especialmente na região renal, e incline a cabeça levemente para baixo.
  3. Posicione o paciente deitado na cadeira, de forma que a boca fique na altura dos joelhos.
  4. Ajuste a altura da cadeira odontológica para que uma de suas pernas fique sob o encosto sem sofrer pressão.
  5. Ao realizar procedimentos na maxila, regule o cabeçote para baixo, na mandíbula, posicione-o para cima e para frente.
  6. Mantenha uma distância de aproximadamente 30 cm da boca do paciente.
  7. Lembre-se de manter os cotovelos próximos ao corpo ou apoiados em um local de mesma altura.

Imagem comparativa mostrando a postura correta e incorreta ao sentar em uma cadeira de atendimento odontológico, destacando a importância da postura adequada para evitar dores e desconfortos.

Posições durante o atendimento

Segundo a International Standards Organization (ISO) e a Federation Dentaire Internationale (FDI), existem algumas diretrizes que podem ser seguidas para tornar o atendimento odontológico mais ergonômico.

Gráfico de demarcação das posições pelas horas do relógio, mostrando os deslocamentos de diferentes ouvintes com diferentes posições de assento e horários. A imagem ajuda a entender a posição do dentista no atendimento odontológico.

No esquema gráfico proposto, o campo operatório é dividido em 12 partes iguais, assim como as horas de um relógio.

Paciente:

O eixo central do “relógio” passa pela boca do paciente, sendo o ponto de referência.

  • 12h: cabeça do paciente.
  • 6h: pés do paciente.

Como posicionar o paciente? O paciente deve ser atendido sempre na horizontal e não sentado, além disso, não deve se levantar para cuspir.
Ao trabalhar na mandíbula, o ideal é que o plano oclusal da região fique a 45º com o plano horizontal. Se for trabalhar na maxila, o plano oclusal da região deve estar em ângulo maior do que 90º com o plano horizontal.

Dentista:

o dentista costuma adotar as posições 7h, 9h e 11h. Se o profissional for canhoto, invertem-se as áreas.

  • 7h: a posição com as costas voltadas para as 7h e pernas paralelas a cadeira não é ideal, pois obriga o profissional a inclinar o corpo para a direita, acarretando prejuízos para a postura.
  • 9h: é a mais utilizada pelos dentistas, permitindo a visão direta mesmo em áreas de difícil acesso. Nessa posição, a perna do profissional fica sob o encosto da cadeira e ao lado direito do braço da cadeira.
  • 11h: o dentista fica atrás do paciente e trabalha com boa visão indireta, utilizando espelhos. Aqui, a perna esquerda do profissional fica sob o encosto da cadeira odontológica.

Auxiliar:

A posição do auxiliar depende da posição do dentista:

  • Dentista na posição 7h/9 h: o auxiliar trabalha na posição 3h, sendo que sua perna direita fica sob o encosto da cadeira.
  • Dentista na posição 11h: o auxiliar trabalha em 5h, contudo, essa posição traz os mesmos problemas da posição 7h.

Círculos A, B e C da ISO/FDI

Assim como a coordenada das horas, há também a coordenada de círculos que ajudam a otimizar a ergonomia durante os fluxos de trabalho. Nela, são traçados três círculos: A, B C.

Imagem explicativa de demarcação dos raios A, B e C em um gráfico circular, mostrando a distribuição de distâncias de 0,5m, 1,0m e 1,5m, útil para ensino sobre medidas e marcações.

  • Círculo central (A): é a chamada zona de transferência. Nessa área, ficam dispostos os itens usados diretamente na cavidade oral do paciente, como instrumentos, pontas rotativas e aparelhos (raio-x, refletor), além do mocho do dentista e do auxiliar.
  • Círculo intermediário (B): denominada área de trabalho. Este é o espaço necessário para movimentação dos profissionais, com mesas auxiliares, gavetas abertas e a parte do equipo e da unidade auxiliar. Isso permite que se aproximem ou se afastem do campo operatório sem esforço.
  • Círculo externo (C): é a área útil ou campo de apoio, que também limita a área total do consultório de 3 metros de largura. Nesse espaço, ficam as pias e armários fixos.

Equipamentos ergonômicos

A seleção de instrumentos odontológicos ergonômicos também é importante, já que eles serão usados diariamente pelos profissionais.

  • Cadeira odontológica

Deve possibilitar o trabalho a quatro mãos (dentista e auxiliar), contar com apoio de cabeça ajustável, para uma visão mais ampla do campo de trabalho, e oferecer apoio para os pés do paciente, garantindo maior estabilidade durante a consulta.

  • Equipo

É possível escolher entre modelos fixados à cadeira, com hastes articuladas que podem ser movimentadas em vários sentidos, embora limitados pela estrutura, ou sobre rodízios, entregando mais mobilidade ao profissional, mas ainda assim restritos pela mangueira.

  • Mocho

Deve ter regulagem do assento e encosto em todas as direções, atendendo a diferentes estaturas. O rodízio deve ter boa qualidade e tamanho adequado, que não interfira no apoio dos pés e nem toque a base da cadeira.

  • Refletor

O refletor deve ser articulado de modo que ofereça boa iluminação em todas as posições de trabalho. O ideal é que tenha acionamento por botão manual e também no piso, evitando o uso das mãos.

Exercícios e ginástica laboral

A ausência de pausas e alongamentos entre os atendimentos contribui para o acúmulo de tensão muscular e fadiga. Nesse sentido, a prática de exercícios como a ginástica laboratorial é uma excelente alternativa. E o melhor: dura, em média, de 5 a 15 minutos por sessão.

  •  Comece o dia com a ginástica laboral preparatória para aquecer os músculos que serão usados no atendimento odontológico;
  • Durante as pausas, faça a ginástica laboral compensatória, que ajuda a aliviar as tensões musculares acumuladas.
  • Ao término do expediente, adote a laboral de relaxamento. Ela é ideal para relaxar e aliviar o estresse.

Organização do ambiente

O ambiente de trabalho desorganizado exige que dentistas, técnicos e auxiliares realizam movimentos desnecessários, aumentando os riscos de lesões durante a prática odontológica.

Por isso, é importante manter a todo o material, instrumental e acessórios utilizados na sessão prontos para uso e à disposição antes da consulta odontológica iniciar.

Pôster exclusivo com 8 exercícios para aliviar dores nos punhos, indicado para quem busca melhorar a saúde das mãos e prevenir lesões. Conteúdo ilustrado acessível via smartphone.

Neste conteúdo, vimos que a ergonomia na odontologia é fundamental para garantir a sua saúde e bem-estar ao longo da vida profissional.

Ela não só a torna a rotina odontológica mais eficiente e sustentável, como também ajuda a prevenir doenças ocupacionais graves, que podem prejudicar a sua qualidade de vida.

Agora, é hora de colocar em prática todas as dicas deste conteúdo: manter atenção à postura, ajustar o mobiliário, realizar alongamentos entre as consultas, entre outras!

Quer mais dicas de ergonomia para dentistas? Assista ao vídeo da Dra. Ana Luiza Cardoso e encontre mais informações práticas para o seu dia a dia.

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Fontes:
1. ABERGO. https://www.abergo.org.br/o-que-%C3%A9-ergonomia
2. IDENT: https://www.ident.com.br/ia/pergunta/91320-quais-sao-os-riscos-ergonomicos-para-o-dentista
3. LER e DORT: https://prodi.ifes.edu.br/images/stories/ler-dort-marco2021.pdf
4. DENTAL SPEED; https://blog.dentalspeed.com/ergonomia-em-odontologia/
5. APCD; https://www.apcd.org.br/jornal-da-apcd/odontologia/ergonomia-na-odontologia-como-prevenir-lerdort-e-evitar-impactos-na-carreira
6. ODONTOLIFE: Notícias – Plano Odontológico
7. A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA NA ODONTOLOGIA THE IMPORTANCE OF ERGONOMICS IN DENTISTRY. https://saojose.br/wp-content/uploads/2025/05/Andrielly-Martins-Santos-de-Sousa-e-Melissa-Vianna-Goncalves.pdf
8. SUMRIO: SUMRIO
9. BLOG DA WOSON: https://www.blogwoson.com.br/artigo/planejar-ambientes-de-tratamento-de-saude-parte-v
10. COLGATE.https://www.colgateprofissional.com.br/content/dam/cp-sites/oral-care/professional/pt-br/general/pdf/assunto-em-pauta/Assunto_em_Pauta_10_Dr_Marco_Georgetti.pdf

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