Guia completo sobre cimentos endodônticos

O tratamento endodôntico deve ser considerado um processo cujas fases são igualmente importantes e, como tal, necessitam atenção e cuidados em cada etapa realizada.

Desde o correto diagnóstico, com avaliação dos exames radiográficos e se necessário a realização de tomografia computadorizada, abertura coronária, instrumentação do canal radicular, utilização das substâncias irrigadoras que mais preencham os requisitos de uma solução ideal, medicação intracanal (se ela for necessária) e obturação.

A obturação do canal radicular, por sua vez, deve ser feita após a remoção do smear layer, modelagem do canal e na ausência de sintomatologia (dor, fístula e exsudato).

Para facilitar a escolha do dentista sobre cimento obturador ideal para cada caso clínico, neste artigo vamos abordar sobre os tipos de cimento endodôntico e suas formas de aplicação.

Características do cimento endodôntico ideal

A obturação endodôntica deve promover a vedação do conduto radicular, manter a antissepsia e proporcionar condições para ocorrer o processo de reparo tecidual.

Os materiais obturadores usados nas mais diferentes técnicas de obturação são o cone de guta-percha e o cimento endodôntico.

👉 Leia também: Conheça as 4 técnicas de obturação endodôntica

O selamento do canal radicular gera desafios, devido à adaptação dos materiais obturadores nos espaços do canal radicular.

A guta-percha é um material impermeável, que apresenta estabilidade dimensional, radiopacidade e fácil remoção, porém não adere às paredes dentinárias.

Por essa razão, torna-se necessário o uso de cimentos endodônticos em conjunto com a guta-percha, para ocorrer o selamento hermético dos canais radiculares, além de reduzir a interface entre o cone e as paredes dos canais radiculares, impactando na longevidade do tratamento clínico.

Os cimentos endodônticos apresentam um papel fundamental na obturação, pois são responsáveis por selar as interfaces existentes entre os materiais de obturação e a parede do canal radicular, visando realizar uma obturação de forma hermética e efetiva, influenciando na qualidade do tratamento endodôntico.

Os cimentos devem promover a adesão do cone de guta-percha no conduto, ter radiopacidade, bom escoamento, tempo de trabalho adequado, estabilidade dimensional, insolubilidade aos tecidos tissulares e apresentar solubilidade à solventes.

Também devem apresentar a capacidade de penetrar nos canais acessórios, laterais e túbulos dentinários não preenchidos pela guta- percha, a fim de promover a adesão do cone, o selamento hermético e evitar o insucesso do tratamento ao longo prazo.

Além disso, o cimento endodôntico deve apresentar facilidade de inserção, não apresentar contração de polimerização, ter fluidez adequada para preencher as paredes do conduto, não pigmentar o elemento dental e apresentar tempo de trabalho e tempo de presa adequados.

Com relação às considerações biológicas, o material devem ser atóxico, bactericida, promover reação inflamatória mínima quando em contato com tecidos periapicais, ser reabsorvível quando extravasado e favorecer o processo biológico de cicatrização dos tecidos periapicais.

O cimento padrão ouro e mais indicado na atualidade é o cimento resinoso AHPlus da Dentsply.

A classificação dos cimentos endodônticos é realizada segundo a sua composição. Atualmente, no mercado odontológico, temos os seguintes materiais:

  • Cimentos à base de óxido de zinco e eugenol;
  • Cimento à base de hidróxido de cálcio;
  • Cimento à base de resinas plásticas;
  • Cimento à base de resina de salicilato e MTA;
  • Cimentos biocerâmicos.

O extravasamento intencional nunca deverá ser um objetivo e sim uma consequência do tratamento. O extravasamento do cimento endodôntico é responsável por aumentar e manter a inflamação crônica residual pós-tratamento, que é raramente diagnosticada radiograficamente. Idealmente, o material obturador deve ficar confinado no interior do canal radicular.

A maioria dos estudos anatômicos e histológicos sugere o término da obturação na constrição apical, a qual irá resultar em um melhor reparo e irá aumentar a taxa de sucesso.

Existem diversas formulações de cimento endodôntico, cada uma com características específicas, que podem influenciar no sucesso do tratamento.

A seguir, vamos descrever os tipos de cimento endodôntico mais utilizados para a obturação do conduto radicular.

Cimento endodôntico à base de óxido de zinco e eugenol

Os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol são os mais utilizados no mercado. Possuem atividade antibacteriana, efeito anestésico e efeito anti-inflamatório.

Porém, possuem citotoxicidade e neuro toxicidade. Eles são absorvidos se houver extrusão e apresentam tempo de presa longo.

Os exemplos destes cimentos podem ser observados na figura 1.

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Figura 01 – Cimentos à base de óxido de zinco e eugenol

Esse cimento é apresentado na forma de pó e líquido, destacando a capacidade de selamento e solubilidade, que variam diretamente em função da proporção pó/líquido.

Na espatulação, o cimento deve ter uma consistência que, ao afastar a espátula da placa, forme um fio de união (2,5mm). Estes cimentos podem ser classificados em cimento de Grossmann e cimento de Rickert.

Conheça as características dessa categoria de cimento:

Cimento endodôntico de Grossman

Apresenta baixa solubilidade, boa aderência, alta fluidez, não pigmenta a estrutura dental e apresenta poder antimicrobiano.
As marcas mais conhecidas são: endofill, pulp fill, fill canal.

Cimento endodôntico de Rickert

  • Pulp Canal Sealer:

Apresenta alta fluidez e escoamento, boa aderência, pigmenta a estrutura dental (devido à prata), necessita de uma boa limpeza da câmara (álcool) e apresenta ação antimicrobiana.

O tempo de trabalho é de 30 minutos e a presa do cimento é em torno de 1 hora.

O cimento Pulp Canal Sealer EWT (extended working time) apresenta tempo de trabalho e presa maiores em relação ao cimento Pulp Canal Sealer.

  • Endomethasone N:

É um cimento da Septodont e nesta formulação é isento de paraformaldeído. Apresenta propriedades antissépticas e anti-inflamatórias devido à presença da hidrocortisona, reduzindo inflamações pós-operatórias.

Possui tempo de trabalho prolongado e tem indicações positivas em casos de necro pulpectomia. Porém, a bula do produto fala que você deve trabalhar com ele dentro do canal e evitar o ápice radicular.

É importante lembrar que o Eugenol apresenta citotoxicidade e este poder interferir negativamente no processo de reparo tecidual.

Cimentos endodôntico à base de hidróxido de cálcio

O cimento de hidróxido de cálcio apresenta ação antimicrobiana e anti-inflamatória, além de induzir a formação de tecido duro, além de apresentar baixa solubilidade e biocompatibilidade adequada.

Os cimentos à base de hidróxido de cálcio foram desenvolvidos devido às propriedades biológicas do hidróxido de cálcio puro, melhorando as propriedades biológicas dos cimentos obturadores, para obter um maior índice de sucesso do tratamento endodôntico, permitindo selamento apical e bom reparo apical (figura 2).

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Figura 2 – Cimentos à base de hidróxido de cálcio

Conheça as marcas mais utilizadas dessa categoria de cimento:

  • Sealer 26:

Cimento à base de resina e hidróxido de cálcio.

Apresenta alta plasticidade e viscosidade, boa capacidade de selamento, baixa radiopacidade, alta solubilidade quando extravasado, não tem prata na composição, tem altos índices de liberação de íons cálcio, sendo muito bem tolerado pelos tecidos periapicais e possui selamento biológico.

  • Sealapex:

Apresenta alta plasticidade e viscosidade, baixa radiopacidade, alta solubilidade quando extravasado, possui altos índices de liberação de íons cálcio, sendo muito bem tolerado pelos tecidos periapicais.

  • HydroSealer:

Cimento à base de resina e hidróxido de cálcio.

Apresenta excelente biocompatibilidade, estabilidade dimensional, facilidade de trabalho e alta radiopacidade.

Não exibe contração durante a reação de presa e possui excelentes propriedades físicas e biológicas. Estimula a deposição de dentina reparadora.

Cimento endodôntico à base de resinas plásticas

Os cimentos à base de resina plástica são considerados bastante efetivos devido às seguintes propriedades: radiopacidade, biocompatibilidade, excelentes propriedades físico-químicas e bom tempo de trabalho.

Além disso, possuem alto escoamento, preenchendo as irregularidades do canal radicular e os espaços existentes entre os cones de guta-percha e as paredes dentinárias, promovendo o selamento adequado do conduto.

Essa categoria de cimento apresenta excelente adesão, radiopacidade, tempo de presa longo, bom escoamento, sendo bem tolerado pelos tecidos.

  • AHPLUS:

O cimento resinoso principal e padrão ouro na Endodontia é o AHPLUS. É um cimento à base de resina de epóxi-amina.

Apresenta um bom tempo de trabalho, boa estabilidade dimensional, radiopacidade e adesividade, baixa solubilidade, ótima capacidade adesiva e bom selamento apical, além de ser bem tolerado pelos tecidos. Possui uma expansão volumétrica de 0,4 a 0,9% depois de 4 semanas.

É comercializado em forma de bisnagas ou na forma de dispensador, liberando o material em partes iguais (AHPlus Jet).

O cimento AHPLUS apresenta duas pastas: pasta A e pasta B. A pasta B (branca) apresenta na composição um óleo de silicone que costuma sair antes do produto, quando utilizado na embalagem de bisnaga.

Nessa apresentação, o ideal é massagear a bisnaga antes de usar para misturar os componentes e não sair o óleo de silicone primeiro.

Além disso, o produto tolera o calor, não perdendo suas propriedades químicas durante a termo plastificação.

  • Sealer Plus (MKlife):

Cimento à base de resina epóxi que apresenta um dispensador que libera o cimento em partes iguais.
Possui boa tolerância dos tecidos apicais, boa radiopacidade e impermeabilidade.

Cimento endodôntico à base de resina de salicilato e MTA

Cimentos à base de resina de salicilato apresentam uma excelente capacidade de vedação e biocompatibilidade.

O MTA é um cimento muito utilizado por apresentar resultados satisfatórios na obturação retrógrada, apresentando excelentes propriedades físico-químicas e biológicas, além de ter potencial de ação osteoindutivo.

Essa categoria de produto possui selamento marginal de longa duração, apresenta alta radiopacidade, não contém eugenol ou tungstato de cálcio, estimula a formação de tecido duro, tem baixa solubilidade em fluidos tissular.

O cimento incluso nesta categoria e disponível para venda no Brasil é o MTA Fillapex da Angelus que possui 13% de MTA. Possui sistema de bisnagas e também seringa automix (figura 3).

Figura 3 – Cimento MTA Fillapex da Angelus

Cimento endodôntico biocerâmico

Cimentos biocerâmicos são materiais constituídos por silicatos de cálcio, óxido de zircônio e fosfato de cálcio monobásico.

Possuem excelentes propriedades de biocompatibilidade devido à sua equivalência com o processo biológico em composição de hidroxiapatita e apresentam uma boa resposta regenerativa no organismo.

Os cimentos biocerâmicos são cimentos hidráulicos biocompatíveis, hidrofílicos, têm bom selamento, alta regeneração biológica, boa radiopacidade, são isentos de alumínio, radiopacos, antimicrobianos, liberam hidróxido de cálcio e hidroxiapatita e não escurecem o elemento dental. (figura 4).

Figura 4 – Cimentos biocerâmicos para obturação

Induzem a regeneração tecidual e inibem a infiltração bacteriana. São comercializados na forma pó/líquido ou prontos para uso.

Além disso, precisam da umidade dos túbulos dentinários para tomar presa. Por isso, deve-se secar o canal com pontas do tipo capillary tips e, para não deixar “molhado”, utilizar o cone de papel para remover o excesso de umidade no interior do conduto. A obturação é realizada com a técnica de cone único.

No Brasil, temos o Bio C Sealer da Angelus, o BioRoot RCS da Septodont e o Sealer Plus BC da MKlife.
Confira o artigo publicado aqui no blog da Dental Cremer sobre cimentos biocerâmicos.

A obturação do conduto deve promover a vedação do canal radicular, manter a antissepsia e proporcionar condições para ocorrer o processo de reparo tecidual.

Ao utilizar o cimento endodôntico, é fundamental o dentista seguir as instruções de uso e as condições de armazenamento preconizadas por cada fabricante, pois cada categoria de cimento apresenta características distintas.

É fundamental respeitar o tempo de trabalho e o tempo de presa, para não comprometer a qualidade de selamento do material obturador, evitando a reinfecção do canal e garantindo a longevidade do dente tratado.

Conclusão

O sucesso do tratamento endodôntico ocorre pela eliminação e de microrganismos no sistema de canais radiculares, por meio da instrumentação, desinfecção do canal radicular utilizando solução química auxiliar, medicação intracanal e a obturação do conduto utilizando guta-percha e cimentos endodônticos.

👉 Leia também: Quando e o que utilizar quando o assunto é Medicação Intracanal

A obturação é responsável pelo selamento e preenchimento dos espaços dos sistemas de canais radiculares.

A escolha do tipo de material obturador influencia diretamente no sucesso do tratamento clínico, pois cada categoria de cimento possui propriedades físicas e químicas que podem impactar na resposta do tecido periapical. Cabe ao dentista escolher o material ideal para cada caso clínico.

O cimento desempenha um papel fundamental no sucesso do tratamento de canal e conhecer suas características e aplicações é essencial para o sucesso do tratamento clínico.

Independente do produto que você escolher, é importante sempre blindar o sistema de canais radiculares, fazendo uma limpeza também da câmara pulpar e utilizando o método reabilitador que for necessário para cada caso clínico.

Após o tratamento do canal radicular, providências são extremamente necessárias para poder constatar o sucesso da terapia endodôntica.

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