Implantodontia: guia básico para estudantes de odonto

Há uma grande fascinação pela especialidade de Implantodontia, mesmo ela sendo pouco explorada dentro da universidade.

Os estudantes de Odontologia têm pouco contato com a especialidade, apenas uma visão teórica sobre o tema. E a curiosidade em aprender mais sobre implantes dentários acaba ficando guardada até uma atualização ou especialização.

Mas calma! A área é complexa e a gente tem que saber resolver possíveis intercorrências, além de dizer “não” para casos com mau prognóstico.

Para atuar como implantodontista, além do título de especialista, é fundamental ter conhecimento de outras especialidades, como Periodontia, Cirurgia Bucomaxilofacial e Prótese Dentária, além de biomateriais odontológicos, radiologia odontológica e Odontologia Digital.

Neste artigo, vamos abordar sobre a Implantodontia, atuação do especialista, materiais e equipamentos utilizados e o impacto da Implantodontia Digital no dia a dia do profissional.

O que é implantodontia?

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) define a Implantodontia como

“Especialidade que tem como objetivo a implantação na mandíbula e na maxila, de materiais aloplásticos destinados a suportar próteses unitárias, parciais ou removíveis e próteses totais”

O que faz um implantodontista?

Conforme descreve o CFO “As áreas de competência para atuação do especialista em Implantodontia” são:

• a) diagnóstico das condições das estruturas ósseas dos maxilares;
• b) diagnóstico das alterações das mucosas bucais, e das estruturas de suporte dos elementos dentários;
• c) técnicas e procedimentos de laboratório relativos aos diferentes tipos de prótese a serem executadas sobre os implantes;
• d) técnicas cirúrgicas especificas ou afins nas colocações de implantes;
• e) manutenção e controle dos implantes; e,
• f) realização de enxertos ósseos e gengivais e de implantes dentários no complexo maxilo-facial.”

Em relação à prática clínica, segundo o Consolidado das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia, regulamentada pela Resolução CFO-63/2005, o profissional deve respeitar os seguintes artigos:

“SEÇÃO VII – Implantodontia

Parágrafo único. Na atuação do especialista em Implantodontia observar- se-á o disposto nos artigos 45 e 47, referentes a especialidade de Cirurgia e Traumatologia Buco- Maxilo-Faciais:

Art. 45. Somente poderão ser realizadas, em consultórios ou ambulatórios, cirurgias passíveis de serem executadas sob anestesia local;

Art. 47. Nos casos de enxertos autógenos, cuja região doadora se encontre fora da área buco-maxilo-facial, os mesmos deverão ser retirados por médicos.”

Portanto, a Implantodontia é a especialidade da Odontologia dedicada à reabilitação oral por meio de da instalação de implantes dentários para suporte de próteses dentárias.

O objetivo é estabelecer a função, a estética e qualidade de vida do paciente, com procedimentos que vão desde a substituição de um dente até reabilitação total da arcada dentária.

O profissional também é responsável pelo acompanhamento do caso clínico, gerenciar complicações, como por exemplo perimplantite, falha na osseointegração e fraturas protéticas, além de orientar o paciente sobre hábitos, higiene e protocolo de manutenção.

Legislação e Ética na Implantodontia

O Código de Ética Odontológica e as resoluções do Conselho Federal de Odontologia (CFO) orientam sobre as condutas, publicidade, relação com o paciente, atuação técnica e responsabilidade profissional.

É obrigatório o registro profissional como especialista no Conselho Regional de Odontologia (CRO), a observância das normas de biossegurança e o consentimento informado do paciente.

Em casos de procedimentos invasivos, o profissional deve apresentar e documentar riscos, alternativas de tratamento odontológico e expectativas sobre os resultados clínicos.

Pontos importantes para a prática clínica:

• Consentimento informado por escrito para procedimentos que envolvem risco;
• Publicações em redes sociais que respeitam o código de ética;
• Ter o registro de implantes e notas fiscais quando aplicável, para rastreabilidade e responsabilidade técnica;
• Atualização técnica como elemento de responsabilidade profissional: oferecer uma técnica ou material ultrapassado pode configurar negligência.

Quais os principais desafios da Implantodontia?

Uma pergunta comum quando um profissional escolhe uma especialidade clínica é “A especialização em Implantodontia vale a pena?”

A resposta é sim!

A especialização agrega competência técnica, como por exemplo: o diagnóstico e tratamento de casos complexos, realização de enxertos ósseos, técnicas de carga imediata e Odontologia Digital.

Conheça os principais desafios da especialidade

• Manejo de complicações: falhas na osseointegração de implantes dentários, perimplantite e complicações protéticas exigem diagnóstico precoce e estratégias de manejo bem fundamentadas;
• Formação contínua: técnicas e materiais evoluem rápido;
• Gestão financeira: a especialidade exige investimentos, gestão de custos e estratégias de precificação;
• Consentimento e comunicação: é preciso explicar riscos, alternativas e alinhar expectativas de forma clara e documentada.

É importante lembrar que o título de especialista amplia as possibilidades profissionais, como por exemplo atuação em consultório particular, parceria com outros profissionais que não exercem a especialidade, atuação acadêmica, concurso público e consultoria técnica para empresas fabricantes de implantes odontológicos.

👉 Leia também:

1. Concurso público para dentistas: o que você precisa saber?
2. Como seguir carreira acadêmica em Odontologia?

Como se preparar para a especialização em Implantodontia?

Durante a faculdade, realize algum curso de prótese laboratorial para conhecer os passos das próteses fora do consultório.

Outra parte de suma importância é a anamnese e histórico médico e odontológico do paciente. Sua habilidade profissional entra em ação para buscar possíveis problemas sistêmicos que possam interferir no sucesso dos implantes.

Se o paciente toma medicamentos que podem causar necrose óssea, se tem problemas de cicatrização, doenças não controladas, etc. Além disso, é recomendado:

• Procure programas que ofereçam: base científica robusta, experiência clínica supervisionada, corpo docente com produção científica e conexão com centros de referência;
• Participe de sociedades científicas;
• Atualize seu conhecimento em congressos e cursos hands-on.

Por fim, é imprescindível que você encontre um bom curso de atualização ou especialização em implantes dentários.

Comece procurando por professores e entidades de renome. Leia com atenção o conteúdo programático e veja os diferenciais de cada curso.

Visite o local, procure conversar com colegas que já realizaram o curso para ter opiniões sinceras sobre seu desempenho.

Onde buscar formação de excelência na Implantodontia?

É importante lembrar que a pós-graduação deve ser realizada em uma instituição de ensino credenciada pelo Ministério da Educação (MEC) ou ser um órgão oficial da área de saúde pública, como por exemplo as Forças Armadas, bem como ser registrado no Conselho Federal de Odontologia (CFO).

Outra ponto de atenção é a carga horária da especialidade exigida pelo CFO, de no mínimo 1.000 horas.

Um dos quesitos para ser aprovado para cursar a especialização é a avaliação do currículo profissional.

Mesmo sendo um dentista recém – formado, é fundamental a elaboração do documento.

Por isso, escrevemos este artigo para facilitar sua vida acadêmica:

Currículo para dentista recém-formado: guia completo com modelos para baixar

Relação entre Implantodontia e a Prótese Dentária

Independente do que se fala por aí, o implante é uma prótese. O que utilizamos muito hoje em dia é o chamado Planejamento Reverso.

Você busca entender como vai ser o dente e sua posição, isto é, a prótese. Depois vai pensar onde perfurar o osso para posicionar seu implante. Então, quem quiser começar a explorar a Implantodontia, deve ser excelente em Prótese Dentária.

Oclusão, preparos, espaços protéticos, contatos proximais, tamanhos de dentes, materiais e técnicas de moldagem. Quem gostar e entender de Prótese vai sair na frente na hora de fazer implantes e isso pode ser bem explorado na faculdade.

Por exemplo, para planejar um protocolo sobre implantes é preciso saber fazer muito bem próteses totais móveis. Os conceitos são os mesmos. Restabelecer Dimensão Vertical, determinar linhas médias do sorriso e da distal dos caninos nas comissuras labiais.

Dessa forma, utilizamos uma cópia da própria prótese total como guia para a instalação dos implantes.

👉 Lembre-se: implante é uma prótese com uma cirurgia no meio.

Para instalar implantes com maestria é preciso combinar conhecimentos da Periodontia com os de Cirurgia. Incisões, retalhos, descolamentos, cuidado com papilas, conhecimento sobre espaço biológico, manipulação óssea e tipos de sutura.

Acima de tudo, como toda reabilitação protética, os implantes serão os últimos tratamentos a serem realizados.

Antes deles, a Clínica Integrada coloca todo conhecimento da faculdade de Odontologia em prática ao adequar o meio para receber os implantes. Extrações de dentes perdidos, raspagem periodontal, endodontias, restaurações e próteses, ou pelo menos provisórios, devem estar resolvidos. Salvo exceções que envolvam regiões estéticas.

Um ponto importante sobre a especialidade é que o mercado de implantes e de Odontologia Digital vêm crescendo de forma consistente, impulsionados pelo aumento de expectativa de vida, maior acesso a tratamentos, envelhecimento populacional e adoção de tecnologias digitais, impactando em oportunidades para os implantodontistas.

Quais materiais são utilizados na Implantodontia?

A especialidade utiliza uma grande variedade de instrumentais, equipamentos, biomateriais e tecnologias que são fundamentais para garantir a qualidade do tratamento odontológico e promover a longevidade do caso clínico:

Conheça os principais itens da lista de materiais para Implantodontia:

I. Implante Dentário

1. Material do implante dentário:

• Titânio;
• Zircônia;
• Titânio – Zircônia.

2.Tratamento de superfície do implante dentário:

1. A) Usinada: superfície lisa;
2. B) Tratada: anodizada, jateada, condicionada com ácido,etc

3. Geometria do implante dentário:

• Implante dentário cilíndrico;
• Implante dentário cônico.

4. Tipo de conexão dos implantes dentários:

• Hexágono interno;
• Hexágono externo;
• Cone morse.

5. Indicação clínica:

• Implante com carga imediata;
• Implante com carga tardia;
• Implantes endosteais;
• Implantes subperiosteais;
• Implantes zigomáticos;
• Implante pterigoide;
• Mini-implantes.

6. Medidas do Implante:

• Regular;
• Longo;
• Curto;
• Largo;
• Estreito.

Para saber mais sobre as características e tamanhos dos implantes, leia este artigo:

Como escolher o tamanho de implantes dentários

II. Componentes protéticos

• Pilar protético;
• Pilar provisório;
• Análogo;
• Cicatrizador;
• Parafuso de cobertura;
• Componentes protéticos especiais;
• Componentes protéticos auxiliares.

III. Procedimento Cirúrgico

• Kit cirúrgico;
• Motor para implante;
• Brocas para implantodontia;
• Chave de torque;
• Chave de instalação;
• Instrumentais básicos para cirurgia odontológica.

IV. Biomateriais odontológicos

• Enxertos;
• Membranas;
• Cimento cirúrgico.

Para saber mais sobre os biomateriais para Implantodontia, leia este artigo:

Enxerto ósseo para implante dentário: saiba mais sobre os biomateriais utilizados

V. Odontologia Digital

• Scanner intraoral;
• Software de planejamento odontológico;
• Impressora 3D odontológica;
• Fresadora odontológica.

Essa é uma lista dos principais materiais e equipamentos, mas os itens podem varias de acordo com a complexidade do caso clínico.

Para promover a longevidade dos implantes, além de materiais e equipamentos de qualidade, é fundamental o profissional realizar o monitoramento do paciente, incluindo:

• Consultas periódicas;
• Exames de imagem;
• Profilaxia odontológica;
• Controle de fatores de risco (tabagismo, diabetes descompensada, higiene oral inadequada, etc);
• Revisão protética (substituição de parafusos, ajustes oclusais, etc).

É importante lembrar que a longevidade dos implantes é influenciada por fatores biológicos, protéticos, comportamentais e pela qualidade do planejamento.

Implantodontia digital

A Implantodontia Digital é a aplicação de tecnologias digitais em todas as etapas do caso clínico, incluindo a coleta de dados anatômicos do paciente por meio de imagens 3D, planejamento, instalação do implante dental e confecção da peça protética.

O uso de ferramentas digitais oferece benefícios em relação à previsibilidade, precisão cirúrgica, adaptação da prótese e conforto para o paciente.

Quais são as ferramentas utilizadas na Implantodontia digital?

Os principais recursos digitais utilizados na especialidade são:

• Tomografia computadorizada (TCFC): fornece imagens tridimensionais precisas do osso alveolar e das estruturas anatômicas adjacentes;
• Escaneamento intraoral: substitui moldagens convencionais, registrando digitalmente a arcada com precisão;
• Softwares de planejamento odontológico: permitem posicionar o implante virtualmente, considerando a anatomia óssea, a estética e o planejamento protético, além de realizar o desenho da prótese;
• Impressora odontológica 3D: imprime modelos de estudo e de trabalho, guia cirúrgico e peças protéticas em resina;
• Fresadora odontológica: produz peças protéticas em cerâmica odontológica;
• Guia cirúrgico impresso em 3D: orienta a perfuração e a instalação do implante com precisão.

É importante lembrar que o avanço da tecnologia na Odontologia vai além do uso de tomografias ou scanner.

É possível integrar software de planejamento, impressoras 3D, guias cirúrgicos e serviços especializados de planning centers (centros de planejamento focados em fluxo digital na Odontologia), criando uma metodologia de trabalho completamente digital e interconectada.

Quais são os benefícios da implantodontia digital?

O uso de inovação e tecnologia na Odontologia oferece diversos benefícios tanto para o paciente como para o profissional, sendo eles:

Planejamento baseado em dados

O planejamento caso clínico é realizado por meio de dados digitais tridimensionais, eliminando sobreposições.

O especialista passa a trabalhar com uma visão completa da anatomia do paciente, o que reduz riscos e aumenta a previsibilidade do resultado.

Odontologia multidisciplinar

Implantodontistas, periodontistas, protesistas e técnicos em prótese dentária (TPD) podem trabalhar em conjunto no mesmo ambiente digital. Isso reduz falhas de comunicação e permite que todos visualizem o mesmo caso em tempo real.

Redução do tempo cirúrgico

O planejamento virtual permite a padronização de protocolos e a realização de procedimentos mais rápidos e precisos, diminuindo o tempo de atendimento e promovendo conforto e segurança ao paciente.

Proteção legal

O registro digital facilita o controle do prontuário, documenta o antes e depois do tratamento odontológico, além de ser utilizado em perícias sobre a evolução do caso clínico.

Marketing Odontológico

O domínio das ferramentas digitais posiciona o implantodontista como um profissional atualizado em relação à tecnologia, além de oferecer uma experiência positiva para o paciente.

Outro ponto de destaque é que a visualização do caso em 3D aumenta a adesão ao tratamento, sendo uma ferramenta de atração e captação de clientes.

A transformação digital impacta positivamente na especialidade em todas as etapas: diagnóstico, planejamento, comunicação com o laboratório e execução da peça protética.

Quais são os desafios da Implantodontia digital?

Apesar dos benefícios, a tecnologia digital ainda apresenta desafios que exigem atualização constante:

• Curva de aprendizado: o domínio de softwares e fluxos digitais requer treinamento técnico;
• Necessidade de treinamento: A mudança para o fluxo digital exige a adaptação dos profissionais, o que pode ser mais desafiador para dentistas com longa experiência no método convencional;
• Custo inicial: scanners, impressoras e licenças podem representar investimento significativo, mas o trabalho pode ser direcionado ao planning center;
• Fidelidade da impressão 3D em casos específicos: Em casos de pacientes edêntulos, a acurácia do escaneamento pode ser menor que a da moldagem convencional, sendo necessária uma abordagem combinada para obter modelos virtuais precisos.

Esses obstáculos, porém, diminuem quando o profissional adquire experiência, destacando cada vez mais os benefícios da tecnologia.

Conclusão

A Implantodontia é uma especialidade que restabelece estética e função, além de integrar conhecimentos de Cirurgia Bucomaxilofacial, Periodontia e Prótese Dentária.

O sucesso dos caso clínico depende tanto da escolha adequada de materiais quanto domínio de técnicas cirúrgicas, além do conhecimento protético.

Se você está considerando essa especialidade odontológica, realize uma planejamento profissional por etapas: consolide conhecimentos básicos em Cirurgia, Periodontia e Prótese, busque cursos com prática supervisionada, aprimore seu conhecimento sobre Odontologia Digital e escolha cursos de acordo com as normas do MEC e registrados no CFO.

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