Julho Laranja: Prevenção Ortodôntica desde a Infância

Com o lema “Cuidados precoces, sorrisos para toda vida” a campanha Julho Laranja visa conscientizar as pessoas sobre a necessidade de corrigir problemas ortodônticos a partir dos cinco anos de idade.

Você, colega ortodontista, tem a grande chance de orientar os pais sobre os métodos de higiene bucal e indicar a intervenção ortodôntica ainda em fase precoce quando a má oclusão já começa a prejudicar o crescimento do seu paciente.

Também odontopediatras e cirurgiões-dentistas clínicos gerais podem alertar os responsáveis sobre o erro na mordida e a necessidade de tratamento, já que muitas vezes a criança vai primeiro a uma consulta com estes profissionais.

A questão é: como explicar tudo isso, convencer uma criancinha e mantê-la motivada a cooperar? É o que vamos entender melhor ao longo desta matéria!

Qual a finalidade do Julho Laranja para a Odontologia?

Idealizada em 2019 pela ortodontista e odontopediatra Dra. Cibele Albergaria, o Julho Laranja se vale do mês de férias para que os pais tenham a oportunidade de levar os filhos para a primeira consulta ortodôntica!

Promover a saúde bucal e o bem-estar de crianças também alavanca a qualidade de vida:

  • Distúrbios oclusais,
  • Apneia do sono,
  • Problemas com autoestima podem afetar o desempenho escolar.

É o momento ideal para observar o que está em desarmonia: existe má oclusão? Qual a gravidade? Erros esqueléticos? Alterações funcionais? Como a criança lida com a própria autoimagem?

A campanha foi delineada tomando como modelo o Outubro Rosa e visa elucidar a relevância da prevenção. A má oclusão pode surgir como resultados da interação dos fatores: herança genética, presença de hábitos parafuncionais, desequilíbrio da erupção (perda precoce e/ou retenção prolongada do dente decíduo).

Importância da prevenção ortodôntica

A Ortodontia Preventiva atua antes mesmo da má oclusão se instalar e tem início já desde o período pré-natal (com as orientações à gestante) e pode se estender até a puberdade. Tem por intuito estimular o aleitamento materno, o bom desempenho das funções orofaciais e impedir que os hábitos nocivos se instalem.

A Ortodontia Interceptiva objetiva corrigir uma desarmonia oclusal que se instalou (ou reduzir a severidade da mesma), nas dentições decídua ou mista, eliminar hábitos parafuncionais e preparar o caminho para o desenvolvimento da oclusão.

A prevenção é fundamental para estimular o crescimento facial equilibrado e pode ser aplicada através de medidas como:

  • Estímulo ao aleitamento materno exclusivo durante o primeiro semestre de vida: favorece a respiração do tipo nasal e beneficia o crescimento ósseo.
  • Orientações de higiene bucal: antes da erupção dentária é preciso começar a rotina de higiene sempre após a mamada. Isto garante um meio bucal limpo e acostuma o bebê com os cuidados do asseio da boca. A partir da erupção do primeiro dente inicia-se a escovação e, quando houver contato interproximal, também o uso do fio dental.
  • Prevenção da cárie: as consultas para prevenção bucal e a correta higiene oral são essenciais para evitar a cárie e, com ela, outros problemas associados como o medo de dentista, perda precoce de elementos decíduos, cáries extensas.
  • Preferência por alimentos fibrosos: o incentivo à mastigação recruta a musculatura mastigatória e acessória, ATM e demais estruturas para estimular os centros de crescimento e o correto posicionamento da mandíbula.
  • Remoção de hábitos parafuncionais: desafiador, porém, mostrar para os pais e para a criança os danos que podem surgir pela persistência do hábito é um bom motivador. Onicofagia, hábitos de sucção, respiração bucal, postura incorreta, deglutição atípica merecem atenção especial e o ortodontista pode atuar na eliminação destes problemas, sempre contando com a colaboração dos pequenos.

A importância da 1ª consulta ortodôntica

Converse com os pais, pergunte: o que motivou a consulta (queixa)? Qual a percepção de vocês? Esse primeiro contato é o começo de uma boa parceria: compreensão por parte dos pais e da criança, a colaboração de cada um para alcançar as metas do tratamento ortodôntico.

Material de Anamnese para o dentista baixar e utilizar no consultório odontológico

O exame clínico deve registrar: tipo de má oclusão, se há comprometimento das funções orofaciais, qualidade do sono da criança, investigar se possui hábitos deletérios. A partir disso, solicitar a documentação ortodôntica que vai completar o estudo e planejamento do caso (fotografias, radiografias, análises cefalométricas, modelos de estudo).

Por que o diagnóstico precoce é tão importante?

As consequências da falta de tratamento ortodôntico interceptivo quando a má oclusão já existe podem se refletir no crescimento orofacial e na saúde geral do paciente:

  • Síndrome do respirador bucal: a alteração no padrão de respiração ocorre em virtude de uma obstrução na passagem do ar, em que a criança respira de forma mista ou somente pela boca. Provoca alterações morfológicas na face: presença de olheiras, ausência de selamento labial, lábios hipotônicos, face alongada, atresia dos arcos dentários, mudança na postura da língua.
  • Apneia obstrutiva do sono: os bloqueios parciais intermitentes ou completos da passagem do ar são potencialmente perigosos – predispõem ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, prejuízos às funções metabólicas, fadiga, sonolência, queda no rendimento escolar. A ortodontia atua nos casos em que há retrusão mandibular promovendo o avanço da mandíbula por meio de aparelhos ortopédicos.
  • Presença de hábitos bucais parafuncionais: dependendo do tempo, da frequência e da intensidade com que um hábito se instala fica mais trabalhoso convencer o paciente para suspendê-lo. Possuem forte ligação com o estado emocional, em que pode haver uma dependência do hábito (porque são prazerosos, trazem conforto), sendo necessárias muita conversa e orientação profissional para ajudar na remoção. Os aparelhos funcionais reeducam postura da língua, selamento de lábio, trabalham a musculatura facial, estimulam o crescimento facial equilibrado.

Problemas ortodônticos tratados precocemente

A decisão pelo tratamento precoce considera os danos causados ao desenvolvimento e crescimento orofacial da criança. Um bom exemplo se trata dos distúrbios mastigatórios que podem afetar a postura da coluna cervical em quadros de má oclusão II severa com acentuado overjet.

A presença de má oclusão pode agravar a saúde bucal dos pequenos: aumento da incidência de cárie, doenças periodontais, risco maior de traumatismos dentários, alterações das funções estomatognáticas. A intervenção precoce promove a saúde e a qualidade de vida.

São tratadas ainda na dentadura decídua: mordida aberta, mordida cruzada anterior e mordida cruzada posterior. As outras más oclusões são corrigidas a partir da dentadura mista.

Leia também 👇

Correção de mordida aberta e tratamentos indicados

Tratamento em duas fases

A partir da consulta ortodôntica (análise clínica do paciente) e tomando por base a avaliação das idades dentária e esquelética determina-se o momento ideal para tratar ortodonticamente.

O tratamento em duas fases se justifica pela necessidade de reduzir a severidade da má oclusão em curso, o que facilita a segunda fase do tratamento com a ortodontia corretiva por simplificar a mecânica. A ortodontia interceptiva se aplica durante os estágios de dentadura decídua e mista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BARIANI, Rita Catia Brás et al. Effectiveness of functional orthodontic appliances in obstructive sleep apnea treatment in children: literature review. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 88, n. 02, p. 263-278, 2022.

2. DE CARVALHO, Sthefanie Lopes Vilhena; GROSSI, Ademir Tadeu Ribeiro. Paciente respirador bucal relacionado a ortodontia: revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 11, n. 14, p. e254111436421-e254111436421, 2022.

3. DE OLIVEIRA, Denise Gois et al. Abordagem odontológica na síndrome do respirador bucal em paciente infantil. Brazilian Journal of Health Review, v. 7, n. 1, p. 2780-2792, 2024.

4. DE RIDDER, Lutgart et al. Prevalence of orthodontic malocclusions in healthy children and adolescents: a systematic review. International Journal of environmental research and public health, v. 19, n. 12, p. 7446, 2022.

5. KLOSTERMANN, Isa et al. Relationship between back posture and early orthodontic treatment in children. Head & Face Medicine, v. 17, p. 1-8, 2021.

6. LOPES, Julianna Garcia et al. A Importância dos Métodos de Determinação das Idades Esquelética e Dentária na Ortodontia e Odontopediatria–Uma Revisão de Literatura. Revista Naval de Odontologia, v. 50, n. 2, p. 46-53, 2023.

7. MENDES, Beatriz Praciano; MAGALHÃES, Rebeca Canêda; CAETANO, Roberta Mansur. Ortodontia preventiva e interceptativa: benefícios à saúde oral. Research, Society and Development, v. 12, n. 6, 2023.

8. SERIGIOLI, Jaine Larissa Codato; GABRIEL, Núbia Idalete Alves Dantas. Ortodontia preventiva e interceptativa: diferenças entre os termos. Revisão de literatura. Journal of Multidisciplinary Dentistry, v. 12, n. 1, p. 159-63, 2022.

9. SILVA FILHO, O G; GARIB, D G; LARA, T S. Protocolo de tratamento em duas fases: definindo conceitos. Ortodontia Interceptiva – Protocolo de tratamento em duas fases. Artes Médicas, p. 15-52, 2013.

Comentários

Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *