Saiba mais sobre o traumatismo dental em pacientes infantis

A infância é uma fase cheia de desafios e permeada por instinto e curiosidade. Assim, estudos apontam a alta prevalência de acidentes nessa fase de descobertas e, muitos deles, envolvem a dentição decídua.

O traumatismo dentário ocorre quando temos alguma lesão de extensão e gravidade variáveis, provocada de maneira acidental ou intencional, envolvendo a região da boca (dentes e estruturas de suporte).

Principais causas do trauma dental na infância

Podemos dizer que existem algumas características que predispõem os indivíduos a ocorrência de traumatismos dentários como, por exemplo: o tamanho da cabeça, a fase de desenvolvimento neuromotor, a personalidade associada à curiosidade e sobressaliências, como por exemplo o overjet, overbite e ausência de selamento labial passivo.

Essas características, somadas a uma pequena distração dos pais e responsáveis, podem incorrer em acidentes envolvendo os dentes e tecidos moles, como por exemplo lábio, gengiva e língua. Porém, não nos cabe julgar ou apontar culpados. É necessário explicar que existe solução, esclarecer as dúvidas e resolver a situação conforme necessidade.

Sabe-se que as quedas são mais prevalentes na faixa etária dos 0 aos 3 anos de idade, enquanto colisões são mais prevalentes na faixa etária dos 4 aos 6 anos. Além disso, acidentes diversos, maus-tratos e iatrogenias também estão entre as causas comuns para o traumatismo dental.

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É importante lembrar que a maior incidência do trauma dental ocorre em crianças e adolescentes, portanto temos um adicional com o que nos preocupar: o controle do comportamento.

Muitas vezes, será a primeira consulta da criança ao dentista. Dessa forma, ela não conhece o profissional, não conhece o ambiente, e não terá tempo de ser apresentada de maneira gradual, já que muitas vezes a situação de traumatismo incorre em urgência e demanda intervenção o mais rápido possível.

Com isso, precisamos nos solidarizar com a situação emocional em que chega aquele paciente, muitas vezes ainda com dor, e ainda, a preocupação dos pais e responsáveis.

Organizar os sentimentos, conversar sobre o ocorrido em uma anamnese paciente e direcionada, minimizar o sentimento de culpa, se dispor a ajudar e explicar as variáveis envolvidas é fundamental para trazer a família para perto, para que se tornem aliados no momento do atendimento e para reduzir sentimentos de medo, angústia, preocupação, traduzindo-os em sentimento de confiança no dentista e maior segurança. Esse é o primeiro passo.

Classificação dos traumas dentários

As lesões traumáticas dentárias são classificadas de acordo com o tecido lesionado: tecido duro, tecido de sustentação e tecido mole.
Conheça as principais lesões causadas por trauma dentário:

1) Lesões em tecidos duros:

  • Trina de esmalte;
  • Fratura de esmalte;
  • Fratura de esmalte e dentina;
  • Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar;
  • Fratura coronorradicular sem exposição pulpar;
  • Fratura coronorradicular com exposição pulpar;
  • Fratura radicular.

2) Lesões em tecido de sustentação:

  • Concussão dental;
  • Subluxação;
  • Luxação lateral;
  • Luxação intrusiva;
  • Luxação extrusiva;
  • Avulsão dental;
  • Fratura do processo alveolar.

3) Lesões em tecidos moles:

  • Contusão;
  • Abrasão;
  • Laceração.

O tratamento está diretamente associado ao diagnóstico. O protocolo da Associação Americana de Traumatologia Dentária (IADT) traz um capítulo só com as condutas preconizadas para cada tipo de injúria na dentição decídua, e deixarei pra vocês um link para acesso a esse documento, na íntegra e, em português.

A minha dica é, além de se deliciar com a leitura, manter esse artigo sempre na gaveta do consultório. A qualquer tempo, tanto para recorrer em caso de dúvida, quanto para oferecer explicações adequadas aos pais e responsáveis.

Observação: Esse guia foi atualizado, portanto, temos o passo-a-passo preconizado para vocês.

Dicas de como proceder em casos de traumatismo dental

Diante disso, vão algumas dicas clínicas para a conduta do melhor atendimento para o paciente traumatizado, que provavelmente, não será um paciente agendado de maneira eletiva.

Dessa forma, esses casos normalmente serão os “encaixes” da agenda, teremos pouco tempo para nos organizar em relação ao tratamento, e alguns protocolos precisarão estar claros na memória para que consigamos agir de maneira rápida e efetiva.

Lembre-se: rapidez só funciona quando protocolada. Portanto, parta de uma anamnese responsável, procure equilibrar emocionalmente a criança e a família, forneça segurança, dê a devida atenção ao paciente e aos responsáveis, e proceda com o atendimento.

Acompanhamento clínico é extremamente importante!

Mesmo que a lesão aconteça ainda durante a fase de dentição decídua, alerte os pais da necessidade de acompanhamento e, sempre que necessário, realizar exames radiográficos complementares para avaliar o desenvolvimento do dente permanente sucessor.

É preciso lembrar que há íntima relação entre a raiz do dente decíduo e o germe do dente permanente, e esse contato pode incorrer em sequelas e anomalias envolvendo o elemento dental sucessor. Má formação dental, dentes impactados, distúrbios de erupção dental, hipoplasias e hipomineralização são alguns exemplos das possíveis consequências do trauma.

Portanto, o acompanhamento profissional adequado fornecerá mais precisão sobre como proceder diante de qualquer necessidade clínica o mais precocemente possível.
Como bonificação desse artigo e com base nas principais recomendações do novo GUIDELINE DA IADT de 2020, vão alguns pontos para não se esquecerem nesses atendimentos:

  • A maturidade da criança, a capacidade de cooperar com a emergência, o tempo para a esfoliação do dente decíduo e a oclusão são fatores importantes que influenciam o plano de tratamento;
  • É essencial que os pais recebam aconselhamento adequado sobre a melhor forma de controlar os sintomas. Algumas lesões podem causar dor intensa e pode exigir a prescrição medicamentosa;
  • Minimizar a ansiedade ao atendimento é essencial. A prestação do tratamento odontológico depende da maturidade e da capacidade de cooperação da criança;
  • Sempre que possível, evitar extrações dentárias especialmente na consulta de emergência ou inicial é uma boa estratégia;
  • Quando apropriado e a cooperação da criança permitir, opções de tratamento que mantenham a dentição decídua devem ser prioridade;
  • As discussões com os pais sobre as diferentes opções de tratamento devem incluir a possibilidade de consultas futuras de acompanhamento e considerar a melhor forma de minimizar o impacto da lesão no desenvolvimento da dentição permanente;
  • Principalmente para lesões mais complexas ou crianças de difícil comportamento, é essencial o encaminhamento rápido a uma equipe orientada para o tratamento infantil;
  • A contenção é utilizada para fraturas ósseas alveolares e, ocasionalmente, pode ser necessária em casos de fraturas radiculares e luxações laterais.

O trauma dentário é uma ocorrência comum, especialmente em crianças e adolescentes, e pode causar problemas futuros se não houver intervenção imediata e acompanhamento clínico. No entanto, com o tratamento adequado e medidas preventivas, é possível minimizar os danos e preservar a saúde bucal.

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Paciência, amor e muito estudo!

Sobre a autora:

Dra. Samantha Sousa | @drasamanthasousa

  • Cirurgiã-dentista
  • CRO-DF 12.880
  • Mestra em Odontologia (UnB)
  • Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Odontologia
  • Universidade de Brasília
  • Professora Titular de Odontopediatria do ICESP e Professora Substituta de Odontopediatria da UnB

Comentários

1 comentário
  1. Minha filha tem três anos e sofreu uma queda na escola bateu o dente e quebrou a ponta marquei dentista mas aqui onde moro e difícil achar pra idade dela fora q por conta do antibiótico q ela tomou no hospital quando ficou internada com pneumonia corroeu os molares não tem cáries nunca pegou chupeta ou mamadeira e doce só comeu a partir dos dois anos na escola por q eu mesma não dava estou preocupada com esse dentinho dela

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