O que é e como diagnosticar Hipomineralização Molar incisivo

Você já deve ter ouvido falar sobre hipomineralização em algum momento da vida. Lembra do assunto na faculdade, mas não deu tanta importância assim… Porém, chegando ao consultório, você tem observado, cada vez mais, alguns manchamentos específicos, majoritariamente na região de molares (sejam eles decíduos ou permanentes) ou incisivos. Pois bem. Sinto te falar, mas você precisar se atualizar porque este já está sendo considerado o problema do século na odontologia.

O termo hipomineralização é abrangente, e vai descrever todos os tipos de defeitos de desenvolvimento do esmalte (DDE) causados por alterações na fase de mineralização durante a odontogênese. Portanto, até mesmo a fluorose dentária é um tipo de hipomineralização.

>>>Leia mais: Fluorose dental: microabrasão do esmalte associado ao clareamento

Porém, neste artigo, eu pretendo conversar com vocês a respeito da hipomineralização de molares e incisivos (HMI) e também sobre a hipomineralização de molares decíduos (HMD).

O que é hipomineralização molar incisivo?

Estes, são alterações com a etiologia ainda não consensual, mas que podem ter como causa quaisquer tipo de alterações a nível de saúde durante a gestação ou durante o primeiro ano de vida da criança (períodos coincidentes com a formação do esmalte dos dentes decíduos e permanentes). Entre as possíveis causas estão: uso de medicamentos durante a gestação, doenças e estresses da mãe (no período pré natal); pacientes nascidos pré-maturos, com baixo peso ao nascer, que passaram por complicações no parto, infecções no período perinatal, hipóxia e, inclusive aqueles que nasceram por parto cesariana também possuem mais risco de desenvolver o defeito; e pacientes que passaram por quadro de pneumonia, bronquite, asma ou outras infecções respiratórias, amigdalite, otite, adenoide, catapora, problemas gastrointestinais, febre alta, problemas de saúde frequentes, uso excessivo medicamentos e, principalmente de antibióticos também parecem ser fatores envolvidos na causa da HMI e da HMD.

Porém, mesmo sem uma causa esclarecida na literatura, pode-se dizer que são defeitos congênitos e, além disso, com predisposição ou associação genética.

Os dentes mais frequentemente envolvidos são os molares e incisivos, por isso o nome.

Para classificação da hipomineralização

  • HMD: basta ter um dos molares decíduos acometido, podendo ou não ter envolvimento de caninos ou outros dentes.
  • HMI: basta ter um dos molares permanentes acometido, podendo ou não ter envolvimento de incisivos ou outros dentes.

Em relação à nossa conduta, precisamos nos atualizar para saber diagnosticar. Por ser um dente histologicamente alterado, a adesão é dificultada e, pode-se dizer, que esses dentes são mais suscetíveis ao desenvolvimento da doença cárie por conta da superfície porosa, acúmulo de biofilme com mais facilidade e, associado a hipersensibilidade, o paciente pode não realizar a escovação de maneira eficiente por conta da dor, o que vira nicho perfeito para instalação da doença. Além disso, são dentes mais frágeis, vulneráveis a quebras ou fraturas pós irruptivas e, dependendo da forma e tempo em que essas fraturas ocorrem, podem incorrer inclusive em erros de diagnóstico.

Vamos relembrar?

  • Hipoplasia: Defeito quantitativo (falta volume, falta QUANTIdade).
  • Hipomineralização: Defeito qualitativo (o dente teria forma completamente normal, volume normal, apenas com sua estrutura histológica, coloração e conformação alterada).

Porém, se eu atendo um paciente que não se recorda do dente ter fraturado, acha que o dente já “nasceu assim”, como vou identificar que um dente com hipomineralização (porém fraturado por conta da carga mastigatória pós irruptiva) não é um dente com Hipoplasia? Difícil, não é? Mas tudo isso é possível associar às queixas do paciente, bem como ao formato da fratura. Dente fraturado normalmente possuirá bordos agudos, enquanto dentes hipoplásicos possui margem brilhosa, arredondada, incompatível com quebra e, em locais específicos.

Se o diagnóstico, por si só, já é um desafio, imagine em relação ao tratamento! Temos que associar nossa conduta clínica com um plano de tratamento individualizado. Se o paciente tem dor, tratamos a dor. Se há queixa estética, oferecemos solução em relação a estética. Sempre lembrando que não se trata de um dente “normal” e com as mesmas propriedades mecânicas e de adesão de um dente sadio.

Entre as opções de tratamento, temos:

  • Laserterapia;
  • Fluorterapia (gel, verniz, bochecho, etc);
  • Dessenssibilizantes diversos;
  • Cariostático;
  • Instalação de bandas ortodônticas com recobrimento por ionômero de vidro;
  • Restaurações com ionômero (em que o padrão ouro, para esses casos, seria o uso do civ de alta viscosidade);
  • Restaurações em resina composta (desde que com término em esmalte hígido);
  • Coroas (de aço, zircônia, pré-fabricadas ou não);
  • Entre outros…

Estes tratamentos devem ser associados e conjugados, de modo a conservar o máximo de estrutura sadia do dente envolvido, terminar com as queixas e proporcionar conforto e qualidade de vida ao paciente, com o maior tempo de vida desse dente em boca possível!

Ah, e mais um detalhe!
Se estes defeitos são de difícil compreensão até pra nós, dentistas, imagine para a cabeça de um papai, uma mamãe, ou mesmo pro paciente que possui esse tipo de problema. Assim sendo, como resultado da minha monografia da especialização, desenvolvi um pequeno e-book com informações essenciais sobre HMI/HMD voltado para pais e pacientes! Fiquem a vontade para encaminhar aos pais dos seus pacientes, ou utilizá-lo na consulta como forma de enriquecimento das suas explicações.

Paciência, amor e muito estudo!

Sobre a autora: 

Dra. Samantha Sousa | @drasamanthasousa

Cirurgiã-dentista
CRO-DF 12.880
Mestra em Odontologia (UnB)
Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Odontologia
Universidade de Brasília
Professora Titular de Odontopediatria do ICESP e Professora Substituta de Odontopediatria da UnB

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