Obturação endodôntica: conheça 4 técnicas

A finalidade da obturação dos canais radiculares é preencher permanentemente o espaço anteriormente ocupado pela polpa radicular com materiais inertes e antissépticos, que promovam um selamento tridimensional de forma a eliminar qualquer comunicação com o meio externo via oclusal, apical ou sistema de canais radiculares e, de preferência estimulando e não interferindo no processo de reparo apical e periapical.

O momento oportuno para fazer a obturação dos canais radiculares deve ser avaliado criteriosamente. Alguns requisitos básicos devem ser preenchidos como:

  1. Os canais devem estar corretamente limpos e modelados
  2. Ausência de exsudação persistente (canal seco)
  3. Ausência de sintomatologia (dor) espontânea ou provocada
  4. Ausência de odor
  5. Ausência de mobilidade (relativo)
  6. Ausência de edema

Importante lembrar também que o dente modelado não deve ficar aberto na cavidade bucal por rompimento da restauração provisória.

A obturação pode ser executada em sessão única ou múltiplas sessões e quem determinará esta situação é a situação real e individual que o dente se encontra.

Como a obturação é feita?

O tradicional preenchimento do canal radicular compreende a associação de um cone de guta-percha principal mais cones acessórios combinados com um cimento para preencher os espaços entre os cones de guta-percha e a parede dentinária.

Em casos com ápices abertos, ou grandes reabsorções apicais, você pode fazer um tampão apical com algum cimento biocerâmico reparador, para em seguida continuar a obturação com guta-percha e cimento endodôntico.

Basicamente na maioria das técnicas de obturação, precisamos selecionar um cone principal que é baseado no tip (ponta) do último instrumento utilizado no comprimento de trabalho. Você deve observar o travamento do cone (1 a 2 mm aquém do comprimento real do canal) e indicamos a conometria (que é a radiografia de prova do cone).

Hoje em dia, por causa da conicidade variada dos instrumentos que usamos para modelagem dos canais, usamos cones de guta-percha com várias conicidades também, o que nos proporciona maior praticidade para obturar os canais e por vezes, conseguirmos obturar um canal com um cone único.

Quando você não tiver um cone específico para travar na região apical, você pode utilizar a régua endodôntica calibradora e uma lâmina de bisturi número 15, para ajustar o cone (figura 1).

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Figura 1

Recomendações

Antes de realizar a obturação é importante realizar a remoção do smear layer e depois realizar a irrigação final com soro, por exemplo. Após isso, você pode usar a capillary tips (Ultradent) para remover o excesso de líquido irrigante do canal e depois cone de papel em células (cell-pack) que já vem esterilizados (figura 2).

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Figura 2

Antes de inserir a guta-percha no interior dos canais é importante realizar a desinfecção do cone, seja com hipoclorito de sódio ou clorexidina. Obviamente todos os procedimentos devem ser feitos com isolamento absoluto, desde o acesso endodôntico até a restauração final do dente.

Principais técnicas de obturação

Existem várias técnicas que podemos realizar para obturar os canais radiculares. Iremos listar as principais técnicas para interesse do clínico.

  1. Técnica da condensação lateral
  2. Técnica Híbrida de Tagger
  3. Técnica do cone único
  4. Técnica de onda contínua de compactação

Técnica de Condensação lateral

A condensação lateral é a técnica mais popular de obturação tanto na prática quanto no ensino, na maioria das instituições.

Indicações: pode ser utilizada na maioria das situações. As exceções são os canais severamente curvos ou com anormalidades de forma ou irregularidades como reabsorções internas. Entretanto, essa técnica pode ser combinada com outras técnicas.

Vantagens: técnica relativamente simples, requer poucos materiais (espaçadores e compactadores) e existe um controle no comprimento da obturação.

Desvantagens: não forma uma massa homogênea e podem ocorrer fraturas radiculares verticais devido a força exacerbada na inserção dos espaçadores.

Descrição da técnica:

1. Seleção do espaçador e do Calcador: a seleção e teste devem ser realizados durante a limpeza e modelagem do canal. Encontramos no mercado 4 espaçadores digitais e listaremos a seguir o tip (ponta) e taper (conicidades) de cada um deles (figura 3).

A (20.02)
B (20.03)
C (30.05)
D (35.06)

Espaçadores digitais
Figura 3

Algumas escolas substituem o espaçador digital por limas K30 ou K25 de aço inoxidável com comprimento de 21 mm, podem ser usados espaçadores com a ativação ultrassônica ou até mesmo espaçadores cônicos de NiTi.

2. Assentar o cone principal com o cimento obturador, após a secagem final do canal. Esse cone deve ser escolhido baseado no último instrumento utilizado para modelagem do canal até o comprimento de obturação (CRD -1mm ou -2mm). Este cone principal deve apresentar uma resistência quando removido intencionalmente (travamento do cone). Indica-se radiografia da prova do cone. Você também pode levar o cimento às paredes do canal antes de inserir o cone principal.

>>> Leia mais: guia completo sobre cimentos endodônticos <<<

3. Abrir espaço com os espaçadores ou limas 1 a 2 mm do CT, realizando movimento oscilatório de curta amplitude de forma gentil (figura 4). A conicidade do espaçador ou lima exerce uma força mecânica que condensa lateralmente a guta-percha, criando o espaço para um cone acessório adicional. Cuidado com a pressão, deslocamento da obturação e fratura vertical da raiz.

4. Inserção de cones acessórios com cimento imediatamente após a remoção dos espaçadores ou limas.

5. Abrir espaço novamente e repetir até que os cones acessórios estejam entrando até o terço cervical. Evitar movimentos de rotação no sentido horário. Remover com movimentos de rotação no sentido anti-horário.

6. Radiografia para controle de obturação.

7. Cortar a obturação no nível da embocadura dos canais com condensador aquecido, movimento único, 1 mm abaixo do acesso do canal e em dentes anteriores: na mesma altura ou 1 mm abaixo da margem gengival.

8. Compactação vertical: compressão por 3 minutos.

9. Limpeza da câmara pulpar, de acordo com o cimento utilizado, o que pode ser com água, álcool ou acetato de amila.

10. Selamento da cavidade.

Técnicas de obturação endodôntica
Figura 4

Técnica Hibrida de Tagger

Consiste na técnica aonde depois da condensação lateral são utilizados compactadores de MCSpadden para fazer a termoplastificação da guta-percha. Os compactadores de MCSpadden podem ser encontrados nos calibres de 25 a 140 e podem ser de 21 a 25 mm. Os compactadores de MCSpadden são como se fosse uma lima Hedstroen invertida (figura 5).

Compactadores de MCSpadden
Figura 5

Descrição da técnica:

1. Seleção do cone principal

2. Secagem do canal

3. Assentamento do cone principal mais cimento

4. Técnica da condensação lateral (com 2 ou 3 cones secundários): Espaçador + cones acessórios

5. Radiografia

6. Usar o compactador de McSapdden de 2 a 3 numerações acima do DC (Diametro cirúrgico) – trabalhar somente terço cervical e médio – a 4 mm do CT (ou até a curvatura) em sentido horário.
Os compactadores de Mcspadden podem ser encontrados em aço inoxidável ou em níquel titânio. A MCSpadden deve ser inserida no contra-ângulo do seu equipo. Você deve introduzir no canal até encontrar resistência. Segurar firme o contra-ângulo, acionar o contra-ângulo (8000 a 12000 RPM), manter em posição por 3-4 segundos, pressionar em direção apical até 4-5mm do batente, manter por 1 segundo para aliviar a pressão permitindo a saída suave do compactador, retirar tocando uma parede, compactar verticalmente a guta-percha amolecida e radiografia comprobatória.

7. Remoção do excesso com instrumento aquecido, limpeza e blindagem da câmara pulpar.

8. Se houver necessidade de correção: plastificar novamente a guta-percha, abrir espaço lateral na massa obturadora. Colocar mais 1 ou 2 cones acessórios, escolher um compactador de calibre maior (1 número) e realizar as manobras descritas anteriormente.

Vantagens: Possibilidade de correção da obturação, tempo de trabalho, consumo de material, reabsorção interna, bom selamento, custo benefício.

Desvantagens: Ausência de batente apical, aquecimento radicular, extravasamento do material e fratura do compactador.

Cuidados:

  • Não utilizar rotação no sentido anti-horário
  • Evitar movimentos de vai-e-vem
  • Não usar sem batente adequado
  • Não se aproximar demasiadamente do batente apical (no máximo 4 mm aquém)
  • Treinamento prévio – dentes extraídos

Técnica de obturação do cone único

Nesta técnica, a diferença é que você usará somente um cone de guta-percha para obturar o canal. Muitas vezes o uso de régua calibradora para o ajuste deste cone se faz muito importante.

Se limita aos canais em que podemos observar que somente um cone específico, com conicidade específica, se adapta ao canal radicular sem necessidade ou possibilidade de colocar cones acessórios.  Para facilitar a técnica e corte do cone, podem ser usadas ponteiras de termocompactadores ou os tradicionais calcadores de paiva aquecidos em lamparina (figura 6).

Técnicas de obturação endodôntica
Figura 6

Técnica de onda contínua de compactação

A termoplastificação proporciona um melhor selamento e preenchimento das regularidades. É feita a plastificação da guta percha no interior do canal com um instrumento aquecido, seguido uma imediata compactação vertical.

Existem duas fases nesta técnica de obturação: a Fase de Downpack (coroa ápice) e a passe do Backpack ou Backfill (ápice coroa).

Fase de Dowpacking

A parte do cone de guta-percha que se sobressai na câmara pulpar é cortada com transportador de calor. Com o maior dos compactadores escolhidos, a guta-percha então é compactada coronariamente.

O objetivo é alcançar sempre a maior área de guta-percha amolecida e movimentá-la na direção apical. O compactador neste processo é pressionado em sentido apical com movimentos curtos e firmes para dentro da guta-percha.

O transportador de calor é brevemente aquecido, introduzido por 3 a 4 mm na guta-percha e imediatamente retirado. Então, a guta-percha termoplastificada agora pode ser compactada na direção apical por aproximadamente 10 segundos. As paredes da cavidade devem estar livres de guta percha.

Utilizam-se compactadores cada vez menores para que, durante a compactação não entre em contato com a parede do canal. A troca rítmica entre aquecimento e introdução é mantida até uma profundidade de 5 a 7 mm do comprimento de trabalho. A caneta termoplastificadora realiza a fase inicial de corte, plastificação e condensação da guta-percha dentro dos canais.

Os transportadores de calor não são prejudiciais e não sobreaquecem o dente. Apesar de terem temperaturas de 200 a 300 graus Celsius, eles não excedem a temperatura corporal externa de 10 graus Celsius (figura 7).

Figura 7 (Fonte: easy equip. odont.)

Fase do backpacking

Após o downpack, o canal é obturado sucessivamente de apical para coronal nos seus terços médio e coronários. Para tanto, são introduzidos no canal pedaços de guta-percha de 3 a 4 mm, que são aquecidos e compactados com os compactadores (técnica de Schilder). A guta percha também pode ser injetada e compactada diretamente no canal. O injetor térmico preenche o espaço criado dentro dos canais pela primeira fase da técnica, através da injeção automática de guta-percha aquecida.

Uma cânula pré-curvada e aquecida é introduzida no canal até que entre em contato com a guta percha que já foi compactada no canal, e em seguida aplicam-se pequenas porções de guta-percha termoplastificada. Com esse aquecimento, garante-se a coesão e homogeneidade da obturação de guta-percha durante o backpacking (técnica de onda contínua de compactação).

Importante: a guta-percha sofre contração após o aquecimento, devemos compensar na compactação vertical. (figura 8)

Figura 8 (Fonte: easy equip. odont.)

Conclusão

Muitas vezes em forames mais amplos, necessitamos realizar técnicas dos cones moldados ou rolados ou mesmo fazer um tampão apical com cimento biocerâmico reparador. Cada caso deve ser avaliado minuciosamente e planejado para evitar erros.

Importante lembrar que todas as fases são importantes quando realizamos um tratamento endodôntico e não se esqueça, seu paciente é o amor de alguém. Cuide, zele por ele e faça nas outras pessoas o que você gostaria que fizessem em você mesmo. Aliás, você gostaria de ser atendido por um profissional como você mesmo?

Referências Bibliográficas

Camargo, Maurício. Endodontia clínica: à luz da microscopia operatória: visão, precisão e previsibilidade. Nova Odessa, SP: Napoleão Editora, 2016.

Torabinejad, Mamoud; Walton, Richard. Endodontia e práticas. 4ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

Baumann, M; Beer Rudolf. Endodontia. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Ramos, Carlos Alberto Spironelli; Bramante, Clóvis Monteiro. Endodontia: fundamento biológicos e clínicos. Editora Santos, 2001.

 

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