Sorriso Harmonioso: As Chaves da Estética e Funcionalidade Oclusal na Ortodontia

O paciente chega no seu consultório e te faz a queixa: “Doutor(a), eu quero melhorar o meu sorriso, não estou feliz assim.” De imediato, você percebe que, além dos problemas ortodônticos que ele apresenta, a motivação pessoal traz um forte impacto na sua autoestima. Como tratar o caso do seu paciente para equilibrar a oclusão e devolver a estética do sorriso?
Este é um desafio para ser planejado a partir do estudo completo do paciente: exame clínico, análises cefalométricas, análise dos modelos de estudo e das relações estéticas do sorriso em relação à face.
Para atingir o engrenamento oclusal harmônico entre os arcos dentários é necessário encaixar os dentes de modo que as relações transversal, sagital e vertical dos arcos estejam bem estabelecidas, favorecendo contatos balanceados durante os movimentos mandibulares, preservando a função da ATM. Em 1972, Andrews elaborou seis objetivos oclusais a serem atingidos na correção ortodôntica para devolver a estabilidade oclusal e a agradabilidade do sorriso.

As seis chaves da oclusão normal de Andrews

Ao examinar 120 modelos de pacientes que apresentavam características comuns de estabilidade dos contatos oclusais, os quais sem tratamento ortodôntico, Andrews elaborou os conceitos que definem a morfologia desta oclusão equilibrada. A partir destas observações ele estruturou as seis chaves para a oclusão ideal baseada em:

1ª Chave – Relação interarcos

Está subdividida em sete atributos:
1.1- A cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior permanente oclui no sulco situado entre as cúspides mesial e a mesiovestibular do primeiro molar inferior permanente.
1.2- A crista marginal distal do primeiro molar superior permanente oclui sobre a crista marginal mesial do segundo molar inferior permanente.
1.3- A cúspide mesiopalatina do primeiro molar superior permanente oclui na fossa central do primeiro molar inferior permanente.
1.4- As cúspides vestibulares dos pré-molares superiores estabelecem uma relação cúspide-ameia com os pré-molares inferiores.
1.5- As cúspides palatinas dos pré-molares superiores se assentam em um engrenamento cúspide-fossa com os pré-molares inferiores.
1.6- O canino superior mantém a oclusão do tipo cúspide-ameia entre o canino e o primeiro pré-molar inferiores, estando a sua ponta de cúspide localizada ligeiramente mesial a esta ameia.
1.7- Os incisivos superiores são posicionados sobrepostos aos incisivos inferiores, coincidindo as linhas médias entre os arcos dentários.

2ª Chave – Angulação da coroa

O terço cervical dos longos eixos das coroas dentárias posiciona-se distalmente em relação à incisal/oclusal dos dentes, marcando uma angulação positiva. O sentido contrário configura angulação negativa.

3ª Chave – Inclinação da coroa (relação vestibulo-lingual das coroas)

As inclinações dos incisivos superiores são sempre positivas, já os caninos, os pré-molares e molares superiores às inclinações são todas negativas. As inclinações dos dentes inferiores tornam-se progressivamente mais negativas a partir dos caninos inferiores até os molares.

4ª Chave – Rotações dentárias

Não devem existir rotações dentárias.

5ª Chave – Contatos interproximais

Os contatos dentários interproximais precisam ser justos.

6ª Chave – Curva de Spee

A curva de Spee necessita ser plana ou com profundidade suavemente côncava.

Exceções à chave dos molares: tratamentos compensatórios da classe II e da classe III

Em pacientes que apresentam más oclusões dento-esqueléticas de classe II ou III é preciso observar os parâmetros cefalométricos e as relações com os tecidos moles (lábios, mento) para avaliar a possibilidade de um tratamento compensatório.
Extrações de pré-molares superiores na classe II, os molares irão finalizar em classe II. Extrações de pré-molares inferiores na classe III, os molares irão concluir em classe III, mas, em ambos os casos, os caninos irão ocluir em relação de classe I.
Os prejuízos à estética facial na presença de erros esqueléticos severos precisam ser ponderados para indicar a correção através do tratamento orto-cirúrgico. Se não houver o consentimento do paciente para este tipo de correção, deve-se alertar para o que é possível corrigir com o tratamento compensatório, quais as posições finais dos dentes e o que esperar nas mudanças de perfil para as duas abordagens de tratamento.
O tratamento compensatório das más oclusões dento-esqueléticas da classe II e da classe III, precisa considerar o posicionamento dos incisivos nas bases ósseas para não comprometer a estabilidade deles no pós-tratamento, além de não acarretar danos aos tecidos periodontais, sem ultrapassar os limites da correção ortodôntica.
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Parâmetros funcionais da oclusão

Além das relações estáticas postuladas por Andrews, é preciso atentar para a dinâmica da oclusão destacada por Roth:
  • Máxima intercuspidação habitual (MIH) deve coincidir com a relação cêntrica: quando a relação cêntrica não coincide com a MIH existe a chance ocorrer erros no diagnóstico oclusal, que podem resultar em falhas na correção ortodôntica.
  • RC: Posição em que os côndilos mandibulares se situam em posição ortopédica de estabilidade.
  • MIH: Relação em que existe o maior número de contatos nos dentes posteriores, nem sempre coincide com a RC, pode demonstrar o acomodamento dentário alcançado pelo paciente.
  • Na relação cêntrica todos os dentes posteriores precisam estabelecer oclusão axialmente e os dentes anteriores devem manter um distanciamento de 0,0005 cm em relação aos incisivos inferiores.
  • Nos movimentos de lateralidade dos caninos, os dentes posteriores necessitam desocluir.
  • Nos movimentos de protrusão, os incisivos superiores tocam os inferiores e ocorre a desoclusão dos dentes posteriores.
  • No decorrer de movimentos excursivos, não pode existir interferência no lado de balanceio, a fim de que a mandíbula se mova livremente.
O sorriso do seu paciente quando olha no espelho logo após a remoção do aparelho ortodôntico dá uma sensação enorme de satisfação, não é mesmo? Afinal de contas, o tempo dedicado ao tratamento foi uma parceria entre você e seu paciente: cada etapa da correção precisou ter o seu empenho e a colaboração dele para alcançar os resultados!

Sobre a autora:

Dra. Uila Ramos | @uilaramos_odontologia

CRO-PE 10.380
Graduada em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco
Ortodontista formada pela Faculdade de Odontologia do Recife

Referências
1- DE LIMA, Eduardo Martinelli Santayana; SOUZA, Margareth Maria Gomes; MONNERATº, Maria Evangelina. Oclusão normal – Revisão de conceitos.
2- FATTORI, Liana; BRANGELI, Liliana Ávila Maltagliati; CAPELOZZA FILHO, Leopoldino. Avaliação da inclinação dentária no tratamento compensatório do padrão II com tomografia computadorizada. Dental Press Journal of Orthodontics, v. 15, p. 118-129, 2010.
3- MALTAGLIATI, Liliana Ávila et al. Avaliação da prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews, em jovens brasileiros com oclusão normal natural. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, v. 11, p. 99-106, 2006.
4- MOURA, Renata Oliveira de Labio; CRUZ, Karina Santana. Tratamento ortodôntico compensatório da má oclusão de Classe III esquelética. Orthod Sci Pract, v. 8, n. 29, p. 80-8, 2015.
5- OHASHI, Amanda Sayuri Cardoso; NASCIMENTO, Karen Costa Guedes do; NORMANDO, David. Análise da correlação entre a angulação (mesiodistal) dos caninos e a inclinação (vestibulolingual) dos incisivos. Dental Press Journal of Orthodontics, v. 16, p. 79-86, 2011.
6- OLTRAMARI, Paula Vanessa Pedron et al. Importance of occlusion aspects in the completion of orthodontic treatment. Brazilian dental journal, v. 18, p. 78-82, 2007.
7- POLETTO, César Augusto Rodenbusch et al. Prevalência das chaves de oclusão de Andrews nos pacientes que procuram tratamento ortodôntico. Ortho Sci., Orthod. sci. pract, p. 47-51, 2016.

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