Odontologia Hospitalar: Uma entrevista com uma profissional da área!

Você sabe o que é Odontologia Hospitalar? Pois bem, desta vez de maneira inédita por aqui, trouxe na íntegra uma entrevista realizada com Dra. Ada Lavor Pellegrini é cirurgiã-dentista.

Ela é mestre em Odontopediatria e especialista em Pacientes com Necessidades Especiais. Também é habilitada em Odontologia Hospitalar. Ada é uma referência no atendimento de pacientes com necessidades especiais e cuidados paliativos em Campos dos Goytacazes-RJ.

A entrevista foi uma forma de entender melhor o que é novo na odontologia. Esse novo conhecimento não faz parte da grade curricular da maioria das faculdades de odontologia no Brasil. No entanto, ele tem ganhado destaque no mercado. Isso se deve ao reconhecimento dos benefícios de sua prática.

Os parágrafos seguintes relatam algumas perguntas realizadas por mim e respondidas pela Dra. Ada Lavor durante o nosso bate-papo. Confira!

O que é a Odontologia Hospitalar?

A odontologia hospitalar é apoiada pelo projeto de lei (PL) n°452 de 2022 e n°400 de 2023. Existem outros projetos, como o PL 883/2019. Este último fala sobre a presença obrigatória do cirurgião-dentista nas equipes hospitalares. Isso vale tanto para o sistema único de saúde quanto para hospitais particulares e filantrópicos.

No início, a odontologia hospitalar era apenas um curso de habilitação. O objetivo era preparar o cirurgião-dentista para atuar em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Com o tempo, essa atividade ganhou importância. Os dentistas se destacaram na linha de frente durante a pandemia de Covid-19.

Essa habilitação tem o objetivo de se tornar uma especialização. Ela não permite que o aluno tenha apenas experiência em um hospital ou UTI. O aluno também terá experiência em cuidados domiciliares e em processos de desospitalização.

Hoje, a expectativa de vida é maior. As pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade de vida. Por isso, a assistência médica e odontológica é importante. Isso é necessário para ajudar pacientes acamados a saírem do hospital e receberem cuidados em casa.

Então, o dentista habilitado, que hoje especialista, tem uma experiência que a graduação em odontologia não nos oferece ainda, na maioria das faculdades. É algo que envolve a odontologia e também a medicina. Para mim, isso é o grande encanto dessa especialização.

É preciso sempre aprender mais sobre fisiologia e fisiopatologia. Isso ajuda a entender melhor os processos patológicos que afetam a saúde de um paciente. Esses problemas geralmente começam na saúde bucal.

Assim, é muito importante que os cursos de odontologia incluam a disciplina de odontologia hospitalar. O cirurgião-dentista recém-formado precisa conhecer a rotina hospitalar. Isso inclui as enfermarias e as unidades de terapia intensiva. Essa rotina é bem diferente da de um consultório odontológico.

Qual a diferença entre a odontologia hospitalar e a odontologia de consultório?

A maior diferença é que no consultório o cirurgião-dentista está em sua zona de conforto. Ele tem todos os equipamentos à disposição. Ele sabe onde está cada item necessário para facilitar o atendimento.

O paciente chega bem para seu acompanhamento e tratamento. Ele pode precisar de uma cirurgia de implante dentário, um tratamento periodontal ou algo relacionado à estética dos dentes. Enfim, tudo é linkado com a cavidade oral.

No consultório, temos a responsabilidade de fazer o diagnóstico. Apresentamos as opções de tratamento para o paciente. Ele decide com base na sua saúde bucal. Às vezes, a decisão também depende da sua situação socioeconômica e saúde geral naquele momento.

Dentro do hospital, é preciso se adaptar à equipe e às condições de saúde do paciente. Todas as decisões são feitas em conjunto com a equipe médica. Isso significa que não agimos sozinhos.

Além disso, é preciso ajustar todas as condições do paciente na UTI. O atendimento é feito com o paciente em situações de grande vulnerabilidade.

Por exemplo, isso pode ocorrer quando o paciente está intubado. Assim, procedimentos simples podem não ser recomendados nesse momento. Portanto, é necessário conhecer todas as comorbidades existentes naquele indivíduo para conseguir atuar da forma mais segura.

Em quais locais em um hospital o cirurgião-dentista habilitado em odontologia hospitalar pode atuar?
O dentista que trabalha em hospital pode atuar na oncologia. Ele faz o acompanhamento da saúde bucal dos pacientes. Também observa os efeitos colaterais do tratamento oncológico na boca.

Pode atuar nas enfermarias, acompanhando pacientes pós cirúrgicos e em processos de internação de longos períodos. Existem unidades hospitalares que também possuem um consultório odontológico dentro de suas instalações, por exemplo.

Além disso, os cuidados de higiene oral são muito importantes. Exodontias e tratamento periodontal também são realizados. O tratamento restaurador traumático, suturas e remoção de aparelhos fixos são exemplos de procedimentos feitos.

O diagnóstico de infecções oportunistas e lesões bucais também é parte do trabalho. Esses procedimentos podem ser realizados pela odontologia hospitalar. E em casos de procedimentos mais complexos e invasivos, é preciso usar o centro cirúrgico. Isso garante mais segurança ao paciente.

O que mais te encanta na Odontologia Hospitalar?

Na verdade, eu costumo dizer que eu amo cuidar de pessoas de 0 a 100 anos. Então o meu público-alvo é cuidar desde o bebê até ao idoso, indo da odontopediatria a odontogeriatria.

E dentro desse público, é importante cuidar de pessoas com problemas de saúde. Elas precisam de cuidados especiais. Isso inclui quem tem doenças crônicas ou alterações de comportamento e neurológicas.

É necessário ir além da técnica da odontologia. Também devemos estudar psicologia e comportamento humano. Isso ajuda a entender a complexidade de um organismo em desequilíbrio.

Atender pacientes com necessidades especiais é muito gratificante. Isso se deve aos desafios de cada atendimento e à necessidade de aprender sempre.

Qual o maior desafio no ambiente de trabalho coordenando a odontologia da unidade de terapia intensiva de um hospital?

O maior desafio pode ser tomar decisões rápidas. Isso deve ser feito com base no quadro clínico do paciente.

Também é importante considerar o risco de complicações. Infecções bucais podem levar a sérios problemas, até risco de morte.

Ter o apoio da equipe médica faz muita diferença. Isso é uma via de mão dupla. Os médicos também veem a importância do dentista na cura do paciente.

Você já sofreu preconceito por ser uma cirurgiã-dentista em ambiente hospitalar?

Hoje não mais, mas quando terminei a habilitação, ouvi muito de profissionais de saúde e de leigos. A frase era: “O que o dentista vai fazer num hospital?”. Porém, hoje onde eu atuo a Odontologia Hospitalar tem seu valor reconhecido dentro da equipe.

O nosso principal papel é buscar focos de infecções na boca. Essas infecções podem se espalhar pelo corpo. Também treinamos a equipe de enfermagem para cuidar da saúde bucal.

Além de praticar todos os dias a conscientização sobre a importância dessas atividades, é preciso entender o porquê delas. Não basta apenas executar, é necessário saber o motivo.

Depois desta aula, conseguimos explorar um novo caminho na odontologia. Há muitas possibilidades que essa área pode nos oferecer.

Desde 23 de agosto de 2023, a Odontologia Hospitalar é uma especialidade odontológica. Isso foi decidido em uma assembleia. A assembleia foi conjunta entre o Conselho Federal de Odontologia e os conselhos regionais.

E em breve, os critérios e toda regulamentação serão divulgados pelo CFO para apreciação da nossa comunidade dentista.

Gostaram do conteúdo? Se tiver alguma dúvida ou pergunta pode deixar aqui nos comentários para podermos respondê-la.

Até o próximo texto!

Informações sobre o autor:

Patrick Brito l @trickbrito

Acadêmico do 7º período de Odontologia

Engenheiro, Mestre e Doutorando

Sobre a entrevistada:

Dra. Ada Lavôr | @ada_lavor_odontologia

Mestre em Odontopediatria;

Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais;

Habilitação em Odontologia Hospitalar, Ozonioterapia e Laserterapia.