Pacientes com diabetes: qual a conduta odontológica?

Você sabia que o número de pacientes diabéticos no consultório odontológico é grande?

Segundo a Federação Internacional de Diabete (IDF), a doença afeta cerca de 16 milhões de brasileiros.

Além disso, estima-se que 3 a 4% dos pacientes adultos que procuram tratamento odontológico são diabéticos, – sendo que a maioria deles desconhece a sua condição.

Continue a leitura para obter mais informações sobre o tema, incluindo a importância do cirurgião-dentista para o diagnóstico da doença e os principais cuidados odontológicos com diabéticos.

Cirurgião dentista aferindo a diabete do seu paciente antes de iniciar o tratamento odontologico

O que é diabete?

Diabete mellitus é o nome dado a um conjunto de doenças metabólicas de etiologia múltipla.

Ela é caracterizada pelo excesso de glicose (hiperglicemia), que ocorre devido a problemas na secreção ou ação do hormônio insulina que não consegue controlar os níveis de glicose no sangue.

Quando mal controlada, a diabetes pode acarretar complicações renais, problemas arteriais e amputações, infecções por fungos e bactérias, doenças bucais e, em casos mais graves, levar à morte.

Classificação do diabetes

A diabete pode ser classificada em:

Diabete tipo 1:

O tipo 1 representa de 5% a 10% do total de pessoas com a doença.

Pacientes com essa condição não produzem insulina suficiente para metabolizar a glicose, logo, precisam fazer uso regular de insulina e/ou de outros medicamentos para controlar o nível de glicose no sangue.

A doença acomete principalmente crianças e jovens na puberdade, mas também pode ser diagnosticada em adultos.

Diabetes tipo 2:

É o tipo mais frequente da doença e corresponde a 90-95% dos casos.

Ocorre quando o pâncreas produz a insulina, mas o organismo do paciente não responde à sua ação devido à escassez ou ineficácia dos receptores celulares.

Diabete Gestacional

Atinge em mulheres durante o período de gestação, devido a um bloqueio da ação da insulina pelos hormônios da gravidez.

Geralmente, a diabetes gestacional aumenta o risco de a mãe e a criança desenvolverem diabetes tipo 2 futuramente.

Outros tipos de diabetes

Existem também tipos específicos de diabetes decorrentes de defeitos genéticos, uso de medicamentos ou associada a outras doenças.

Os exemplos incluem Diabetes Monogênico – MODY (mutação genética da função da célula beta); diabetes neonatal, entre outros.

Fatores de Risco da Diabetes

Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença variam conforme o tipo de diabete melitus.

Fatores de risco Diabetes tipo 1:

  • Predisposição genética.
  • História familiar;
  • Infecções na infância
  • Fatores ambientais.

Fatores de risco Diabetes tipo 2:

  • Sedentarismo;
  • Obesidade;
  • Tabagismo;
  • hipertensão arterial;
  • Idade superior a 40 anos.

Fatores de risco Diabetes Gestacional:

  • Idade superior a 25 anos;
  • Baixa estatura (<1,50cm);
  • Obesidade ou ganho excessivo de peso na gestação;
  • Gordura abdominal excessiva;
  • Casos na família (parentes de 1º grau);
  • Crescimento fetal excessivo;
  • Polidrâmnio (líquido amniótico excessivo);
  • Hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez em curso;
  • Histórico de morte fetal ou neonatal, macrossomia ou diabete gestacional em gravidez anterior.

A Diabete Apresenta Sintomas?

Pacientes com diabetes podem apresentar diversos sintomas. Veja quais são eles de acordo com o tipo da doença:

Principais Sintomas da Diabetes Tipo I:

  • Polidipsia (sede excessiva);
  • Poliúria (aumento do volume urinário);
  • Polifagia (fome excessiva);
  • Perda de peso;
  • Fraqueza;
  • Fadiga;
  • Mudanças de humor;
  • Náusea e vômito.

Principais Sintomas da Diabetes Tipo II:

  • Polidipsia (sede excessiva);
  • Poliúria (aumento do volume urinário);
  • Polifagia (fome excessiva);
  • Perda de peso;
  • Visão embaçada;
  • Demora na cicatrização de feridas;
  • Formigamento nos pés e mãos.

Qual a relação entre diabetes e odontologia?

A diabetes tem uma grande influência na saúde bucal de pacientes, uma vez que uma pessoa diabética tem mais chances de apresentar problemas na boca, sobretudo se a doença não estiver controlada.

A doença periodontal, que inclui gengivite e periodontite, é uma das manifestações odontológicas mais comuns, e está associada a resposta imune deficiente em diabéticos, principalmente em pacientes com controle glicêmico inadequado.

Alterações como lesões de cárie, infecções orais, perda óssea e xerostomia também podem ser frequentes, causando desconforto e dificultando a mastigação e a fala.

Para minimizar esses problemas, o paciente deve manter um controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue, seguir uma rotina cuidadosa de higiene bucal e ir ao cirurgião-dentista regularmente.

Como o dentista pode contribuir para um diagnóstico?

O Cirurgião-dentista também tem um importante papel na identificação precoce da diabetes em pacientes odontológicos.

Para isso, recomenda-se cruzar informações coletadas em anamnese, análise clínica e em exames laboratoriais complementares.

O Cirurgião-dentista tem um importante papel na identificação precoce de um pacientes com diabetes.

Diabetes na odontologia: manifestações bucais comuns

Em relação a manifestações bucais da diabetes, é importante que o dentista fique atento às seguintes alterações:

  • Doenças periodontais de difícil controle;
  • Disfunções salivares como diminuição do fluxo e aumento de acidez e viscosidade;
  • Xerostomia;
  • Hipoplasia (desenvolvimento defeituoso dos tecidos);
  • Hipocalcificação do esmalte;
  • Presença de aftas e lesões;
  • Aumento súbito de cáries;
  • Infecções oportunistas frequentes (herpes, candidíase).
  • Distúrbios de cicatrização.

⚠️ATENÇÃO⚠️ Em caso de suspeita, o paciente deve ser encaminhado a um médico especialista (Endocrinologista) antes de dar sequência ao tratamento odontológico.

Quais os cuidados odontológicos com diabéticos antes do procedimento odontológico?

Confira as principais condutas odontológicas que devem ser seguidas antes e durante o atendimento de pacientes diabéticos.

Anamnese completa

A anamnese é a primeira etapa a ser realizada pelo cirurgião-dentista. A partir dela será possível definir a melhor conduta terapêutica segundo as particularidades do paciente diabético.

É necessário coletar o máximo de informações a respeito do tipo de diabetes que o paciente possui, tratamentos realizados e medicamentos que utiliza.

Além disso, é importante classificar o paciente de acordo com grau de risco para a realização de procedimentos clínicos.

Medição dos níveis de glicose

A glicemia refere-se à quantidade de glicose no sangue, sendo que o valor considerado normal de glicose na corrente sanguínea varia entre 70 e 110 mg/dL.

Os sinais vitais de pacientes com diabete devem ser aferidos pelo dentista com aparelho glicosímetro antes, durante e após as consultas.

Valores de referência:

  • Hipoglicemia <70mg/dl
  • Normal – 70 a 110mg/dl
  • Risco – 110 a 126mg/dl
  • Hiperglicemia >126mg/dl

⚠️ATENÇÃO⚠️ Pacientes com glicemia abaixo de 70 mg/dl ou acima de 100 mg/dl não devem passar por procedimento odontológico e precisam ser encaminhados imediatamente a um pronto-socorro. ⚠️

Horário e tempo de atendimento

As consultas de pacientes diabéticos devem ser realizadas idealmente pela manhã. É nesse horário que a glicemia do paciente diabético tende a estar mais equilibrada.

As sessões odontológicas devem ser curtas e menos traumáticas possíveis, a fim de evitar quadros de ansiedade.

Qual anestésico usar em pacientes diabéticos?

A Mepivacaína a 3% sem vasoconstritor e a Prilocaína associada ao vasoconstritor Felipressina são os anestésicos mais indicados para uso em pacientes diabéticos.

✅A felipressina pode ser administrada em pacientes diabéticos compensados por dieta, pacientes insulinodependentes ou pacientes que usam medicamentos hipoglicemiantes orais.

❌ A epinefrina, por outro lado, apresenta efeito fármaco oposto ao da insulina, favorecendo o aumento da glicemia em pacientes com diabete descompensado.

❌ Por este motivo, o uso de vasoconstrictores do grupo das catecolaminas como epinefrina, norepinefrina e neocoberfina deve ser evitado.

Pacientes com diabetes na odontologia: urgências e emergências

Em casos extremos, a diabete pode causar crises de hipoglicemia ou hiperglicemia. Logo, e o cirurgião- dentista deve estar preparado para uma intervenção imediata em consultório odontológico.

Pacientes com hipoglicemia

A hipoglicemia é caracterizada por uma queda súbita dos níveis séricos de glicose.

Pode ser constatada quando o paciente apresenta valores de glicose sanguínea abaixo de 40 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl) e sinais e sintomas específicos desse quadro.

São eles:

  • Náuseas;
  • Sudorese;
  • Palpitação;
  • Tremores;
  • Fadiga;
  • Visão turva;
  • Cefaleia;
  • Confusão mental;
  • Inconsciência;
  • Convulsões;
  • entre outros.

Conduta clínica

A conduta mais adequada durante um episódio de hipoglicemia seria:

  1. Concluir o atendimento odontológico;
  2. Sentar o paciente de modo confortável na cadeira;
  3. Oferecer um alimento rico em carboidratos como mel, suco de frutas, água com açúcar, tabletes de glicose etc.
  4. Monitorar a glicemia capilar após 15 minuto. Se continuar baixa, repita o processo.
  5. Se não houver normalização ou o paciente estiver inconsciente, acionar socorro médico e continuar monitorando os sinais vitais.
  6. Não aplicar insulina!

Paciente com hiperglicemia

A hiperglicemia ocorre quando os níveis de glicose no sangue estão muito elevados – acima de 126 mg/dl em jejum e acima de 200 mg/dl até duas horas após uma refeição.

O paciente com glicose elevada apresenta sintomas como:

  • pele seca;
  • hálito cetônico;
  • confusão mental;
  • náuseas/vomito;
  • respiração profunda e acelerada;
  • hipotensão;
  • taquicardia.

Conduta Clínica

  1. Neste caso, o cirurgião-dentista deve:
  2. Interromper o atendimento;
  3. Deixar o paciente confortável na cadeia;
  4. Acompanhar os sinais vitais
  5. Se necessário, administrar oxigênio e acionar socorro médico.

Por fim, o atendimento de pacientes diabéticos exige do dentista tanto conhecimento prévio sobre a doença quanto uma preparação para oferecer os melhores cuidados durante as consultas.!

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Fontes consultadas:

A importância dos cuidados com a saúde bucal para pessoas com Diabetes. CFO. Disponível em: https://website.cfo.org.br/a-importancia-dos-cuidados-com-a-saude-bucal-para-pessoas-com-diabetes/

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/diabetes

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