A busca pela estética tornou-se mais evidente nos consultórios odontológicos, resultando no aprimoramento das técnicas restauradoras e dos materiais odontológicos, principalmente o uso da resina composta fotopolimerizável – e o cuidado com a polimerização delas – e dos materiais adesivos.
Porém, uma consequência inerente das resinas compostas é o stress gerado pela contração de polimerização.
Atualmente, as resinas compostas fotopolimerizáveis perdem entre 2% a 3% de todo o seu volume após a polimerização, influenciando diretamente na qualidade e durabilidade da restauração.
A contração é uma consequência da polimerização, mas pode ser controlada para não gerar falhas no procedimento restaurador.
Nestes artigo, vamos abordar sobre o mecanismo de polimerização, Fator C e quais são as técnicas indicadas para mínimizar a contração de polimerização e promover o sucesso do caso clínico.
Contração de polimerização da resina composta
A polimerização da resina composta é um processo de transformação dos monômeros em polímeros, tornando o biomaterial rígido e resistente ao impacto mastigatório.
Como ocorre a polimerização da resina composta fotopolimerizável?
Quando a resina composta fotopolimerízável, é exposta à luz do fotopolimerizador odontológico, pcprre a ativação do fotoiniciador, formando radicais livres que quebram as ligações duplas do monômero e iniciam a formação de cadeias poliméricas.
O que é a contração de polimerização da resina composta?
A aproximação física entre as moléculas reduz o volume do material, gerando uma tensão nas paredes cavitárias, que pode causar:
- Sensibilidade pós-operatória;
- Microinfiltração;
- Infiltração marginal;
- Cárie secundárias;
- Fraturas marginais;
- Falhas na adaptação ao preparo;
- Descolamento da restauração;
- Trincas e fraturas no elemento dental.
Qual a diferença entre contração de polimerização e tensão de polimerização?
- Contração de polimerização é a redução volumétrica que ocorre quando os monômeros se transformam em polímeros durante a fotoativação;
- Tensão de polimerização: é a força gerada pela contração, transmitida para as paredes cavitárias e para a interface adesiva.

A intensidade da tensão depende de três fatores principais:
Composição da resina composta
- Quanto maior a quantidade de matriz orgânica (monômeros), maior a contração volumétrica;
- Resinas com menos carga, possuem mais matriz orgânica e apresentam maior contração;
- Resinas com mais carga , possuem menos matriz orgânica e apresentam menor contração.
2. Cinética da reação de polimerização
A velocidade com que a resina polimeriza interfere diretamente na tensão gerada. Uma polimerização extremamente rápida:
- Reduz o tempo de pré-gel;
- Rigidez precoce do material;
- Eleva significativamente a tensão interna.
Por isso, é importante verificar a potência da luz do fotopolimerizador odontológico com radiômetro e utilizar técnicas de fotopolimerização para controlar a cinética da reação.
3. Fator de configuração cavitária (Fator C):
Representa a proporção entre superfícies de resina que estão aderidas às paredes cavitárias e as superfícies livres de resina.
Quanto maior o número de paredes aderidas, maior o estresse gerado durante a polimerização.
Como calcular o fator C?
Fórmula simplificada do Fator C:
1. Fator C = (Superfícies aderidas) / (Superfícies livres)
2. Passos para calcular o fator C:
- Conte o número de paredes aderidas;
- Conte o número de paredes livres;
- Divida o número de superfícies aderidas pelo número de superfícies livres.

Em relação à contração de polimerização da resina composta fotopolimerizável, diversos fatores podem interferir na reação, podendo exacerbar ou diminuir seus efeitos:
- Composição da resina;
- Fator C;
- Técnica restauradora;
- Tipo de inserção da resina na cavidade;
- Forma de fotoativação;
- Técnica do profissional.
Além desses fatores, a falha na restauração pode ser explicada pelo motivo da resina composta, depois de ser inserida na cavidade, enfrentar uma batalha das forças de contração com as forças de adesão do sistema adesivo para se manter aderida às paredes da cavidade.
Como minimizar a contração de polimerização ?
Existem diversas estratégias clínicas que ajudam a controlar a contração de polimerização:
1. Técnica Incremental
- Padrão ouro;
- Inserção por incrementos, sem unir as paredes;
- Redução do volume polimerizado por vez;
- Melhor adaptação das paredes;
- Redução do Fator C por incremento;
- Direcionamento mais controlado da tensão.
Como aplicar a técnica:
- Use incrementos de no máximo 2 mm (resina composta convencional);
- Pense na aplicação como “cunhas” que encostam primeiro em apenas uma parede;
- Resultado: menor número de superfícies aderidas no início da polimerização, reduzindo o estresse.
2. Fotopolimerização gradual
Dentre as diversas técnicas de fotopolimerização, atualmente é indicada técnica de polimerização gradual, também chamada de técnica soft -start , que consiste em iniciar a fotopolimerização com intensidade mais baixa e aumentar gradualmente.
Benefícios da técnica:
- Baixa intensidade inicial, prolongando a fase pré-gel;
- A resina flui por mais tempo antes de polimerizar;
- Tensão se dissipa com maior facilidade;
- O estresse é reduzido sem prejudicar o grau de conversão.
3. Uso de materiais de Base/Forramento (Liner):
Materiais de base com propriedades elásticas moderadas e resilientes,, como o cimento de ionômero de vidro modificado por resina, atuam como um “amortecedor”, protegendo a interface adesiva.
4. Controle do fator C:
- Iniciar a inserção da resina pela parede que apresenta menor número de superfícies aderidas;
- Essa abordagem reduz o Fator C do primeiro incremento e distribui a tensão de maneira controlada.
5. Uso de resina bulk fill
As resinas bulk fill revolucionaram o manejo clínico da contração, permitindo incrementos maiores (4mm ou mais, conforme marca comercial), devido as seguintes características:
- Monômeros de maior peso molecular, que reduzem a contração;
- Fotoiniciadores específicos (de acordo com cada fabricante);
- Cinética de polimerização mais lenta, favorecendo menor tensão.
Devido as características estéticas, são mais utilizadas nas classes I e II ou como base de restaurações.
Dicas clínicas para minimizar a contração de polimerização
I. Qualidade da fotoativação
A efetividade da polimerização é diretamente proporcional à dureza do compósito, pois tem a intenção de aumentar as propriedades de dureza superficial, resistência à compressão e capacidade adesiva.
II. Fator C
A não observância do resultado desse fator nos traduz uma possível previsibilidade de falha da restauração.
III. Módulo de elasticidade
- Devemos ter atenção a capacidade do material restaurador de receber carga sem que sofra deformação;
- Logo, um baixo módulo de elasticidade traz à restauração a flexibilidade para competir com a contração de polimerização, melhorando o selamento e a longevidade da restauração.
IV. Técnica de inserção incremental
- A inserção da resina composta em incrementos reduz o volume de material polimerizado, diminuindo o stress na cavidade;
- Diversas possibilidades incrementais são sugeridas pela literatura. Cabe ao dentista verificar suas vantagens e limitações.
V. Habilidade profissional
É fundamental conhecer as características das resina compostas e as técnicas restauradoras para promover o sucesso clínico.
Fotopolimerização da resina composta
A fotopolimerização adequada é fundamental garantir conversão adequada do monômeros em polímeros e promover a longevidade da restauração.
Veja os passos fundamentais:
1. Intensidade e tempo de luz
- Utilize fotopolimerizadores com intensidade mínima de 800 mW/cm²;
- Intensidade ideal: 1000 mW/cm² (ou acima de 1000 mW/cm²);
- Tempo de polimerização: entre 20 e 40 segundos, de acordo com a translucidez e opacidade da resina;
- Resinas bulk fill, devido à espessura do incremento, necessitam de maior tempo de fotoativação (consultar a instrução de cada fabricante).
2. Posicionamento do fotopolimerizador
- A ponteira deve estar próxima e perpendicular à superfície da resina;
- Distância, angulação e centralização são fundamentais para controlar a energia recebida pela resina.
3. Colimação do feixe de luz
Colimação é a capacidade do feixe de luz chegar ao fundo da cavidade sem dispersão.
Quanto melhor a colimação:
- Menor perda de energia;
- Maior eficiência na profundidade;
- Polimerização mais uniforme.
O diâmetro da ponteira do fotopolimerizador também impacta na qualidade da polimerização, pois deve abranger toda a superfície do incremento.
4. Energia total
A dose de energia deve ser adequada para cada tipo de resina (flow, resina composta convencional e bulk fill);
Para aplicar a energia adequada, é fundamental consultar a instrução de uso do material restaurador, bem como do fotopolimerizador.
Fatores que influenciam na polimerização
- Potência do aparelho fotopolimerizador;
- Tipo do fotopolimerizador (LED Monowave ou Polywave);
- Tipo de fotoiniciador presente na resina;
- Resinas com fotoiniciadores que não são canforquinona (ex: Ivocerin, TPO) exigem LED Poly Wave (luz azul + violeta).;
- Tempo de exposição;
- Distância da luz em relação ao material;
- Espessura e translucidez do incremento de resina.
Conclusão
A contração de polimerização é uma consequência da transformação do monômero em polímero, mas é gerenciável se o dentista realizar as técnicas adequadas de restauração e fotopolimerização.
Para alcançar sucesso clínico, é fundamental aliar conhecimento técnico e tecnologia, como o uso de resinas bulk fill (quando adequadas ao caso) e fotopolimerizadores de última geração.
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