Problemas Verticais em Ortodontia: Sobremordida Exagerada ou Mordida Profunda

A educação em Odontologia, mais especificamente em Ortodontia, é o que nos mantém atualizados e com respaldo para tratar qualquer tipo de maloclusão em nossos consultórios.  

Também nos ajuda a realizar um correto encaminhamento a um especialista, quando assim for a indicação.   

Visto a importância da educação continuada em Ortodontia, trago um tema evidentemente importante relacionado à problemas verticais em ortodontia: a sobremordida exagerada.  

Por se tratar de uma maloclusão muito comum na população brasileira, o conhecimento sobre seus pormenores é essencial para um correto diagnóstico e tratamento.  

Logo, o intuito deste artigo é que o ortodontista, o cirurgião-dentista e o estudante de Odontologia que desejam conhecer um pouco mais sobre este universo, possam ter acesso a este conteúdo quando e onde quiserem. 

Tenha uma ótima leitura! 

Sobremordida exagerada ou mordida profunda

A sobremordida exagerada (overbite acentuado), também conhecida como “mordida profunda”, é uma maloclusão que merece a atenção não só do Ortodontista, mas também do dentista clínico geral.  

Isso porque há várias consequências advindas desta situação de anormalidade. 

Primeiramente, devemos nos atentar ao conceito do que é este tipo de maloclusão. De acordo com Strang (1950), a sobremordida caracteriza-se pelo transpasse dos incisivos superiores sobre os inferiores no plano vertical. 

Há alguns anos, Moyers (1991) nos disse que a sobrermordida exagerada é a sobreposição vertical excessiva dos incisivos, a qual pode estar associada a fatores esqueléticos ou somente à sobre-erupção dentária.  

Com essa informação, fica claro que a complexidade desta maloclusão pode variar muito, dependendo do envolvimento dentário ou da associação com fatores esqueléticos. 

Segundo o autor, é chamada de sobrermordida simples quando apenas dentes e processos alveolares estão afetados.  

Ou, no caso de envolvimento de outras características esqueléticas, ela pode ser considerada ainda como sobremordida complexa. 

Sobremordida normal 

Em torno de 1/3 de recobrimento dos incisivos inferiores pelos superiores, é o que se espera de uma sobremordida (overbite) considerada normal.  

Sendo assim, qualquer anormalidade no sentido de um maior recobrimento caracteriza a mordida profunda. 

Ainda, dentro do conceito da normalidade desta maloclusão, há autores que classificam a sobremordida de acordo com a porcentagem de cobertura ou recobrimento dos incisivos inferiores pelos superiores, visto que o valor normal estaria em torno de 30%.

Figura 1 – Mordida profunda.
Figura 1 – Mordida profunda – Fonte: Brito, Leite e Machado (2009)

Frequência e etiologia da sobremordida exagerada ou mordida profunda 

A prevalência de mordida profunda em pacientes é alta, cerca de 10,8% da população brasileira apresenta essa alteração bucal. 

A maioria dos indivíduos são do sexo masculino, em fase de dentição mista. 

Ela pode estar associada ao mau relacionamento vertical e ântero-posterior da maxila com a mandíbula e também à maloclusão de Classe II. Todavia, sua etiologia pode ser bem complexa.  

Os fatores dentários também são importantes aspectos etiológicos da sobremordida exagerada.  

Ou seja, os dentes posteriores podem estar em infraoclusão ou, ainda, pode haver extrusão em excesso dos incisivos inferiores ou superiores, levando a esta condição.

Figura 2 – Extrusão de caninos e incisivos inferiores. – Fonte: Brito, Leite e Machado (2009)

Por fim, a curva de Spee acentuada no arco inferior é uma característica que requer muita atenção no diagnóstico clínico, além, é claro, da análise dos modelos ortodônticos.  

Numa vista lateral dos modelos, é possível perceber como há uma erupção exagerada dos dentes anteriores ou, ainda, uma associação à sub-erupção da região média do arco dentário inferior. 

Figura 3 – Arco inferior com curva de Spee acentuada. – Fonte: VELLINI,F.F. Ortodontia:Diagnystico e planejamento cltnico-2 ediomo,Smo Paulo:Editora artes Mpdicas,1998

Diagnóstico diferencial

Para tratar corretamente é necessário também diagnosticar corretamente.  

Nesse sentido, várias análises devem ocorrer para que alguma anormalidade seja percebida, e ela começa quando o paciente entra no consultório do Ortodontista. 

As fotos iniciais permitem avaliar as proporções faciais do paciente, com especial análise para os terços que são proporcionais.  

Os planos palatal, oclusal e mandibular também devem ter uma correta relação, nem divergentes demais e nem convergentes demais.  

Aqui, um paralelismo parece ser o ideal para alguns. Mas é preciso que, neste e em outros casos, o diagnóstico também seja individualizado.  

O espaço livre funcional é muitas vezes esquecido pelos profissionais, sendo que ele deve ser de 1 a 2 milímetros. 

Com a foto do paciente de perfil e a radiografia cefalométrica é possível também observar e diagnosticar qualquer anormalidade dos dentes com o tecido mole do paciente (lábio superior). (Figuras 4 e 5).  

A distância entre o lábio superior e o bordo incisal dos incisivos superiores deve ser de 2 a 3 milímetros – variando um pouco em relação ao sexo e também em relação à idade do paciente. 

Quanto maior a idade do paciente, menor a exposição de incisivos em repouso. 

Figura 4 – Fotografia lateral e radiografia cefalométrica lateral. Atenção à distância entre o lábio superior e o bordo incisal dos incisivos superiores. A medida ideal é de 2 a 3 mm. – Fonte: Brito, Leite e Machado (2009)
Figura 5 – Fotografia lateral e radiografia cefalométrica lateral. Aqui há uma anormalidade na sobremordida, com maior exposição dos incisivos superiores em repouso. – Fonte: Brito, Leite e Machado (2009)

Avaliação do sorriso do paciente

Assim como na análise dos tecidos moles em repouso, obtida por meio de fotografias, também deve-se avaliar o paciente sorrindo.  

Neste caso, especial atenção deve ser dada aos diferentes tipos de arquiteturas do sorriso, com lábios formando diferentes desenhos.  

Sendo eles mais curtos, mais longos ou simplesmente com maior elevação junto aos músculos que trabalham durante o ato de sorrir. (Figura 6) 

Figura 6 – Fotografias frontais do sorriso de dois diferentes pacientes. Apesar da sobremordida profunda em ambos, no paciente de cima tem-se uma grande exposição de incisivos e de gengiva ao sorrir, fato que não ocorre com o paciente das fotos inferiores. Fonte: Brito, Leite e Machado (2009)

Consequências da sobremordida exagerada ou mordida profunda

Entre as principais possíveis consequências do não tratamento desta maloclusão estão: 

  • Problemas periodontais na região afetada; 
  • Problemas na articulação temporomandibular (ATM); 
  • Abrasão dentária; 
  • Traumas dentários; 
  • Mastigação inadequada; 
  • Dentre outros. 

Tratamento da sobremordida exagerada ou mordida profunda

Não será possível trazer aqui os principais tipos de tratamento desta maloclusão, mas podemos tentar resumi-los de alguma forma. 

Por exemplo, se o problema for dentário, a intrusão de incisivos superior, inferiores ou de ambos pode ser uma solução adequada.  

Bem como, se a face permitir, o tratamento pode envolver a extrusão de dentes posteriores com aparelhos auxiliares, como placas de mordida. 

Na dentição permanente o desafio fica um pouco maior, mas ainda existem algumas opções de tratamento. 

O ortodontista pode lançar mão de um aparelho extraoral de puxada cervical com vetores de extrusão de dentes. Ainda, pode-se utilizar algum aparelho funcional para a extrusão de dentes. 

Ou, quando se quer fazer ambos — intrusão anterior com extrusão posterior —, pode-se usar um arco com curva de Spee reversa nos dentes inferiores ou um arco de intrusão. (Figura 7) 

Figura 7. Curva de Spee reversa no arco inferior e seus principais vetores numa vista lateral dos dentes.

Em alguns casos, serão necessárias outras abordagens para auxiliar o tratamento, como a indicação de cirurgia ortognática. 

 

Modelos de estudo, fotografias intra e extra-bucais, radiografias cefalométricas e um exame clínico detalhado são elementos fundamentais para o diagnóstico da sobremordida exagerada.  

O tratamento em princípio tem por objetivo proporcionar contatos estáveis de manutenção e estabilizar os dentes.  

Contudo, o diagnóstico apurado é fundamental, já que o tratamento visa não somente a estética e a harmonia faciais, como também um bom funcionamento do sistema estomatognático como um todo. 

Por fim, esse texto teve a função de esclarecer alguns aspectos importantes. Entretanto, para informações mais profundas, busque sempre fontes confiáveis como livros e artigos científicos de qualidade. 

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REFERÊNCIAS: 

Brito, Helio H. A., Leite, Heloisio de Rezende e Machado, André WilsonSobremordida exagerada: diagnóstico e estratégias de tratamento. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial [online]. 2009, v. 14, n. 3 [Acessado 28 Novembro 2022] , pp. 128-157. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1415-54192009000300017>. Epub 29 Abr 2009. ISSN 1980-5500. https://doi.org/10.1590/S1415-54192009000300017. 

Brito, Daniel Ibrahim, Dias, Patricia Fernanda e Gleiser, RogerioPrevalência de más oclusões em crianças de 9 a 12 anos de idade da cidade de Nova Friburgo (Rio de Janeiro). Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial [online]. 2009, v. 14, n. 6 [Acessado 28 Novembro 2022] , pp. 118-124. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1415-54192009000600014>. Epub 30 Nov 2009. ISSN 1980-5500. https://doi.org/10.1590/S1415-54192009000600014. 

VELLINI,F.F. Ortodontia:Diagnystico e planejamento cltnico-2 ediomo,Smo Paulo:Editora artes Mpdicas,1998
 

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