Guia completo sobre Pulpite

A pulpite, também chamada de inflamação pulpar, é uma alteração inflamatória que ocorre na polpa dentária devido à um trauma ou agente agressor.

A polpa é formada por tecido conjuntivo frouxo, contendo vasos sanguíneos, vasos linfáticos, células e fibras nervosas, sendo responsável pela inervação dental, resposta inflamatória e formação de dentina.

Dependo do grau, a inflamação pode ser reversível ou irreversível. Se não tratada, pode evoluir para casos de maior severidade, como por exemplo necrose pulpar, abcesso e perda do elemento dental.

Por isso, é fundamental o dentista compreender as causas, sinais e sintomas para realizar o diagnóstico adequado e promover o sucesso do tratamento endodôntico.

Neste artigo, vamos abordar a etiologia, classificação, e o manejo indicado para cada caso clínico.

O que é pulpite?

A pulpite é uma resposta inflamatória do tecido conjuntivo pulpar à agentes nocivos de origem biológica, física ou química.

A polpa dental é um tecido conjuntivo frouxo que preenche a câmara pulpar e o canal radicular, sendo formada por vasos sanguíneos, vasos linfáticos, fibras nervosas e células.

Na presença de um estímulo agressor ocorrem fenômenos vasculoexsudativos, caracterizando a inflamação. A evolução do quadro e o prognóstico clínico dependem da intensidade e duração do estímulo.

Quais são as causas da pulpite?

A inflamação do tecido pulpar pode ser causada por estímulos químicos, físicos ou biológicos e compreender a etiologia é fundamental para avaliar a severidade do caso clínico, pois a reversibilidade do processo inflamatório depende diretamente da intensidade e duração do estímulo agressor.

Saiba mais sobre a patogenia da pulpite:

1. Agentes biológicos

  • Cárie profunda;
  • Restauração extensa;
  • Infiltração marginal;
  • Doença periodontal com comunicação pulpar;
  • Contaminação devido à exposição pulpar acidental.

Os fatores biológicos são causados pelos microrganismos que atingem o tecido pulpar.

Na cárie dental, os patógenos agridem o tecido por meio dos túbulos dentinários. Já na doença periodontal, as bactérias agridem a polpa dentária por causa da intercomunicação entre polpa e periodonto.

É importante lembrar que a fratura dental com exposição de dentina ou dentina/polpa expõe o tecido aos microrganismos da cavidade bucal.

2. Agentes físicos

  • Abertura coronária inadequada;
  • Agressão térmica, causada por brocas odontológicas;
  • Agressão térmica por polimento excessivo;
  • Procedimentos restauradores repetidos ou extensos;
  • Bruxismo;
  • Apertamento dental;
  • Carga oclusal excessiva;
  • Exposição dentinária;
  • Trauma dentário;
  • Restaurações metálicas.

Os fatores físicos podem ocorrem por falhas durante o preparo cavitário, como por exemplo brocas odontológicas para alta rotação sem refrigeração adequada e/ou brocas desgastadas com baixo poder de corte.

No caso de restaurações metálicas, a formação de correntes elétricas devido ao galvanismo pode agredir o tecido pulpar

3. Agentes químicos

  • Adesivo dental;
  • Condicionamento ácido;
  • Materiais restauradores diretos;
  • Materiais restauradores indiretos.

Os fatores químicos são representados pelos biomateriais restauradores aplicados em cavidades profundas sem a proteção do complexo dentina-polpa, inflamando a polpa.

Se o estímulo agressor não for interrompido e a sintomatologia tratada, poderá ocorrer pulpite, calcificações e necrose pulpar.

Por possuir um metabolismo intenso, a polpa apresenta boa capacidade de reparo, sendo fundamental o diagnóstico precoce para garantir o sucesso do tratamento endodôntico.

Dor de origem pulpar

Como a polpa está protegida na câmara pulpar e no conduto radicular por paredes dentinárias rígidas, na presença de inflamação ocorre o aumento do volume do tecido e compressão das fibras nervosas, causando dor.

Além disso, o crescimento tecidual pode dificultar a circulação sanguínea local e o retorno de sangue venoso via forame apical, prejudicando a defesa tecidual.

A dor de origem pulpar pode ser classificada em relação à:

1. Natureza

  1. Provocada: quando o processo inflamatório é inicial, ocorrendo por estímulo;
  2. Espontânea: quando o processo inflamatório está avançado.

2. Intensidade

  • Leve;
  • Moderada;
  • Forte/Intensa.

Para compreender a intensidade da dor, é importante o paciente classificá-la de 0 a 10. Quanto maior a intensidade, maior é o processo inflamatório.

3. Frequência

  • Intermitente: a dor ocorre em intervalos;
  • Contínua: dor constante.

4. Localização

  • Localizada: dor somente no local da inflamação;
  • Difusa: a dor irradia para outros locais/estruturas.

No caso de irradiação, o paciente pode sentir dor em outros dentes da mesma arcada, dentes antagonistas ou em outras regiões como ouvido, pescoço e cabeça.

É importante lembrar que a dor difusa é característica de um processo inflamatório avançado.

5. Qualidade da dor

  1. Pulsátil (latejante);
  2. Não pulsátil.

Assim como a dor difusa, a dor pulsátil também é uma característica de um processo inflamatório avançado.

Compreender as características da dor causada pela pulpite é fundamental para classificar a condição, realizar o diagnóstico diferencial da pulpite e o tratamento clínico.

Classificação da pulpite

De acordo com o tipo e intensidade do agente agressor, somada à resposta imune do paciente e sintomatologia clínica, as alterações inflamatórias no tecido pulpar são classificadas como alteração pulpar aguda e alteração pulpar crônica, sendo:

I. Pulpite aguda

Compreende uma resposta inflamatória de início recente, frequentemente sintomática, com dor de intensidade variável e sinais inflamatórios mais evidentes.

Compreende os seguintes diagnósticos:

Hiperemia

Ocorre devido à congestão dos vasos, causado pelo acúmulo excessivo de sangue devido à inflamação causada pelo estímulo agressor

É o estágio inicial da inflamação, caracterizado pelo aumento do fluxo sanguíneo na polpa. Se remover o agente etiológico, é possível reverter o quadro clínico.

Pupite reversível ou pulpite aguda reversível

O paciente apresenta dor aguda e localizada, de intensidade leve ou moderada, provocada muitas vezes pelo frio, de curta duração que passa rápido após a remoção do estímulo.

Quadro clínico reversível, sendo indicado tratamento clínico conservador por meio da remoção do agente agressor e/ou proteção pulpar indireta ou direta.

Pulpite Transicional ou Fase de Transição

Estado inflamatório de transição entre pulpite aguda reversível e de pulpite aguda irreversível.

A reversão do quadro é incerta e depende do tempo que a polpa está recebendo a a agressão tecidual.

A sintomatologia dolorosa pode ser aliviada por analgésicos comuns e o tratamento é conservador.

É importante avisar o paciente sobre o risco de evolução para uma pulpite irreversível e a necessidade de tratamento endodôntico.

Puplite Irreversível sintomática ou pulpite aguda irreversível

É a evolução clínica da pulpite reversível. Apresenta como características dor aguda,

espontânea ou contínua e não apresenta alívio com o uso de analgésicos

No estágio inicial a dor é localizada, nos estágios finais, a dor aumenta de intensidade, podendo ser pulsátil e difusa.

Outro sintoma comum é a dor ser mais intensa ao deitar, pois aumenta a pressão pulpar interna, exacerbando o sintoma.

II. Pulpite crônica

É um processo inflamatório de longa duração, que frequentemente apresenta adaptação tecidual, sendo assintomática ou apresentando sinais discretos.

Geralmente indica comprometimento pulpar prolongado. Compreende os seguintes diagnósticos:

Pulpite irreversível assintomática

É o resultado da pulpite irreversível sintomática ou é causada por um agente etiológico de baixa intensidade e curta duração.

Não apresenta sintomatologia dolorosa. Geralmente causada por cárie profunda ou exposição pulpar.

Pulpite Crônica Hiperplásica ou pólipo pulpar

Também chamado de pólipo pulpar, é uma inflamação crônica hiperplasia e irreversível.

Geralmente ocorre em pacientes jovens e associada à dentes em formação, com ápice incompleto.

Devido à alta reatividade e resistência da polpa jovem ao processo de necrose pulpar, ocorre o crescimento exacerbado do tecido pulpar exposto por causa da ausência de esmalte e dentina.

É uma condição assintomática, mas o paciente pode relatar pressão ao mastigar.

Clinicamente, apresenta-se na câmara pulpar como um tecido vermelho rosado de consistência, podendo recobrir a maior parte do remanescente da coroa dental.

Pulpite Crônica Ulcerada

É caracterizada pela presença de ulceração, visível microscopicamente, na superfície pulpar em contato com o meio bucal.

O paciente apresenta dor ao toque ou ao mastigar. A escolha do tratamento dependerá das características do tecido pulpar abaixo da área ulcerada e da sintomatologia clínica.

Se o paciente apresentar características semelhantes à pulpite aguda reversível, deverá ser realizado o tratamento conservador, principalmente se o dente tiver ápice incompleto.

É importante lembrar que as alterações inflamatórias ocorrem somente em tecido conjuntivo vivo, também chamado de polpa viva. Portanto, mesmo em diferentes estágios de inflamação, há vitalidade pulpar.

A intensidade da inflamação apresenta relação direta com a intensidade do agente agressor e à capacidade de defesa do hospedeiro.

Na maioria dos casos, o fator etiológico é a cárie, mas o dentista também deve considerar os fatores químicos e físicos.

Se a pulpite não for tratada, o quadro pode evoluir para necrose pulpar, além do risco de outras patologias por causa da infiltração bacteriana no canal, como por exemplo a formação de lesões apicais, abcessos, comprometimento periodontal, reabsorção óssea e radicular, além de comprometer a saúde bucal e risco de comprometimento sistêmico.

Diagnóstico e Tratamento da pulpite

O diagnóstico da pulpite é realizado por meio da anamnese, exame clínico, testes de sensibilidade e exames radiográficos, para o dentista identificar as causas e realizar o tratamento de acordo com as características do caso clínico.

Conheça os principais métodos para diagnóstico:

  • Anamnese odontológica: avaliação da saúde bucal, saúde sistêmica, identificação de sinais, sintomas, intensidade e duração da dor;
  • Exame clínico e exame físico: para avaliar a saúde bucal, oclusão, presença de nódulos e simetria facial;
  • Teste térmico (frio e calor): avalia o grau e duração da resposta pulpar;
  • Percussão e palpação: indicam inflamação periapical;
  • Radiografia periapical: avalia extensão da lesão e espessamento do ligamento periodontal.
  • Tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT): pode auxiliar na detecção precoce de alterações periapicais.

Imagem com título 'Anamnese odontológica', apresentando guia para diagnóstico preciso e seguro na área odontológica, com cores vermelha, azul escuro e branco.

O exame radiográfico vai apenas mostrar se há presença de cáries ou restaurações profundas, que podem ser a causa da alteração pulpar.

Na região periapical não se observa presença de lesão, e sim espaço periodontal apical normal ou levemente aumentado, mas com lâmina dura normal.

Tratamento da pulpite reversível e irreversível

O tratamento varia conforme a gravidade e a reversibilidade do processo inflamatório.

Para facilitar a compreensão sobe a relação entre sinais, sintomas, ferramentas de diagnóstico e tratamento sugerido para cada classificação, elaboramos a seguinte tabela:

Tabela comparativa de diferentes fases da dor no diagnóstico de condições pulmonares, destacando sintomas, diagnóstico, imagem radiográfica e tratamento.

Medicação intracanal para o tratamento da pulpite

Para promover o sucesso do caso clínico e a longevidade do tratamento endodôntico, é fundamental a medicação intracanal apresentar as seguintes características:

  • Ação bactericida e/ou bacteriostático;
  • Controle da inflamação;
  • Neutralização de endotoxinas;
  • Biocompatibilidade com tecidos periapicais.

👉 Leia também: Guia Completo sobre Medicação Intracanal

Nos casos de pulpite reversível, o tratamento indicado é a remoção do estimulo associada ao tratamento conservador e monitoramento do paciente, incluindo o acompanhamento radiográfico, sendo indicado:

  • Proteção pulpar direta;
  • Proteção pulpar indireta.

Medicação intracanal para pulpite reversível

  • Cimento a base de hidróxido de cálcio;
  • Hidróxido de cálcio PA;
  • Cimentos biocerâmicos.

Já nos casos de pulpite irreversível, a polpa está viva, mas é necessário realizar o tratamento endodôntico.

O ideal é realizar o tratamento em sessão única, mas se não for possível por causa de intercorrências, a medicação deve ser utilizada de acordo com a etapa do tratamento que foi realizada.

Medicação intracanal para pulpite irreversível

  • Canal instrumentado: associações de corticoide-antibióticos, como por exemplo Maxitrol, Otosporim, Otosynalar ou NDP;
  • Canal não instrumentado: pasta de hidróxido de cálcio, como por exemplo Ultracal ou NDP solução endodôntica;

Produtos odontológicos utilizados no tratamento da pulpite

Além do diagnóstico correto, o tratamento da pulpite exige o uso de materiais de excelente qualidade, pois isso impacta no resultado do tratamento.

Conheça os principais produtos utilizados em cada etapa clínica:

  • Isolamento absoluto: lençol de borracha, grampos para isolamento absoluto e arco;
  • Abertura coronária: pontas diamantadas, broca Endo Z, broca Gates Glidden, broca Peeso;
  • Instrumentação do canal radicular: limas manuais, limas rotatórias ou limas reciprocantes;
  • Irrigação do canal radicular: cânulas endodônticas, hipoclorito de sódio, EDTA, etc;
  • Medicação intracanal: hidróxido de cálcio, pastas biocerâmicas, NDP, etc;
  • Obturação: cone de papel, cones de guta-percha e cimentos endodônticos.
  • Restauração coronária: pino de fibra de vidro, cimento de ionômero de vidro, resina composta e cerâmica odontológica.

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FAQ PULPITE

Dúvidas comuns sobre pulpite

  1. Toda dor de dente é sinal clínico de pulpite?

Nem sempre. A dor odontológica pode ter diversas origens como por exemplo, exposição dentinária, doença periodontal, disfunção de ATM, etc. Por isso é fundamental ter conhecimento sobre as características clínicas e ferramentas de diagnóstico para identificar a inflamação do tecido pulpar.

    2. A pulpite reversível sempre evolui para irreversível?

Não. Se tratada precocemente, a polpa pode se recuperar totalmente, especialmente em dentes jovens.

      3. O teste térmico pode ser negativo e ainda assim haver pulpite?

Sim, especialmente em casos de pulpite crônica assintomática ou em dentes com calcificações pulpares.

    4. O uso de medicação sistêmica auxilia no tratamento da pulpite?

O uso de analgésico auxilia no alívio da dor em casos reversíveis e o uso de antiinflamatório pode auxiliar no controle da dor pós-operatória, mas nenhum medicamento substitui o tratamento odontológico.

Medicamento de cimento de hidróxido de cálcio usado como medicação intracanalar em pulpete reversível, com embalagem da Biodentine e Henry Schein, indicado para tratamentos odontológicos.

Conclusão

A pulpite é uma condição inflamatória do tecido pulpar. O manejo clínico exige conhecimento aprofundado das respostas pulpares para identificar os sinais, sintomas e realizar o diagnóstico adequado.

Saber diferenciar pulpite aguda de pulpite crônica e identificar quais classificações são reversíveis ou irreversíveis é fundamental para preservar a vitalidade pulpar quando possível ou realizar o tratamento endodôntico para preservar o elemento dental.

Dominar todas as etapas, desde o diagnóstico até o tratamento (conservador ou tratamento endodôntico) é de extrema importância para promover o sucesso do caso clínico e a longevidade do tratamento odontológico.

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