O lançamento constante de materiais restauradores odontológicos com tecnologias facilitadoras, trouxe grandes benefícios para o dia-a-dia clínico. Com ele, vieram a redução de etapas do processo de suas aplicações, que foi um grande benefício para os atendimentos odontopediátricos de alta complexidade.
Compreender as bases dos produtos através de sua bula, ou seja, estudar o passo-a-passo que a empresa envia em cada material, é de suma importância para o sucesso tanto em sua aplicação quanto na durabilidade desse na cavidade bucal.
Sabemos que há procedimentos, na Odontologia convencional, que não descartaram a técnica do isolamento absoluto do campo operatório.
E, que o mesmo tem suma importância.
Um meio dentário resguardado de contaminação bacteriana, limpo e seco faz-se necessário para que esteja nas condições ideais para receber o material odontológico, com melhor acesso e visibilidade.
Quanto mais seguirmos à risca o passo-a-passo preconizado pelo fabricante, maior será a longevidade e durabilidade do material restaurador.
Porém, há ressalvas quanto à sua aplicabilidade durante os atendimentos invasivos odontopediátricos.
Para que serve o isolamento absoluto?
Elaborado por Sanford Barnum (1864), o isolamento absoluto veio como uma forma de evitar:
- Contaminações de saliva e outros fluidos.
- Acidentes com instrumentais (como as limas endodônticas).
- Deglutição de produtos enxaguados (ácido fosfórico).
- Líquidos irrigantes e debris.
- Sentir sabores desagradáveis desses materiais.
- Proteção dos tecidos circunvizinhos e a integridade física do paciente.
Dificuldades do isolamento absoluto na Odontopediatria
Um dos maiores desafios é a aplicabilidade da técnica no atendimento odontopediátrico. A inserção dos grampos para instalar o lençol de borracha necessita de anestesia infiltrativa, o que pode causar desconforto.
Vale lembrar que as crianças são mais propensas a terem acidentes como engasgos, aspiração ou deglutição de corpos estranhos nos momentos de não colaboração. Portanto, a técnica é de suma importância para que o tratamento odontológico ocorra de forma segura e de qualidade.
A confecção de amarrilhos longos de fio dental e presos nas alças dos grampos é essencial, tanto para testar qual grampo se adaptará melhor, quanto durante a sua instalação no elemento dentário.
Sabendo que o tempo de cadeira é valioso – ou seja, quanto mais longo o atendimento, maior o estresse infantil – o isolamento relativo feito da melhor forma possível, preferencialmente com um profissional auxiliar, pode ser um grande recurso que minimiza a ansiedade infantil e torna o tratamento possível e concluído.
Os pacientes que passaram pelo procedimento de isolamento relativo e tiveram sensações desagradáveis, podem aceitar bem o isolamento absoluto.
Convém observar e analisar cada caso clínico e aplicar a técnica de maneira adequada, com qualidade e segurança.
Procedimentos de manejo comportamental
É importante explicar à criança, antes da aplicação da técnica, o porquê da necessidade e como será feito de acordo com a forma de comunicação mais adequada de acordo à idade, para que ela entenda que o isolamento absoluto lhe trará mais conforto.
Utilizar exemplificações e linguagens que sejam de seu contexto, de acordo com a sua etapa de desenvolvimento psicológico é uma forma empática de ajudar a criança a aderir ainda mais ao tratamento.
Controlar a dor e a ansiedade é fundamental para ganhar confiança da criança e garantir a aceitação do paciente ao tratamento, tanto na realização do isolamento absoluto quanto o relativo.

São algumas ideias do mundo infantil que a ajudam a compreender.
Além disso, utilizar bichos de pelúcia com dentes para mostrar antes de aplicar a técnica, também auxiliam muito e as crianças adoram.
Contraindicação do isolamento absoluto:
Essas são algumas situações em que o isolamento absoluto deve ser substituído pelo relativo e avaliado caso a caso:
- Paredes coronárias com grande destruição por cárie e término subgengival.
- Traumatismo dentário.
- Dentes com coroas expulsivas.
- Presença de aparelho ortodôntico fixo.
- Pacientes alérgicos ao látex do lençol de borracha.
- Pacientes com respiração bucal.
- Paciente com grandes movimentações bruscas para riscos de acidente.
Qual anestesia deve-se escolher?
A anestesia mais comumente indicada é a infiltrativa, realizada na maioria dos procedimentos invasivos. Entretanto, a punção da agulha, além de ser invasiva e poder ser dolorosa, causa medo e ansiedade.
Por isso, ao realizar essa técnica é importante avisar à criança sobre os sintomas de “formigamento”, frisar que é passageiro e colar um adesivo no ombro referente ao lado anestesiado. Assim, ajuda o paciente odontopediátrico a controlar o risco de acidente como mordida de lábio ou língua, e os pais monitorarem a criança até a passagem do efeito.
Em procedimentos mais simples, como a aplicação de selante resinoso, os anestésicos tópicos podem ser de grande valia. Um dos anestésicos desse tipo mais comuns vistos no mercado brasileiro é a Benzocaína, aplicada de forma tópica, nas consistências em spray ou gel.
São pouco solúveis em água (motivo o qual devemos secar a mucosa antes da sua aplicação) e, na concentração de 20%, sua reação acontece em 30 segundos e com ação aproximada de 15 minutos. Devido a curta durabilidade, a anestesia infiltrativa seria a técnica eleita.
Na escolha de uma “anestesia indolor” para procedimentos rápidos e simples, como aplicação de selantes em fóssulas e fissuras, uma boa opção é a Tetracaína, ou Cloridrato de Tetracaína, reconhecido em 1932.
É um éster, também de aplicação tópica, de maior duração (30 a 60 minutos). A Tetracaína 1% com Cloridrato de Fenilefrina 0,1%, de uso oftalmológico já foi bastante usado com sucesso na Odontologia em frenectomias linguais como alternativa viável para controle da dor, porém, hoje, estão ausentes no mercado.
E, mostrou-se mais eficaz do que a Benzocaína em gel. Para sua aquisição, há necessidade de solicitação feita em receituário.
Também indica-se a utilização de agulhas extra curtas com sistema de lubrificação das mesmas, para fácil deslizamento e maior conforto, nos casos em que seja necessária a aplicação de anestésico em tubete. Aliás, preferencialmente, tubetes de vidro, pois o embolo desliza mais facilmente.
Materiais utilizados para a técnica de isolamento absoluto
A estabilização do lençol ou dique de borracha deve ser realizada com grampos. Os mais indicados para o atendimento odontopediátrico são o “00” para dentes anteriores superiores e caninos (ou até o uso de amarrilhos confeccionados com fio dental).
Grampos “26” ou “209” para os molares decíduos e W8A para os primeiros molares em processo de erupção. Grampos sem asa (como o W8A) são ideais para dentes parcialmente erupcionados, dentes com coroa curta ou dentes parcialmente erupcionados.
Após essa etapa, o lençol de borracha deve ser marcado com um ponto feito com caneta permanente para demarcar a região equivalente ao dente a ser isolado.
Faz-se o uso do perfurador de Ainsworth e a pinça Palmer será utilizada para levar o grampo ao elemento dentário. O grampo pode ser levado conjuntamente ao lençol ou dique de borracha, com um amarrilho feito com fio dental comprido – para segurança – que deve estar condicionado com o arco mantenedor (como o do tipo Ostby, dobrável ou não; pois o de Young possui pontas que podem causar acidentes).
Há a possibilidade de instalar o grampo previamente ao dente para depois inserir o arco, porém, como devemos ter agilidade no procedimento odontopediátrico, levar todo o conjunto ao elemento dentário traz otimização de atendimento.
Cabe ao profissional decidir qual material utilizar, de acordo com a sua destreza.
Aconselha-se lubrificar o orifício feito pelo perfurador com pomada anestésica ou lubrificante à base de água para evitar que o furo rasgue e para que o lençol deslize no sentido ocluso-cervical com facilidade.
Após a acomodação de todo o conjunto, com o auxílio de uma espátula número 1, finalizamos o posicionamento do lençol para baixo do grampo.
Em casos de ausência de vedamento total da porção cervical, a aplicação de material curativo, como “Cavit”, “Coltosol” ou “restaurador provisório“, sobre a prega do dique onde a adaptação da borracha é imperfeita, pode ser útil.
O adesivo à base de cianoacrilato também pode ser uma opção para melhorar a estabilização do lençol. Ele é o único adesivo biocompatível que polimeriza com a presença de íons hidroxila (abundante no meio bucal) e adere ao tecido úmido sem a ajuda de catalizador. No Brasil, esse material é encontrado com o nome de “Super Bonder”.
Três dicas para o isolamento absoluto
Para evitar acidentes de fraturas de grampo, passar previamente um fio dental comprimido bilateralmente pelos orifícios onde a pinça Palmer se aprisiona, é de suma importância. Ao aprisionar o fio dental pela alça do grampo, não é garantia de segurança de quando ele bipartir após tensões à longo prazo.
Outra dica são grampos feitos com materiais não metálicos (Indusbello), que não causam problemas de sobreposição do grampo na realização da imagem radiográfica, além de serem descartáveis e evitar o risco de fratura do mesmo por uso excessivo.
Quanto à escolha dos lençóis de borracha, há diversas espessuras. Outras sem látex para os pacientes alérgicos e outros com furações pré marcadas.
Ganho em tempo de trabalho, segurança e conforto do paciente é o que mais precisamos nos atendimentos odontopediátricos, não é mesmo?
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