Isolamento absoluto: guia completo com passo a passo, materiais, cuidados e mais

O isolamento absoluto é uma técnica odontológica indispensável para quem deseja oferecer um tratamento seguro e de qualidade.

Além de manter o campo de trabalho limpo e seco e livre de contaminantes, melhora a visibilidade e protege o paciente, impedindo a deglutição ou aspiração de pequenos instrumentos.

Neste guia, você vai encontrar tudo sobre isolamento absoluto: o que é, quais as etapas, que materiais utilizar e os cuidados para realizar uma aplicação adequada. Continue a leitura e confira nossas dicas!

O que é isolamento absoluto?

O isolamento absoluto é uma prática comum no consultório odontológico, utilizada para garantir um campo operatório seco, limpo e livre de contaminações.

A técnica é aplicada em vários procedimentos, como restaurações (diretas e indiretas), tratamento de canal e odontopediatria, e requer o uso de materiais específicos, como o dique de borracha (lençol de borracha), grampos, arcos, pinça porta-grampos e perfurador.

Além disso, pode ser feita de diferentes formas, por exemplo, colocando todo conjunto (grampo, arco e lençol) de uma única vez, o grampo primeiro e depois o lençol ou aplicando o lençol e o arco seguido do grampo por último.

Quando surgiu?

A introdução do isolamento absoluto na odontologia é atribuída ao cirurgião-dentista Sanford C. Barnum, que em 1864 utilizou um pano de borracha para isolar um molar inferior. Seu objetivo era evitar que a saliva do paciente causasse corrosão ao material.

Desde então,  dentistas de todo o mundo vem utilizando esse método, considerado essencial tanto para o controle de contaminações quanto para a qualidade dos tratamentos.

Quais as vantagens?

• Protege os tecidos moles: evita acidentes por iatrogenia, ou seja, uma escoriação ou até mesmo uma laceração causada pelo instrumental ao resvalar no tecido gengival.
• Mantém as propriedades dos materiais: permite o controle da umidade local, conservando as propriedades físico-químicas dos materiais utilizados.
• Garante a assepsia: ideal para procedimentos que necessitam de assepsia, como em casos de exposição pulpar, mantendo o campo operatório livre de contaminação;
• Melhora a visibilidade: associado ao refletor, o isolamento absoluto amplia a visualização do campo operatório durante a realização de procedimentos clínicos.
• Facilita a execução: possibilita ao profissional a execução de uma técnica operatória precisa e eficaz, reduzindo erros e retrabalhos, custos operacionais e tempo de cadeira.
• Evita acidentes: protege o paciente contra possíveis acidentes envolvendo a aspiração e deglutição de instrumentos odontológicos ou produtos provenientes dos procedimentos restauradores.

Existem contraindicações no isolamento absoluto?

São raros os casos em que o isolamento absoluto não é recomendado, incluindo:

• Situações de dentes pouco erupcionados, em terceiros molares ou dentes mal posicionados;
• Pacientes claustrofóbicos ou portadores de alguma doença respiratória;
• Pacientes que sintam dor ou desconforto pelo grampo de isolamento;
• Pacientes com sensibilidade ao látex do lençol de borracha.

Passo a passo: aplicação do lençol de borracha

Seguindo o passo a passo correto e utilizando os instrumentos adequados, a técnica de isolamento absoluto fica muito mais fácil de ser aplicada. Confira!

1. Prepare a região

No caso de endodontia, realize a profilaxia dos dentes que serão isolados para remover placa e cálculo. Se necessário, faça o aumento de coroa clínica ou abordagem periodontal.

2. Escolha do grampo

Selecione o grampo a ser utilizado ou o amarrilho indicado para o dente. Utilize pequenos para dentes anteriores e grandes para dentes posteriores.

3. Faça a marcação

Monte o lençol de borracha no arco e faça a marcação alinhada aos dentes. Se tiver dificuldades em encontrar o centro do lençol, use a técnica da cruz:

1. Dobre o lençol de borracha ao meio e faça uma marcação na região da dobra;
2. Abra o lençol e dobre novamente, fazendo uma nova marcação na região da dobra;
3. Com o auxílio de uma régua, una os pontos criados no centro das faces, formando um desenho de cruz;
4. Coloque o lençol no arco e faça a marcação dos dentes. Alinhe a linha vertical com a linha média do paciente.

Outra opção é fazer a marcação fora da boca do paciente com o auxílio de uma guia.

4. Perfure o lençol

Retire o lençol e, com o alicate perfurador (Ainsworth), fure nos pontos marcados, atentando-se ao diâmetro do instrumento. A distância entre os furos precisa ser proporcional ao espaço entre os dentes.

 DICA: Para facilitar a colocação, aplique um lubrificante à base de água, exceto vaselina, pois ela pode corroer o material.

5. Encaixe do Grampo

Selecione o grampo conforme o dente que será isolado. Utilize pequenos para dentes anteriores e grandes para dentes posteriores. Utilize a pinça porta-grampo (Palmer ou Brewer) para encaixar o grampo sobre o dente, alinhado ao furo correspondente.

• Grampos com asa: suas extensões laterais permitem a instalação do conjunto (grampo + lençol) em boca simultaneamente.
• Grampo sem asa: são colocados no dente previamente ao lençol de borracha. Por não ter asas, pode ser mais confortável para o paciente.

6. Faça a adaptação

Ajuste os furos restantes nos dentes adjacentes. Utilize o fio dental para pressionar o lençol na região gengival, isso ajuda na vedação total e evita infiltrações. Por último, utilize a espátula para fazer os ajustes finais e conferir o conforto do paciente.

Na maioria dos procedimentos, o ideal é isolar no mínimo três dentes. Isso facilita o acesso, protege os dentes vizinhos contra danos acidentais e ajuda no vedamento do campo operatório. A exceção são os tratamentos endodônticos, onde apenas o dente a ser tratado deverá ser isolado.

Guia Prático: como remover o isolamento absoluto do dente?

Após o procedimento, é necessário remover o isolamento do dente. Veja como fazer isso de forma confortável e segura para o paciente, passo a passo:

1. Retire o grampo

Utilize a pinça para remover o grampo fixado no dente e evitar danos ao tecido gengival.

2. Desprenda do Arco Porta-Dique:

Solte o lençol de borracha do arco com cuidado para não causar desconforto ao paciente.

3. Corte do Lençol:

Use uma tesoura para cortar as laterais do lençol.

4. Remova com cuidado:

Puxe o lençol com calma e de forma gradual, até remover o acessório completamente. Por último, confira se não ficaram resíduos na cavidade bucal.

Materiais essenciais e suas funções no isolamento absoluto

Os principais materiais utilizados no procedimento de isolamento absoluto incluem:

• Lençol (dique) de borracha:
  Produzido em látex natural, está disponível em diferentes tamanhos, aromas (menta, tutti-frutti) e cores contrastantes (azul, verde).

DICA: Para pacientes alérgicos, escolha versões livres de látex, como o Lençol De Borracha Flexi Dam Coltene, feito em silicone.

• Arco porta-dique:
  • Mantém o lençol de borracha firme e estendido. É possível escolher entre o arco de Young (formato de U), geralmente utilizado em dentística e procedimentos restauradores, e o arco de Ostby (circular), comumente usado em endodontia.
• Alicate de Ainsworth:
  • Permite a perfuração do dique de borracha com precisão, segurança e rapidez. Perfura o lençol em 5 diâmetros diferentes.
• Pinça porta-grampo:
  • Utilizada para segurar e posicionar os grampos durante o isolamento absoluto. Está disponível nos modelos Palmer (reta, tradicional) ou Brewer (curva). Escolha a que melhor se adapta à sua técnica.
• Grampos para isolamento:
  • Responsáveis pela fixação do lençol de borracha ao redor do dente. Alguns modelos, como o 212, 212L e 212R, também podem ser usados como retratores gengivais. Escolha entre as versões com ou sem asa, conforme o dente a ser isolado.

 Como cuidar dos materiais e instrumentos utilizados no isolamento absoluto?

1. Higienize e esterilize os instrumentais

Realize a esterilização de todos os instrumentos utilizados na técnica, como alicates perfuradores, pinças porta-grampo e arcos para lençol, a cada uso para garantir a biossegurança do procedimento.

O processo inclui:

1. Imersão em detergente enzimático para pré-limpeza;
2. Limpeza manual com escova de cerdas macias e água corrente;
3. Enxague para remover resíduos e impurezas;
4. Secagem, inspeção visual e embalagem em papel grau cirúrgico;
5. Esterilização em autoclave por tempo e temperatura recomendados;
6. Armazenamento adequado após a secagem completa para evitar oxidação.

2. Armazene o lençol em local adequado

Para garantir sua integridade, mantenha o lençol na embalagem original até o momento do uso. Isso evita degradações, ressecamento e perda de elasticidade causados por luz e calor.

Atenção: o lençol de borracha é um produto de uso único. Após o procedimento odontológico, descarte-o em lixo infectante.

3. Inspecione os materiais regularmente

Antes de aplicar a técnica, verifique se os grampos, arcos e arcos estão em boas condições de uso. Rasgos, deformações ou danos podem prejudicar o isolamento absoluto e, com isso, compromete a qualidade do procedimento odontológico.

Isolamento Absoluto vs. Isolamento Relativo

Com vimos, o isolamento absoluto oferece uma barreira de proteção (dique de borracha) contra umidade, permite realizar tratamentos dentais assépticos, além de evitar que o paciente engula ou aspire objetos.

No entanto, dependendo do tipo de procedimento a ser realizado ou na impossibilidade do uso do isolamento absoluto, é possível optar pelo isolamento relativo da cavidade bucal.

Essa técnica é utilizada principalmente em procedimentos rápidos e menos complexos, como exames clínicos, aplicação tópica de flúor e restaurações provisórias, e requer o uso de rolos de algodão, sugadores e outros materiais auxiliares.

Alergia ao látex e a importância da anamnese

Realizar uma anamnese completa é fundamental para identificar problema que possam trazer complicações de saúde ao paciente, como uma alergia ao látex presente no lençol de borracha, por exemplo.

Apesar de rara, a alergia ao látex presente no lençol de borracha utilizado no isolamento absoluto pode provocar sintomas significativos, como eritemas, edemas, ardência e até vesículas na mucosa ou pele em contato com o material.

Kosti et al. (2002) relataram dois casos de pacientes com alergia ao lençol utilizado em isolamento absoluto.

No primeiro caso, a paciente não sabia que era alérgica, o que resultou em dermatite- estomatite de contato.

A situação foi controlada com a substituição do lençol de borracha por um dique de policloreto de vinila (PVC) e das luvas de látex por modelos isentos desse material.

No segundo caso, o paciente já tinha o diagnóstico de alergia e comunicou ao dentista antes da consulta, permitindo uma abordagem preventiva.

Nesse sentido, foram utilizadas luvas de vinil, barreiras de PVC e remoção das borrachas dos instrumentos endodônticos, evitando qualquer tipo de manifestação alérgica.

Esses dois exemplos reforçam a importância de aplicar um questionário de anamnese completo.

Essa prática permite que você não só identifique condições que possam apresentar riscos à saúde ao paciente, mas também adote as medidas preventivas para promover um atendimento seguro.

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FONTES:
1. https://cromg.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Informe_Clinico_4_-_Isolamento_do_campo_operatorio.pdf
2. https://www.ident.com.br/ia/pergunta/154673-pois-so-pode-ser-caso-seja-alergico-ao-lencol-de-baixa
3. https://revistaft.com.br/beneficios-do-isolamento-absoluto-para-a-odontologia-contemporanea-uma-revisao-de-literatura/
4. https://www.ident.com.br/ia/pergunta/72388-qual-e-o-melhor-arco-de-young-ou-de-ostby
5. Isolamento Absoluto: Marcando o Lençol de Borracha. Thaís Thomé. https://w*ww.youtube.com/watch?v=GQVwI0oPf7U