Uso de limas reciprocantes para retratamento endodôntico

Falhas endodônticas podem ocorrer mesmo quando se adota o mais alto e meticuloso padrão de procedimento. Quando o tratamento convencional falha, o retratamento endodôntico é a opção preferida por ser o método mais conservador de se remover a causa do insucesso, a saber, microrganismos presentes no sistema de canais radiculares.

Retratamento endodôntico ou reintervenção endodôntica é um novo tratamento que ocorre devido a uma lesão periapical persistente ou quando o dente requer um tratamento reabilitador e a endodontia não está satisfatória.

Devemos informar o paciente as possíveis razões do fracasso do tratamento endodôntico, as possíveis complicações, a relação custo-benefício e o prognóstico.

A primeira opção quando um tratamento endodôntico falha é sempre o retratamento, ou seja, o novo tratamento não cirúrgico e via canal.

Muitas técnicas têm sido defendidas para a remoção de guta-percha do sistema de canais radiculares incluindo os instrumentos de ultrassom, lasers, limas manuais e limas manuais associadas com calor ou solventes A remoção de guta-percha utilizando limas manuais pode ser difícil e demorada. Por esta razão, as limas rotatórias de níquel-titânio (NiTi) surgiram para facilitar este trabalho, surgindo inúmeros sistemas de limas utilizadas para este propósito.

Algumas limas rotatórias têm sido especialmente designadas e indicadas para este propósito como o Mtwo retratamento (VDW, Munich, Germany), Protaper Universal Retratamento (Maillefer/Dentsply, Ballaiges, Switzerland), R-Endo R3 (Micromega, Beçancon, France), entre outras.

Alguns estudos publicados, já descrevem que as limas endodônticas de NiTi M-Wire (como a Reciproc), utilizadas no movimento reciprocante, podem ser usadas em retratamentos endodônticos, apresentando resultados satisfatório.

>>Leia também: Limas reciprocantes: modelagem dos canais radiculares

Como pode ser realizado o retratamento endodôntico?

O uso da lima Reciproc Blue (VDW) com tratamento térmico também pode ser usada para retratamento endodôntico, e inclusive é minha eleição e será descrita a técnica a seguir:

  1. Inicialmente, fazer uma radiografia inicial e solicitar uma tomografia cone beam de alta resolução para avaliação do tratamento anterior.
  2. Anestesiar o paciente e realizar o isolamento absoluto. Colocar uma barreira gengival ao redor de toda a face exposta do dente e fotopolimerizar para impedir o contato do dente com o meio bucal.
  3. Realização do acesso endodôntico no dente que requer retratamento. Lembrando que para um retratamento, não existe o conceito de abertura minimamente invasiva (a não ser que você execute um retratamento seletivo). Você precisa abrir e realmente localizar os possíveis canais não localizados e remover a guta-percha ou materiais que anteriormente estavam dentro dos canais radiculares.
  4. O uso de insertos ultrassônicos são indicados para retratamentos em aparelhos de ultrassom piezoelétricos não-cirúrgicos usados em baixa potência, sendo o seu uso combinado com as limas usadas no movimento reciprocante. Os insertos ultrassônicos devem ser finos e lisos, mas também podem ser usados os lisos com a porção final em forma de flecha ou cone que são bastante úteis na remoção da guta-percha das paredes dos canais.
  5. Em se falando do uso das Limas Reciproc Blue para retratamento, a eleição da lima (R25, R40 ou R50) deve ser escolhida de acordo com o diâmetro da região cervical do dente a ser retratado e deve ser compatível a este tamanho. Estas limas deverão ser acionadas no motor endodôntico no modo “Reciproc” até atingir o comprimento de trabalho menos 2 mm. O uso direto no comprimento de trabalho pode causar extrusão do material obturador para o ápice.
  6. Seguindo as recomendações do fabricante os instrumentos reciprocantes devem ser usados apenas uma vez.
  7. Os instrumentos são aplicados o movimento “in and out” (para dentro e para fora) com amplitude de cerca de 3 mm e suave pincelamento contra as paredes do canal.
  8. Depois de três movimentos realizados, o instrumento deve ser removido do canal, limpo em gaze estéril e o canal irrigado com a substância irrigadora de sua escolha.
  9. Nenhum solvente é mais utilizado, pois o solvente cria uma lama intracanal que dificulta o processo de retratamento.
  10. Os canais então são reinstrumentados até que não se observe evidência de material obturador no instrumento e nas paredes dos canais. O que podem ser comprovados com magnificação e com o uso de radiografias periapicais.
  11. O ideal é que em todos os casos se consiga patência foraminal dos canais.
  12. A determinação do comprimento de trabalho conta com o auxílio do localizador foraminal eletrônico, que durante o processo de instrumentação pode estar acoplado na lima de retratamento (no caso, Reciproc Blue), ou com o auxílio de limas K 15 com o localizador foraminal.
  13. O protocolo de limpeza e irrigação deve ser feito de acordo com a sua filosofia.
  14. Nova obturação deve ser feita de acordo com sua técnica de eleição.

O uso de instrumentos reciprocantes para retratamento endodôntico resultam em uma ótima resposta fisiológica do paciente e conferem maior segurança ao endodontista ou profissional que trabalha com endodontia, desde que bem empregados.

Sobre a autora:

Milena Perraro | @milenaperraro

Doutora em endodontia USP Bauru;
Mestre e Especialista em endodontia;
Especialista em Implantodontia e Saúde Coletiva e da Família;
Professora de pós graduação Instituto Cemo (Balneário Camboriú – SC).

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