Utilização da zircônia na confecção de próteses dentárias

É inegável que a odontologia tem passado por profundos avanços tecnológicos em todas as áreas. Essas mudanças são particularmente nítidas no que diz respeito aos materiais dentários, sendo cada vez mais duráveis, estéticos e biocompatíveis.

Dentre estes materiais, um dos mais promissores é o dióxido de zircônio (ZrO₂), também conhecido como zircônia, que tem ganhado cada vez mais espaço nos biomateriais, graças às constantes melhoras em suas propriedades físicas e estéticas.

Há muito tempo a zircônia era somente conhecida como uma pedra preciosa. Porém, no final dos anos 60 ela foi utilizada pela primeira vez para fins medicinais, vista pela ortopedia como uma ótima opção para substituição do titânio e da alumina em próteses de quadril.

Como a Zircônia pode ser utilizada na Odontologia

Já na odontologia, problemas de biocompatibilidade associados à algumas ligas metálicas utilizadas e o aumento da demanda por restaurações cada vez mais estéticas fizeram com que as restaurações livres de metal, ou metal-free como são conhecidas, caíssem nas graças de pacientes e dentistas.

Apesar de trabalhos protéticos livres de metal já existirem anteriormente, podemos dizer que foi a introdução da zircônia que trouxe tranquilidade necessária aos dentistas para a indicarem estas restaurações, principalmente para a região posterior, graças à sua grande resistência.

A partir deste ponto o foco dos estudos por parte das empresas e universidades muda drasticamente para o desenvolvimento de cerâmicas cada vez mais resistentes e estéticas.

O primeiro relato do uso em larga escala da zircônia em próteses dentárias foi por meio do sistema InCeram Zircônia, no final dos anos 80. Este sistema foi um aperfeiçoamento da sua versão anterior, sendo a adição da zircônia responsável por uma melhora de 30-40% na resistência do material.

Já no final dos anos 90 os surgiram os copings em zircônia fabricados através dos sistemas CAD/CAM (desenho assistido por computador/ manufatura assistida por computador, no português). Estes copings representaram um avanço nas estruturas não metálicas para recobrimento com porcelanas feldspáticas, proporcionando resultados estéticos muito satisfatórios em restaurações livres totalmente de metal.

Basicamente, os sistemas CAD são softwares projetados especificamente para o desenho em três dimensões da restauração desejada em um modelo digitalizado. Para que isso seja possível, a boca do paciente ou o modelo em gesso são previamente digitalizados por meio de um dispositivo de aquisição da imagem, o scanner, que pode ser tanto intra ou extraoral, respectivamente.

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Com o desenho pronto, realizado pelo software CAD, é possível a obtenção da restauração por meio dos dispositivos de manufatura CAM.

Nesta etapa o desenho anteriormente realizado será utilizado por uma fresadora para a fresagem de um bloco de zircônia. Neste processo o bloco tem um estado pré-sinterizado, ou seja, o material apresenta uma estrutura pré-cristalizada, com menor dureza, o que auxilia no desgaste feito por um conjunto de fresas especiais.

Outro fato interessante é que nessa fase a restauração será produzida em uma dimensão cerca de 25% maior do que o final, sendo posteriormente sinterizada em um forno específico onde chega ao seu estado final, tanto em dimensão como em resistência e tonalidade.

Principais Classes de Restauração em Zircônia

Restaurações em zircônia estratificadas

As restaurações estratificadas são aquelas onde um ou mais copings, obtidos por um sistema CAD/CAM, recebem um recobrimento estético com uma cerâmica de cobertura.

Casos esteticamente complexos exigem mais detalhamento na confecção de restaurações. Restaurações como a de um central unitário não são bem resolvidos, na maioria das vezes, com um trabalho monolítico maquiado. Isso porque esses casos necessitam de um maior detalhamento, com características e profundidade que somente trabalhos estratificados podem dar.

Nesses casos os estratificados são a opção mais indicada. Coroas com uma estratificação adequada podem simplesmente desaparecer ao lado dos outros dentes, apresentando resultados inacreditáveis.

Para trabalhos estratificados, estruturas em zircônia translúcida ou opaca são as opções disponíveis para o recobrimento estético com cerâmicas apropriadas.

A escolha correta do material da estrutura deve levar em conta diversos fatores como resistência necessária, cor e estado do substrato, cimentação (abordaremos mais sobre o assunto logo abaixo), espaço protético, dentes antagonistas, condições financeiras do paciente, entre outros.

As estruturas em zircônias mais opacas são excelentes indicações para substratos escurecidos pela sua altíssima capacidade de mascaramento desses preparos.

Casos com pontes fixas com mais de três elementos, principalmente na região posterior, onde outros materiais livres de metal não podem ser empregados, também podem ser confeccionados com estruturas em zircônia e recobertas com cerâmicas apropriadas, como as cerâmicas do sistema IPS e.max Ceram, com excelentes resultados.


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Restaurações em zircônia monolítica

São restaurações feitas em um único material, sem recobrimento estético. Elas são fresadas já no formato do dente que se deseja restaurar e são posteriormente maquiadas, recebendo tonalidade e características estéticas semelhantes aos outros dentes do paciente.

No passado as zircônias monolíticas não eram consideradas as melhores opções devido às suas limitações estéticas. Elas possuíam tonalidades com valor (quantidade de branco) excessivamente alto, impossibilitando restaurações naturais.

Uma explicação é que, infelizmente, uma composição química favorável a uma maior translucidez da zircônia (como a adição do ítrio, por exemplo) acabam por alterar sua composição cristalina, diminuindo a sua resistência. Por isso, após anos de pesquisa e esforços das indústrias este problema foi solucionado com a evolução do material, dando origem às chamadas zircônias translúcidas.

Esta nova geração de zircônias conta também com a diminuição na quantidade de alumina na composição, diminuição, tanto dos tamanhos dos grãos como quantidade de impurezas e de micro defeitos estruturais, conferindo uma nova microestrutura.

As restaurações monolíticas em zircônia têm ainda como vantagem a versatilidade nos seus métodos de fabricação em relação aos trabalhos estratificados, proporcionando rapidez no processo e reduzindo o tempo total de tratamento.

A ultra resistência do material (chegando a 1000 MPa) também faz com que coroas monolíticas possam ser mais delicadas do que trabalhos estratificados ou feitas com outros materiais, permitindo preparos menos invasivos nestes casos. Pontes fixas extensas também podem facilmente ser realizadas desta forma.

Belos trabalhos feitos são feitos neste fluxo. Mãos habilidosas podem transformar por meio da maquiagem essas peças monolíticas em verdadeiras obras de arte! Pigmentos como os da linha IPS Ivocolor da Ivoclar são uma ótima alternativa para esses trabalhos, possuindo uma grande variedade de cores, uma excelente facilidade no manuseio, ajudando na caracterização das restaurações.

Cimentação de zircônia

Um dos pontos de atenção aos trabalhos realizados com este material sempre foi a cimentação. Até que surgisse uma evolução nos sistemas adesivos, a zircônia era tida como um material com aderência problemática.

Um dos motivos desse problema é a ausência de sílica na sua composição, o que anula a eficácia dos ataques ácidos.

Desta forma, alguns tratamentos de superfície são indispensáveis para suprir a deficiência nessa cimentação. Tratamentos de abrasão com jateamento, aplicação de revestimento com sílica e primers específicos contendo uma substância chamada 10-MDP (fosfato de 10-metacriloiloxidecil dihidrogênio) são algumas das soluções.

Estudos mostram que um processo de cimentação em três passos tem apresentado os melhores resultados: jateamento prévio com óxido de alumínio em toda a superfície interna da restauração, seguido do uso de primer específico para zircônia e, finalmente, o uso de um cimento dual ou autoadesivo contendo 10-MDP.

Conclusão

Os trabalhos metal-free são hoje uma realidade. Aliados aos sistemas CAD/CAM, eles são uma ótima opção para todos os casos de restaurações.

Neste universo a zircônia é um dos materiais mais versáteis na odontologia devido às suas qualidades estéticas e resistência inigualável. As suas aplicações são as mais variadas, indo desde elementos unitários até extensas pontes fixas, podendo ser recobertas com materiais cerâmicos, estéticos ou monolíticos maquiados.

Sobre o Autor:

Paulo Maciel | @paulinho_maciel_

Mestrado em Ciências – USP
Curso técnico em Prótese Dentária – UNIFAES
Especialista em Estratificação Cerâmica

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