Como você medica seus pacientes?

Não sei se você já percebeu, mas se começarmos a conversar com diferentes cirurgiões-dentistas sobre terapia medicamentosa, vamos perceber que cada um prescreve de uma maneira diferente. Eu sei que ninguém é obrigado a seguir protocolos engessados, entretanto, muitos profissionais acabam entrando no “modo automático” na hora de prescrever medicamentos e não param para se atualizar. Afinal, temos que aglutinar várias informações para poder planejar o quanto e como vamos medicar.

Ficar tomando muito remédio não é bom, porém é preciso medicar quando necessário

Gostaria restringir um pouco mais o assunto e focar na prescrição de antibióticos na Odontologia. Seja antes ou depois de uma extração dentária, instalação de implantes, cirurgias periodontais ou uma raspagem periodontal mais profunda. Estamos vivendo uma fase da humanidade onde o excesso de informação ao invés de ajudar atrapalha a tomada de decisões.

Algumas correntes vêm influenciando as pessoas a serem mais “naturais” e deixar a terapia medicamentosa um pouco de lado. A grande dificuldade é encontrar um meio termo que não seja prejudicial para os trabalhos que realizamos em boca e que não vá contribuir para aumentar a resistência das bactérias aos antibióticos.

Você acaba prescrevendo para ter a consciência tranquila ou porque os pacientes realmente precisam?

Se eu deixar de prescrever e o paciente aparecer com uma infecção pós-operatória? Entenda que os critérios para se tomar a decisão de propor uma terapia medicamentosa com antibióticos ou não devem ser totalmente racionais e baseados em literatura sólida e evidência científica.

Por exemplo, a prescrição profilática de Amoxicilina 2g, 1 hora antes de procedimentos que envolvam manipulação de tecido gengival, região periapical dos dentes, extrações ou cirurgias com retalho só está indicada para pacientes com risco aumentado ou histórico de Endocardite Bacteriana. São pacientes cardiopatas congênitos ou que possuem próteses valvares ou stents. Apenas esses, segundo a Associação Americana de Cardiologia.

Para pacientes com outros problemas sistêmicos como o Diabetes Melitus, por exemplo, a antibioticoterapia, quando indicada, será na forma terapêutica mais comumente prescrita. Seja ela por meio da Amoxicilina 500 mg, ou a de 750 mg (com ou sem Clavulanato de Potássio) ou a Clindamicina para os alérgicos à penicilina. Alguns autores preconizam o início do medicamento 3 ou 2 dias antes dos procedimentos cirúrgicos, outros concordam com a utilização após os procedimentos.

E qual seria a recomendação na hora de realizar implantes dentários?

Primeiramente, devemos considerar sempre as informações contidas na anamnese. Depois pensamos nos detalhes da cirurgia: será um implante imediato com extração envolvida? Vai precisar de enxerto ósseo? Serão vários implantes com uma incisão e retalho grandes ou apenas um unitário? Você tem possibilidade de realizar uma abordagem “flapless” (sem retalho)? Perceba que são muitas variáveis.

Alguns profissionais utilizam antibióticos em todos os casos de implantes, principalmente, se utilizarem anti- inflamatórios esteroides. Outros não utilizam em cirurgias menores unitárias em pacientes sem problemas sistêmicos.

Uma outra discussão que vem ganhando destaque é a quantidade de dias que os pacientes tomam antibióticos. A posologia mais comum é aquela que o paciente toma o remédio por 7 dias. Segundo alguns estudiosos do assunto, esse tempo de 7 dias não é baseado em estudos, mas em aspectos culturais.

Sete são os dias da semana, ou o tempo de intervalo que os médicos levavam para ir ao Hospital visitar seus pacientes antigamente. Hoje há uma tendência de se diminuir para 5 dias o tempo de utilização dos antibióticos, baseado em estudos.

Um outro ponto importante e às vezes negligenciado é a utilização de solução de Digluconato de Clorexidina a 0,12% como solução tópica – bochecho – anterior a todos os procedimentos que envolvam cirurgia ou raspagem periodontal. Realize também uma boa antissepsia extra oral como manda o figurino. Essa proteção tópica, na maioria das vezes, é mais eficaz do que entupir os pacientes de remédios.

Mantenha-se atualizado e leia as recomendações para poder basear suas prescrições

A American Heart Association e a American Dental Association, lançam manuais online com a atualização de recomendações. Converse com colegas médicos e dentistas e consulte livros de farmacologia atualizados. Saia do automático e se atualize para prescrever sempre a melhor opção de terapia, contribuindo para diminuir as chances de resistência bacteriana, protegendo os pacientes quando eles realmente precisam.

Um Abraço,
Luiz Rodolfo

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