O uso dos biocerâmicos na Endodontia

Na Endodontia existe a constante busca por materiais ou biomateriais que nos ajudem a prevenir ou tratar uma lesão perirradicular, ou controlar a infecção e a invasão bacteriana, como os biocerâmicos.

Para que tenhamos êxito nos tratamentos necessitamos fazer um diagnóstico adequado baseado em exames clínicos, radiográficos e tomográficos.

Algumas vezes podemos ter acidentes e complicações oriundas de alguns dentes que sofreram um tratamento, mas não atingiram êxito clínico. Esses acidentes podem ser erros de acesso como perfurações de coroa, furca ou radiculares.

Ou ainda, problemas dos próprios dentes como reabsorções internas e externas, dentes com rizogênese incompleta e necrose pulpar, exposição pulpar acidental, pulpotomia dentre outros (figura 01).

Figura 01

A Endodontia, como todas as áreas da odontologia, passa por muitos avanços tanto em equipamentos como na microscopia operatória, aparelhos de ultrassons e motores endodônticos. Além da evolução dos materiais e diferentes técnicas de tratamento.

Essas inovações ajudam o clínico a poder oferecer um melhor tratamento com o objetivo de obter qualidade, saúde e bem-estar aos pacientes.

Áreas com umidade x Endodontia

Um dos grandes desafios que encontramos é quando precisamos obturar ou selar áreas que possuem um pouco de umidade. Então, o ideal é que coloquemos materiais hidrofílicos e que possam tomar presa nesses ambientes.

Foi na busca desses materiais que surgiu o MTA, que é o agregado trióxido mineral, um cimento a base de cimento Portland.

O primeiro uso de biomateriais foram como cimentos reparadores e começaram a ser comercializados nos Estados Unidos a partir de 1999 com o nome de ProRoot MTA (Dentsply).

Eles vieram com a proposta de serem biocompatíveis, bioativos, terem estabilidade dimensional, boa radiopacidade e possuírem grande capacidade antibacteriana. O seu ph alcalino era cerca de 12.

Biocerâmicos Angelus

Em 2001, a empresa brasileira Angelus começou a comercializar o primeiro biocerâmico brasileiro usado para reparação a base de cimento Portland, com o radiopacificador óxido de Bismuto, que foi o MTA Cinza. E logo em 2003, criou-se o MTA branco.

Os primeiros biomateriais escureciam os dentes por causa do radiopacificador contido em sua composição e possuíam o tamanho de partículas de 54 micrometros. Além disso, eram difíceis de se manipular e de se inserir no local desejado. Entretanto, tinham como uma vantagem o seu tempo de presa de 15 minutos.

Nos dias de hoje, a Angelus produz seu próprio clinker (cimento numa fase básica de fabrico) e não usa mais o óxido de bismuto em sua formulação. Dessa forma, seus biocerâmicos reparadores usam o Tungstato de cálcio como radiopacificador.

Outra característica desses materiais é que todas as formulações de biocerâmicos pó/líquido possuem o tamanho de partículas de 12 micrometros, o que torna mais fácil sua hidratação e aplicabilidade.

Os materiais reparadores disponibilizados pela Angelus são o MTA Cinza, o MTA branco e o MTA repair HP (high plasticity). Esse último tem um diferencial, possuir uma melhor plasticidade. O que facilita a manipulação e inserção nos locais desejados.

Todos esses biocerâmicos necessitam de uma placa de vidro estéril e espátula flexível para fazer sua manipulação, que é de 30 segundos para os MTA cinza e branco e 40 segundos para o MTA HP Repair. Tendo um tempo de presa de 15 minutos (figura 02).

Figura 02

Além destas formulações pó/liquido, a Angelus conta também com o biocerâmico que já vem pronto para uso, que é o Bio-C Repair (figura 03).

Ele é composto basicamente pelos mesmos materiais que os anteriores, porém é nanoparticulado e suas partículas têm o tamanho menor que dois micrometros. Além disso, ele utiliza a umidade dos túbulos dentinários e regiões periapicais para tomar presa.

A vantagem do uso é que ele pode ser removido de sua bisnaga com uma espátula estéril e levado direto à região de interesse. Característica bem diferente das formulações pó-líquido que necessitam de uma placa de vidro estéril e espátula para serem manipuladas.

Seu tempo de presa é de 2 horas, portanto é necessária outra sessão quando for realizar procedimentos como restaurações, por exemplo.

Figura 03

Biocerâmico Septodont

Outro biocerâmico pó/liquido disponibilizado à venda no Brasil é o Biodentine da empresa francesa Septodont (figura 04).

Sua apresentação é em cápsulas e ampolas que contêm o líquido usado para colocar dentro da cápsula (5 gotas). Ela deverá ir ao amalgamador durante 30 segundos para a mistura completa do pó/líquido.

Então, esse biocerâmico deve ser aplicado diretamente na área requerida, dando preferência para grandes áreas, pois o conteúdo da cápsula vem em bastante quantidade.

Pode ser usado não só como material reparador, mas como um substituto de dentina, sendo indicado em capeamentos diretos, indiretos ou pulpotomias.

Figura 04

Outros cimentos biocerâmicos e as regiões de uso

No Brasil, também contamos com outros biocerâmicos pó/líquido como o MTA Flow da americana Ultradent e o cimento PBS HP e HD da empresa brasileira CIMMO.

Esses cimentos biocerâmicos reparadores podem ter diferentes sinônimos como: Cimentos a base de MTA, cimentos de silicato de cálcio, cimentos biocerâmicos ou cimentos hidráulicos.

Para exemplificar as regiões de uso destes biomateriais podemos observar a figura 05.

Figura 05

Regras para aplicação dos biocerâmicos

Existem regrinhas básicas para a aplicação desses materiais reparadores que são:

  • Para conter o extravasamento do produto podem ser usados o hidróxido de cálcio em pó, sulfato de cálcio ou esponjas de colágeno. No entanto, devido a estes materiais serem biocompatíveis e bioativos se houver um pequeno extravasamento, não será um problema negativo para o êxito do caso clínico.
  • Em perfurações de furca, aplicar uma camada de ionômero de vidro como barreira mecânica antes de colocar o material restaurador.
  • Sempre leia a bula do fabricante e observe o tempo de presa inicial dos materiais para poder fazer a restauração final.
  • Não use EDTA como irrigação final. O ideal é sempre irrigar com soro fisiológico ou água destilada antes de inserir o cimento reparador.
  • Em caso de materiais pó-líquido, acrescentar mais água pode prejudicar a mistura desses materiais. E em caso de biocerâmicos prontos para o uso, o excesso de umidade também prejudica a inserção do produto (fenômeno conhecido como Wash Out).
  • Ambientes ácidos prejudicam a hidratação desses materiais e debilitam sua microestrutura, desta forma, o uso de curativos entre sessões com hidróxido de cálcio quando temos infecção é uma indicação importante.

Cimentos obturadores biocerâmicos

O primeiro conceito de cimento biocerâmico usado para obturação de canais radiculares, ou seja, um cimento de obturação utilizado com cone de guta percha, foi o MTA Fillapex (figura 6).

A empresa Angelus o comercializou em 2010.

Esse cimento passou por muitas modificações ao longo do tempo:

  • Possui 13% de MTA e radiopacificador de Tungstato de cálcio.
  • É um cimento a base de resina de salicilato.
  • Não escurece mais o dente como acontecia na formulação antiga.
  • Apresenta-se na forma de seringa com ponteiras de automistura ou duas bisnagas (base e catalizador) que devem ser dispersados em conteúdos iguais e espatulados em bloco de espatulação ou placa de vidro estéril com espátula flexível.

Vale lembrar que para a aplicação desse cimento dentro dos condutos o canal deve estar seco.

Figura 06

Em 2015, a Septodont começou a comercializar um cimento biocerâmico pó/líquido chamado BioRoot RCS (figura 07).

A proporção para mistura desse cimento é uma medida de pó e 5 gotas de líquido, e o seu tempo de espatulação é de aproximadamente 60 segundos até conseguir uma pasta homogênea. Ademais, o tempo de trabalho é de aproximadamente 10 minutos e o tempo de presa é de 4 horas.

Para realizar a obturação dos condutos com esse cimento, o canal não pode estar demasiadamente seco e sim levemente úmido, pois ele é um cimento hidráulico que precisa da umidade dos túbulos dentinários e região periapical para tomar presa.

Figura 07

Em 2016, a Angelus começou a comercializar o cimento biocerâmico Bio-C Sealer (figura 8) que é um cimento nanoparticulado com 2 micrometros de tamanho de partícula, ele é pronto para uso e feito à base de silicato tricálcico e outros componentes.

Para usá-lo após a modelagem e desinfecção do sistema de canais radiculares, a última irrigação do canal nunca deve ser com EDTA, e sim com soro fisiológico ou água destilada.

Após isso, inserimos o cimento biocerâmico com as pontas plásticas que vem junto com o produto, pode-se utilizar as brocas lêntulo pra espalhar o produto para o interior do canal radicular. Para então, inserir o cone de guta-percha correspondente ao diâmetro modelado do canal. Também, o cortamos com ponteira aquecida seguido de compactação  vertical a frio.

Figura 08

A MK Life, empresa brasileira, também possui um cimento Biocerâmico Obturador, o Sealer Plus BC.

Sendo assim, os cimentos reparadores biocerâmicos já estão consagrados na literatura, porém os cimentos biocerâmicos usados para obturação dos condutos radiculares ainda precisam de mais pesquisas e controles clínicos. Felizmente, eles têm se mostrado satisfatórios na clínica.

>> Confira mais artigos sobre Endodontia no blog

 

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